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Thiem e seu pacote completo garantem: Djokovic e Federer farão duelo de 'vida ou morte'

Alexandre Cossenza

13/11/2019 04h00

Na quinta-feira, Roger Federer e Novak Djokovic entrarão em quadra na última rodada da fase de grupos do ATP Finals em uma situação incomum. Quem ganhar, avança. Quem perder, volta para casa. Um triunfo do suíço provoca, além da eliminação do rival, o fim da briga pela liderança do ranking, que seguirá com Rafa Nadal. Uma vitória do sérvio significará apenas a segunda vez em 17 participações no ATP Finals que Roger não estará nas semifinais.

Há muito em jogo e, certamente, com a toda a história da rivalidade de Federer e Djokovic será um embate imperdível – e que vem, além de tudo isso, no embalo da memória recente da decisão de Wimbledon, onde o sérvio salvou dois match points no saque do suíço e arrancou uma vitória gloriosa no que foi provavelmente a partida mais emocionante de 2019.

O que provocou uma situação tão rara e intrigante ainda na primeira fase do torneio de Londres? A resposta aponta um "quem" e não o quê. O responsável atende por Dominic Thiem, 26 anos, #5 do mundo, vice-campeão de Roland Garros duas vezes e campeão de cinco torneios nesta temporada: Indian Wells, Barcelona, Kitzbuhel, Pequim e Viena.

Além de estrear no torneio derrubando Roger Federer em dois sets, o austríaco deu sequência a uma campanha já memorável fazendo tombar também o atual número 2 do mundo, Novak Djokovic. E o fez de virada, com um plano de jogo bem pensado e uma execução irretocável durante a maioria do tempo – e que incluiu uma virada que parecia impensável quando Nole tinha o momento a seu favor e sacava em 3/0 no tie-break do terceiro set.

Nesta terça, Thiem assinou uma atuação agressiva e tecnicamente majestosa, que deixou Djokovic atordoado – o sérvio disse após o jogo que "acho que não vivi tantas partidas em que o oponente vai para tudo ou nada em todos os golpes. Ele foi inacreditável e, em alguns momentos, era simplesmente incrível que ele estava espancando a bola com toda sua força e elas estavam entrando."

Não foi só no aspecto técnico, porém, que o austríaco teve seus méritos. E nem foi só pancadaria como Nole fez parecer. Thiem foi o pacote completo nesta terça-feira, na Arena O2. Taticamente, usou muito bem seu slice e com certa frequência, forçando Djokovic a gerar potência na bola e ousando o sérvio a arriscar. Na maioria do tempo, o #2 foi conservador, apenas prolongando os ralis, e isso permitiu que Thiem – aí, sim – enfiasse a mão na bola e colocasse o veterano freneticamente na defensiva.

Também houve mérito mental na mais improvável das horas. No terceiro set, Thiem sacou em 6/5 após um péssimo game de Djokovic. Era a hora de aproveitar e martelar o último prego, mas o austríaco sentiu o momento. Jogou mal, perdeu o saque e, além disso, cedeu dois mini-breaks e 3/0 para o favorito no tie-break decisivo. Djokovic, certamente, não desperdiçaria a chance. E, de fato, não desperdiçou. Thiem arrancou a vitória à força, voltando a jogar seu tênis agressivo, recuperando os mini-breaks e abrindo 6/4 e saque.

Nos últimos dois pontos, mais uma demonstração de força do mais jovem. Depois de ver o Hawk-Eye lhe negar por um fio de cabelo um ace no primeiro match point, Thiem foi vítima de uma devolução funda de Djokovic e perdeu o ponto. Nole, então, tinha 5/6 para empatar o game, mas o austríaco tinha uma última arma no arsenal: uma devolução funda – logo o melhor golpe do rival – lhe deu a vantagem no rali e, pouco depois, a vitória: 6/7(5), 6/3 e 7/6(5).

Consequências para Thiem, Djokovic, Federer e Nadal

O duelo, válido "apenas" pela segunda rodada da fase de grupos, causou três alterações importantes no andar do torneio:

1. Thiem, terceiro mais cotado do grupo Bjorn Borg, já está classificado em primeiro lugar. Mesmo que perca seu próximo jogo, diante de Mateo Berrettini, terá vantagem no confronto direto sobre o vencedor de Federer x Djokovic.

2. Como citado no alto deste texto, Federer e Djokovic fazem um raro jogo de eliminação direta que coloca em disputa o incrível histórico do suíço no ATP Finals e a vontade de Djokovic de terminar o ano no topo do ranking.

3. Djokovic não depende mais de si mesmo para sair de Londres como número 1. Mesmo que seja campeão, precisa torcer para que Rafael Nadal não alcance a final. Se Nole perder para Federer, o espanhol garante sua permanência no alto da lista da ATP.

Coisas que eu acho que acho:

– Nenhuma repetição enfatizará o bastante o quanto Thiem impressionou na execução de tantos golpes agressivos nesta terça-feira. Vale, porém, ressaltar outro trecho da coletiva de Djokovic: "Eu já joguei contra ele. Conheço seu jogo. Mas o que ele fez hoje à noite foi apenas extraordinário. Eu sei que ele pode jogar em alto nível, mas hoje foi fenomenal."

– Já passou do tempo de deixarem de rotular Thiem como um tenista que "ganha só no saibro". O cidadão já tem títulos na grama, na dura e na terra batida. Este ano, venceu um Masters 1000 (batendo Federer na final) e dois ATPs 500 no piso sintético. Passemos a borracha na insistência, por favor.

– Quase sempre escrevo isso quando Thiem enfrenta Nadal no saibro, mas o comentário vale para outros duelos desse nível, não importa o piso. A devolução do austríaco, que ainda tem seus altos e baixos, tem peso enorme em seus resultados. Nos dias bons, quando consegue agredir – especialmente com o backhand – Thiem toma a dianteira dos ralis no serviço do adversário e torna-se muito, muito mais perigoso. O match point de hoje foi apenas um microcosmo do que o cidadão é capaz.

– Para não passar batido: Federer fez o esperado e derrotou Berrettini em dois sets: 7/6(2) e 6/3. Berrettini fez o que podia, mas ainda confia demais apenas em seu jogo agressivo e precisa correr riscos por mais tempo do que o recomendável. Para piorar, o italiano nunca se achou nas devoluções, fazendo pouco até nos segundos saques de Federer. Apesar do primeiro set apertado, o suíço esteve no controle das ações o tempo inteiro.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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