O arrependimento, as desculpas e a multa de Clezar
(Texto editado e atualizado às 8h45min de sábado, 16/09/2017, para incluir a informação sobre a multa aplicada ao tenista brasileiro)
Eu estava em um jantar com amigos quando piscou uma notificação no celular. Era Guilherme Clezar, querendo conversar sobre o gesto que fez durante o tie-break de sua derrota para Yuichi Sugita. Na mensagem, ele dizia que "nunca havia passado por [sua] cabeça qualquer coisa do que foi falado".
O gaúcho de 24 anos, #244 do mundo e convocado de última hora para defender o Brasil na Copa Davis após a lesão de Thomaz Bellucci (e a negativa de Rogerinho, preterido na primeira convocação), mostrava-se realmente preocupado com a repercussão, que tomou uma dimensão considerável. Meu post com o vídeo foi visto por um número considerável de pessoas e inclusive retweetado por jornalistas de outros países. A ITF, inclusive, foi procurada por veículos da imprensa brasileira interessados em saber se haveria possibilidade de punição.
Um leitor do blog, descendente de japoneses, escreveu uma carta aberta e um texto dirigido a um diretor da Wilson, fornecedora de raquetes para Clezar. João Victor Araripe, do Globoesporte.com, também manifestou indignação. O gaúcho, então, usou sua conta no Instagram para pedir desculpas.
A CBT também publicou um texto, que não caiu muito bem com os seguidores da entidade. A redação usa "interpretação equivocada" de modo a fazer parecer que foram os fãs de tênis que entenderam o gesto de forma errada. O texto dá a entender que a culpa é de quem viu e não de quem fez. Apenas agravou a situação, como é possível perceber pelos comentários de quem passou por lá.
Falei especificamente sobre esse trecho com o tenista. Clezar disse que não era esse o sentido que ele queria dar à frase. Ele apenas queria dizer que não foi sua intenção ser racista ou preconceituoso. Não tentou transferir a culpa. Como diz o texto do Instagram, ele reconheceu que "o gesto feito não condiz com atitudes de respeito, zelo, solidariedade", etc. Nas mensagens que trocamos, o gaúcho não tentou inventar justificativas. Apenas disse novamente que gostaria de pedir desculpas a todos que se sentiram ofendidos. Um por um. "Olha… eu realmente só queria poder me redimir disso, me desculpar, da maneira que fosse", escreveu.
Às 8h32min (de Brasília) deste sábado, a ITF anunciou que Clezar foi multado em US$ 1.500 por conduta antiesportiva. Segundo a entidade disse que o incidente foi relatado após a partida, e as imagens foram analisadas pelo árbitro-geral do confronto, que decidiu pela punição.
Coisas que eu acho que acho:
– Assim como registrei o gesto, deixo aqui o pedido de desculpas do atleta. Na breve conversa que tivemos (inclusive sobre outros assuntos), senti o atleta apreensivo e tive a impressão de ser um arrependimento genuíno, assim como o pedido de desculpas.
– Mesmo que o leitor não tenha a mesma impressão que eu, o que o gaúcho fez já foi mais digno do que o presidente da CBT, Rafael Westrupp, que publicou um vídeo incompatível com a postura exigida de seu cargo, apagou e fez como se nada tivesse acontecido, sem pedir desculpas a ninguém. Feio demais.
– Não é piada, juro. Numa conversa com um amigo sobre um assunto nada a ver com tênis, ele usou a expressão "fazer o Westrupp" com o sentido de fingir que nada aconteceu. A frase era algo como: "eu vou, tento e se não der certo, faço o Westrupp." É de entristecer que o presidente da entidade que rege o tênis no Brasil seja transformado em exemplos desse tipo.
– Quanto ao confronto, a situação é tensa em Osaka. A previsão é de chuva para todo o sábado, com a chegada de um tufão no domingo. As equipes se reuniriam com a ITF neste sábado para considerar as opções possíveis para terminar o duelo. Escrevo mais sobre isso e outros detalhes envolvendo CBT, Bellucci e outros temas no próximo post.
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