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Saque e Voleio

Top 10: as entrevistas que mais gostei de fazer em 2018

Alexandre Cossenza

29/12/2018 05h00

Desde que deixei a redação do Globoesporte.com, lá no início de 2013, tentei dar uma cara diferente ao blog. Grande parte disso estava baseado em entrevistas. Conversas que eu antes precisava postar no site e dentro de certos padrões, eu já podia publicar dentro do blog, do meu jeito, do tamanho e na profundidade que eu queria, sem distorcer ou encurtar frases dos entrevistados (embora o blog continuasse hospedado o site "global").

De lá pra cá, fora muitas entrevistas, mas nunca tantas como este ano, quando publiquei mais de 25 conversas – quase todas na íntegra. Muitas no Challenger de Campinas, outras nos cinco Futures que acompanhei in loco, sempre graças aos convites do Instituto Sports (e fica aqui um muito obrigado de coração a toda equipe do IS). Na última semana do ano, faço deste post uma pequena retrospectiva desses bate-papos, com um top 10 das minhas favoritas e contando algumas historinhas relacionadas (ou não) a elas. Rolem a página, cliquem nos links e viajem comigo nesse flashback.

10. Daniel Dutra da Silva

Gostei muito do resultado dessa entrevista com o Daniel porque ele é um dos caras mais queridos do circuito, mas várias pessoas me diziam que ele é um cara de respostas curtas, de não se alongar numa conversa. Isso é um dos grandes medos de qualquer entrevistador, por isso sempre gosto de fazer uma lista bem grande de assuntos antes de começar qualquer papo. Mas nem foi o caso com Danielzinho, viu? A conversa fluiu legal, e ele falou bem mais do que eu esperava.

Mas não foi só isso. Outra coisa que eu sempre busco nos Futures é valorizar os profissionais que jogam esse tipo de torneio. Não sou assessor de imprensa de atleta nenhum e não faço entrevista para puxar saco, mas, de modo geral, não gosto quando alguém lê algo que eu escrevi e critica o personagem (a não ser quando o entrevistado fala bobagens por conta própria – nesses casos, também não vou protegê-lo nem cortar a entrevista). Mas eu divago. Meu ponto aqui é que o fã ocasional de tênis não sabe o quanto essa turma (a maior parte dela, pelo menos) se esforça para jogar e sobreviver no mundo dos Futures.

Eu queria mostrar um pouco disso e acho que esse cenário ficou bastante claro no papo com o Daniel porque ele pôde falar da lesão que mudou de vez sua carreira e também de como ele precisa sacrificar o ranking e o planejamento de calendário para ganhar dinheiro. Ele até se emocionou no fim do papo quando falou de seu começo no tênis, de quanto tempo gastava para ir treinar e de o quanto se dedicou para estar onde está hoje, com 40 finais de Future no currículo. Leiam aqui.

9. André Sá

Não dá para fazer uma entrevista ruim com André Sá. O cidadão se expressa tão bem e tem tanta coisa para dizer que o jornalista só precisa ligar o microfone, falar um par de palavras a cada minuto e incentivar o mineiro a continuar falando. Fora isso, é comprar uma pipoquinha e curtir o show. Quando conversamos, pouco depois de ele encerrar seu período como técnico de Thomaz Bellucci, havia assunto de sobra. Tanto que optei por publicar a conversa em dois posts.

Na primeira parte, ele lembra do trabalho com Bellucci, de como os resultados não vieram e por que o rompimento aconteceu. Na segunda metade, André fala sobre seu cargo na ITF e de como uma de suas tarefas era conversar com tenistas a respeito da Copa Davis e das mudanças propostas. Discutimos a nova Davis, o que o tênis precisa fazer para buscar um novo público e até o caso Serena Williams na final do US Open.

8. Nicolás Massú

Conversei com Massú um dia depois do papo com André Sá. Uma entrevista que era para ser rápida, mas se alongou e acabou interrompida porque o chileno estava sendo chamado à quadra. Após seu jogo e a cerimônia premiação, Massú ainda tentou adiar o voo de volta para o Chile, mas sem sucesso. Ainda assim, me viu na porta da sala de imprensa, e continuamos o papo. Não tem nenhum furo ou declaração bombástica na entrevista, mas Massú deixou uma frase linda sobre as medalhas de ouro olímpicas e estar preparado "para quando o momento chegar", e também falou sobre o que herdou de seu avô, um sobrevivente de Auschwitz. Leiam aqui!

7. Pablo Cuevas

Não sou amigo nem sei da vida pessoal de Pablo Cuevas, então não posso falar exageradamente sobre o caráter do uruguaio, mas posso dizer que todas minhas experiências com ele mostraram um cara muito bacana, generoso e com senso de humor afiado. Dois anos atrás, em um Maracanãzinho abarrotado de atletas do mundo inteiro, tive a missão de última hora de conseguir algumas frases de Dolores Moreira, velejadora de 17 anos que seria a porta-bandeira uruguaia naquela noite, no desfile de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Por ser um pedido de última hora, não tive tempo de me preparar. Eu não sabia quem era a moça. Por sorte, sabia quem era Pablo Cuevas. Assim que vi a delegação uruguaia, fui na direção dele e expliquei meu drama. Ele deu um sorriso (provavelmente da minha cara de desespero), foi até o meio da arquibancada, pedindo licença a um por um (o ginásio estava lotadaço!), e trouxe Dolores – um amor de menina – até o corredor, onde eu estava.

A entrevista deste ano foi feita no Challenger de Campinas, junto com Felipe Priante, do Tenisbrasil. Cuevas falou sobre como vinha se recuperando de lesão e buscava um segundo semestre mais light, perto da família. No fim, falou lindamente sobre a inauguração de uma quadra de tênis em um presídio no Uruguai e mostrou uma enorme consciência social, conversando sobre os efeitos positivos que uma distração – qualquer distração – pode ter num grupo de pessoas enclausuradas. "Se conseguirmos que elas se distraiam e aproveitem, ficam muito mais receptivas a qualquer mensagem. Recebem informação de outra maneira. Acredito que é por aí o objetivo de ações como essas." Leiam e saibam mais aqui.

6. Fernando Romboli

Não era uma entrevista que estava nos meus planos quando cheguei a Campinas, mas acabou sendo uma das mais lidas daquela semana. E aconteceu graças a uma sugestão do leitor João Neto durante aquele Challenger. Por sorte, Romboli foi à final de duplas do torneio e tive tempo de aproveitar a ideia.

A conversa foi uma aula de Romboli sobre as finanças no circuito de duplas, que são um tanto mais complicadas do que nas simples. O prêmio em dinheiro é menor, e o número de pontos para dar o salto para os ATPs é maior. É uma zona de ranking complicada, e o carioca radicado no litoral paulista dá todos os detalhes de como faz para viajar e competir com pouco dinheiro. Leiam aqui!

5. Teliana Pereira

A conversa com Teliana foi no embalo de minha ida para o Future de Curitiba. Eu gostei muito desse encontro porque fazia muito tempo que não batia um papo com calma com a Teliana – mais por quase nunca estarmos no mesmo lugar (não gosto de fazer entrevistas longas por telefone) do que por vontade minha. E vale ressaltar que a Teliana de hoje, 30 anos, bem resolvida, mais experiente e mais acostumada a lidar com a imprensa, é muito mais legal de entrevistar do que a Teliana de anos atrás, que falava menos e tinha certos receios típicos de quem está aprendendo a navegar a fama.

O resultado foi tão bom que dividi a entrevista em dois posts. Na primeira parte, a ex-número 1 do Brasil fala de seu afastamento das quadras, de como lidou com a distância do circuito e dos seus planos para voltar – ou não – a jogar. Na segunda metade, conversamos sobre as dificuldades do tênis feminino brasileiro (poucos torneios, poucas praticantes, quase nenhum apoio, etc.) e sobre sua participação como comentarista do US Open na ESPN.

4. Marin Cilic

Um papo conseguido via assessoria do Rio Open – muito obrigado a Diana Gabanyi e sua equipe – e que era, no fundo, um dos dois que eu queria muito fazer durante o torneio (o outro era com Fernando Verdasco, que jogou simples e duplas todos os dias e, por conta disso, não rolou).

Foi um papo de cerca de 15 minutos (curto para os padrões do blog, mas muito longo para o que os top 10 costumam dar para exclusivas) e que gostei especialmente porque Cilic topou falar sobre os livros que lê e como eles afetam, direta ou indiretamente, seu tênis.

O mais legal, porém, foi uma sequência bem simples, mas que diz muito. É quando Cilic fala sobre o que pode melhorar em seu (já ótimo) saque. Mostra o quanto um cara que joga em altíssimo nível não se conforma e quer sempre mais. E não importa se vai dar para ser #1 ou ultrapassar Nadal e Federer no ranking, mas que, no fim da carreira, o cara se aposente com a consciência leve, sabendo que fez tudo que estava a seu alcance. É por isso que gente como Cilic é muito, muito admirável. Leia aqui.

3. Marcelo Zormann

Uma daquelas entrevistas que surgem do nada, quando você menos espera. Pouco antes de viajar para Campinas, soube que Marcelo Zormann iria passar um tempo afastado do circuito. Ao chegar lá, descobri o motivo: depressão. Também descobri que Zormann estava na cidade, indo ao torneio para ver e rever amigos.

Melhor do que isso: Zormann topou falar de coração aberto sobre o problema. Sem medo de reações preconceituosas, sem temer piadinhas. Conversamos nós três: ele, eu e Felipe Priante. Foi lindo. Um exemplo gigante para quem sofre com isso e tem vergonha ou medo de pedir ajuda. Zormann pediu, está encarando a situação de frente e com coragem. Leia, entenda e, se puder, compartilhe com algum amigo ou conhecido que passe por situações parecidas. Não é fácil conviver com depressão. Todo conhecimento sobre o tema deve ser compartilhado.

2. Alex de Souza

Com o tempo, o jornalista precisa perder um pouco seu lado fã. Para fazer um bom trabalho, não dá para sentar ao lado de quem quer que seja e ficar com cara de pateta, rindo de qualquer coisa que Federer ou Nadal fale. Depois de 14 anos cobrindo a modalidade, consigo fazer isso bem no tênis. Por instinto de sobrevivência, meus ídolos esportivos hoje estão no futebol, no basquete, na NFL e no rali (Nalbandian, afinal, é o maior da história 😂😂😂).

Alex é um desses caras que vi e sempre admirei nos gramados e por sua postura fora de campo. Foi o primeiro cara que quis entrevistar quando trabalhei na FIFA (um breve papo por telefone logo que ele voltou ao Brasil, em 2013) e que, para a minha sorte, se envolveu cada vez mais no tênis graças à vontade e ao talento de sua filha, Maria Mauad, que começa a se destacar nos torneios juvenis.

E foi sobre isso que conversamos durante do Future de Curitiba. Sobre a transição de ex-atleta pra pai de atleta. Como fazer, quando fazer, com quem conversar, como se comportar, etc. Admiração à parte (juro!), Alex dá uma aula no assunto. Fala sobre todo o processo e diz que seu principal objetivo é "não atrapalhar o sonho de minha filha". É um papo que todo pai de tenista deveria ler. Confira a íntegra aqui.

Aproveito para deixar um muito obrigado a Nelson Toledo, fotógrafo do Instituto Sports que acompanhou a entrevista. Bom palmeirense que é e, obviamente, fã de Alex, esteve a meu lado durante a conversa inteira e fez dezenas de fotos. Resumindo: além de uma entrevista ótima, saí de lá com a biografia de Alex, presenteada pelo craque, e imagens lindas. Não podia ser muito melhor.

1. Leo Azevedo

Salvo engano, foi minha terceira entrevista com Leo Azevedo. A primeira, feita em Flushing Meadows em 2009, quando o treinador trabalhava na USTA, já faz quase dez anos. A cada papo, aprendo mais. Desta vez, nos encontramos em Campinas e falamos sobre seu apreço pela leitura, sobre como é difícil convencer jovens a adotar esse hábito e como ele pode ser muito útil na carreira de tenista – ou de qualquer atleta.

Não é uma entrevista com declarações bombásticas, mas, modéstia à parte, é obrigatória para quem quer conhecer mais o homem a quem a CBT deu a missão de orientar duas grandes promessas do país (Orlandinho e Fernando Meligeni). Azevedo dá ricos detalhes sobre a adaptação dos dois em Barcelona, conta histórias curiosas e fala sobre o belo trabalho do Instituto Stella Demarco. Leiam aqui.

Coisas que eu acho que acho:

– Quase todos os tenistas que entrevistei este ano, incluindo Bellucci, Monteiro, Wild, Teliana e André Sá, já foram alvos de críticas feitas neste blog ou em minha conta no Twitter. Nem por isso deixam de me cumprimentar ou se negam a sentar comigo para um papo. Agradeço a todos pelo profissionalismo e pela compreensão de que tais ponderações não são ataques pessoais. No Saque e Voleio, elogios e críticas são sempre sinceros. E todos têm espaço para falar o que quiserem, sem cortes.

– Ainda neste tema, agradeço em especial ao presidente da CBT, Rafael Westrupp, que sentou comigo durante duas horas no Rio Open e conversou educadamente, trocando ideias, dando respostas e fazendo suas considerações – mesmo sabendo que discordo radicalmente de algumas de suas medidas à frente da entidade. Diferentemente de seu antecessor, vem mostrando que é possível discordar sem fazer ataques pessoais ou lançar perseguições profissionais (ou mesmo dar indiretas infantis em redes sociais).

– Espero que vocês tenham gostado de ler pelo menos 10% do que eu gostei de produzir essas entrevistas. O blog volta daqui a pouquinho, na virada do ano, já na nova temporada. Boas festas a todos e que o 2019 de vocês chegue cheio de saúde, paz, alegria e sucesso. Até daqui a pouco.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.