Thiago Monteiro: mudança por novas ideias e a vontade de jogar melhor na Davis
Alexandre Cossenza
08/10/2018 05h00
Thiago Monteiro passou a maior parte dos últimos cinco anos treinando no Rio de Janeiro, na academia Tennis Route. Enquanto esteve lá, deu um grande salto de qualidade e alcançou o melhor ranking da carreira (#74 do mundo em fevereiro de 2017). As últimas duas temporadas, no entanto, não trouxeram nem os resultados nem a evolução esperada. Para alguns – este jornalista inclusive – ficava a impressão de faltava acrescentar elementos ao jogo do cearense de 24 anos.
Até que a decisão foi anunciada em agosto deste ano. Monteiro trocou a Tennis Route pelo experiente argentino Fabian Blengino, que treinava Guillermo Coria quando este foi vice-campeão de Roland Garros (entre outros feitos) e era técnico de Agustín Calleri, ex-top 20, durante a campanha do título no ATP de Kitzbuhel. Durante o Challenger de Campinas, que cobri a convite do Instituto Sports, conversei com Monteiro sobre a mudança. Ele falou sobre a busca por novas experiências, novas ideias e de como Blengino já vem cobrando alguns ajustes.
Atual #114 do ranking, Monteiro também lembrou dos confrontos de Copa Davis em 2018 e de como acredita que deixou a desejar. Por isso, um de seus objetivos é conseguir atuar melhor ao defender o país. Segue abaixo a íntegra do papo. Role a página e veja como o cearense explica a mudança de treinador e suas intenções para voltar a subir no ranking.
Em agosto, chegou um email informando que você estava de saída da Tennis Route. Por quê? Do que você estava sentindo falta? O que buscava de diferente?
Eu fiquei na Tennis Route acho que quatro anos e meio. Fiquei um bom tempo lá, me dou super bem com todo mundo, sou super grato por tudo que eles fizeram, principalmente ao Duda [Matos], que foi meu treinador durante todo esse período, ao Alex, meu preparador físico, à toda equipe, a todo mundo que, desde o começo, me acolheu muito bem. Tive meus melhores momentos na carreira também com eles, dois anos atrás e no começo do ano passado [foi #74 do mundo em fevereiro 2017]… Alguns jogos que acabaram escapando nos detalhes e acabei que, por um momento, me pressionando mais do que precisava em certos jogos ou certos torneios. Uma pressão um pouco acima do que precisava – até acho que comentei contigo na última entrevista. Eu vinha jogando nesse nível, caí um pouco, depois no começo do ano voltei a subir, mas eu sentia que, não sei, por um pouco do desgate de relação ou pela dificuldade de estar me motivando sempre com as mesmas rotinas e fazendo esse mesmo trabalho há tanto tempo e vendo que, às vezes, alguma coisa sempre acontecia que batia na trave em certos jogos – como este ano, com o Vesely, que tive uma chance de ir bem no ATP em Istambul e escapou. Eu estava ganhando no terceiro e virou [Vesely venceu por 7/6 no terceiro set e avançou às quartas no torneio turco]. Sempre detalhes, né? Outro jogo com o Istomin, agora, tive match point, e ele acabou fazendo final de um ATP [Istomin bateu Monteiro por 7/5 no terceiro set na segunda rodada do qualifying em Kitzbuhel e terminou como vice-campeão do evento]…
Teve o jogo do Rio…
O jogo do Rio com Cuevas (risos), com match point também [primeira rodada do ATP 500 carioca deste ano]… Algumas coisas que me fizeram refletir um pouco. A gente conversou sobre essas coisas, e acabei decidindo buscar coisas novas. Querendo buscar mais motivação, querendo tentar voltar ao nível que eu estava e seguir subindo com uma equipe mais experiente, com um treinador que já estava no circuito. Agora estou com o [argentino Fabian] Blengino. Era um cara que eu já via o tipo de trabalho dele e já gostava. A gente está se encaixando muito bem agora. Já fizemos três, quatro torneios juntos e estou super motivado e super satisfeito com o trabalho. Foi mais essa busca de novas experiências, essa busca de estar com uma motivação diferente, de estar escutando coisas novas e saber que estou fazendo o máximo que eu posso para chegar no nível que eu ainda posso estar.
Quando tempo se leva amadurecendo uma ideia dessas?
É um certo tempo (risos).
Para quem está fora, pode não parecer tão importante, mas se for uma decisão um pouquinho precipitada ou se você escolhe um técnico que não é o melhor para você, especificamente, você cai de 100 para 300!
É igual à sua vida, sua carreira. Tem que ser uma reflexão, uma atitude que você realmente tem certeza que quer fazer isso. Algo que você se sinta tranquilo com isso. Da minha parte… Leva um tempo, claro. Até porque eu não sou um cara super comunicativo, de me abrir, tanto que a relação que eu tive com eles [Tennis Route] foi muito além de jogador e treinador. Realmente, era uma família. Principalmente como o Duda. Ano passado, passei o Natal com ele. Passei Páscoa com ele. Mas viajar tanto tempo, estar junto semana a semana, em semanas que são melhores e semanas que são desgastantes, acaba que depois de tanto tempo existe um desgaste, e eu sentia que não estava conseguindo a evolução que gostaria. Eu me sentia melhor jogando, mas, ao mesmo tempo, as vitórias ainda escapavam por um, dois pontos que fazem a diferença. É uma decisão super importante, mas estou bem feliz de ter dado tudo certo. Mantenho uma relação super amigável com todos, tanto que estou no Rio e ainda…
(interrompendo) Você ainda está morando no Rio?
Ainda estou no Rio. Até o final do ano, ainda estou no Rio. Tinha um apartamento lá, então…
Eu ia perguntar se você já estava adaptado em Buenos Aires e tudo mais…
Ainda não tive tempo de ir para Buenos Aires treinar porque quando fiz essa mudança, fui para o US Open, depois fui para a Europa, aí vim para cá, fiquei uma dia e meio no Rio, treinei lá na Tennis Route com o pessoal, fiz os treinos que o Blengino passou, mas com o pessoal lá. Saí pela porta da frente. Isso que é o mais importante para mim. O mundo gira rápido. O mundo do tênis é pequeno, gira mais rápido ainda. Você nunca sabe se vai precisar novamente, se vou voltar, então estou lá ainda até pelo menos o fim do ano. Depois da sequência de torneios [Monteiro vai disputar a sequência sul-americana de Challengers], paro e vejo o que vai ser melhor para mim e se mudo de vez para a Argentina ou se fico no Rio e faço temporadas na Argentina.
Ou vai para Floripa, com a Bia (risos)?
Não sei (risos).
Foi a primeira coisa que eu pensei. "Thiago está saindo da Tennis Route? Ah, vai para Floripa." [Bia Haddad, namorada de Monteiro, deixou a Tennis Route este ano e mudou-se para Florianópolis]
(Mais risos) Tinha uma possibilidade, mas acho difícil. Floripa é… É difícil a logística de sair de lá, ir viajar. Tem essa questão de logística. Quanto menos voos a gente pega no ano, melhor vai estar o corpo, mais descansado a gente vai estar, então ainda estou pensando como vai ser isso. Depois de Santo Domingo, tem uma semana sem torneios, que eu vou estar na Argentina, já treinando, já vou me adaptar às condições da academia, marcar treinos com o pessoal lá, e aí depois tem mais cinco [torneios], uns dias de descanso e pré-temporada lá.
Como foi o primeiro contato com o Blengino? O que ele falou do seu jogo? Qual foi a primeira coisa que te pediu?
Ele perguntou algumas coisas que eu gostava de fazer, como eu estava me sentindo, a gente foi treinando junto os primeiros dias só eu e ele – não treinei com outros jogadores -, ele já foi observando certas coisas, e a gente foi entrando nessa sintonia nessas quatro semanas que eu estive na Europa. Ele tem essa percepção bem legal de anos de circuito que ele já tem. Ele conta até histórias de épocas que ele estava com Calleri e com o Coria, que são bem interessantes. Ele quer que eu consiga ganhar mais quadra. Eu tenho a bola pesada, às vezes faço boas bolas, mas fico muito parado, esperando atrás. Ele acha que esse ganho de quadra vai me ajudar bem. Também está me ajudando nos ajustes. A gente está fazendo bastante saque também. É um golpe em que eu sinto muita confiança, que é um ponto forte do meu jogo, mas muitas vezes cai a regularidade, então estamos fazendo muito trabalho de saque. Mais esses ajustes, estar bem posicionado para bater. Eu tenho um pouco essa dificuldade de sair para a bola. Às vezes eu vejo uma bola muito fácil e fico mais parado. Tem que se mexer um pouco mais.
Eu ia te perguntar isso… Eu estava vendo um drill de vocês ontem. O Blengino estava mais ou menos no T, no seu lado da quadra, soltando bola para você entrar e atacar. E, às vezes, ele fazia o movimento de posicionamento. Era para isso, então?
Sim. É, de estar bem posicionado, de pegar a bola realmente confortável. Um ajuste de pernas, que é uma coisa simples, mas, ao mesmo tempo, é de muita precisão. Principalmente nas bolas fáceis. Hoje até aconteceu no treino, que eu errei uma bola realmente muito fácil. "Ah, acabou o ponto", e acaba que eu fiz a bola e tal, mas você corre um risco que é desnecessário. Às vezes, é o detalhe de um ponto, outro ponto em jogos em que isso faz a diferença. Principalmente nesse nível, que você caras saindo do quali e ganhando Challenger e ATP. O nível está muito parelho, muito competitivo. Esses ajustes finos sempre são cruciais.
Eu sei que é pouco tempo, mas já tem alguma coisa que você sente "melhorei nisso"?
Estou me sentindo muito bem. Estou realmente me sentindo mais bem posicionado para pegar essa posição de ataque e não me desequilibrando quando o cara mexe uma bola… Eu sentia que não estava me mexendo da forma correta para pegar a bola bem e realmente bater uma bola que, teoricamente, é fácil. Já me sinto melhor nessa questão. Estou sacando cada vez melhor também. Tive muitos problemas no ano passado com costas e costela, e não treinei tanto saque quanto gostaria. Em 2016, meu saque fez muita diferença. Depois, tive algumas dificuldades e não consegui treinar tanto. Agora, estou voltando a sentir essa confiança de novo com o saque e com o corpo. Estou sem nenhuma dor, me sentindo bem de novo. E é questão de confiança de jogos, de estar fazendo mais jogos durante a semana. Tênis é muito essa confiança de estar se sentindo bem, independentemente se é um trabalho certo ou não. Todos jogadores fazem preparação física, treino de quadra, cada um tem o seu jeito de fazer. Não existe fórmula mágica no tênis. É mais isso, dia após dia, estar sempre motivado e ir lá para ganhar.
Vocês estabeleceram uma meta de pontos para este fim de temporada?
Eu quero me garantir no top 100 para já entrar na chave principal do Australian Open. Acho que eu preciso de uns 100 pontos, mais ou menos. O Challenger do Rio foi cancelado agora, então são seis torneios, mais de 500 pontos em jogo. São torneios em que eu vou sair de cabeça de chave, tenho boas chances de ir bem. É tentar estar tranquilo, saber que estou me sentindo bem, que posso ganhar qualquer semana, e isso me dá bastante confiança. Ao mesmo tempo, é jogar jogo após jogo. Não pensar muito na frente. Estar sempre preparado porque o nível deste torneio está bem forte.
E Copa Davis? Como você sentiu o seu nível este ano?
Eu tive um bom jogo, que eu me senti realmente bem, que foi contra o Giraldo [Monteiro venceu por 6/1 e 6/2]. Ao mesmo tempo, ele estava um pouco fora de ritmo, voltando, mas foi um jogo que eu não dei espaço para ele e joguei muito bem. O outro jogo, contra o Daniel Galan, era um jogo que eu me pressionei muito, sabia que tinha essa responsabilidade de ganhar. Ao mesmo tempo, já não me senti bem no dia anterior. Tinha muito essa questão mental, e não foi um jogo que eu joguei bem. João [Zwetsch] e toda equipe também buscaram me ajudar sempre, mas era algo que eu pensei de uma forma errada e que não precisava [Galan venceu por 6/3 e 6/3, forçando o quinto jogo. A Colômbia venceu o confronto por 3 a 2, com Alejandro González derrotando João Sorgi na partida decisiva]. Era mais um jogo de tênis. Claro, era Copa Davis, que é muito importante, mas se eu estivesse tranquilo e jogasse o nível que joguei com o Giraldo, a gente teria muita chance de levar esse confronto. Mas eu não joguei bem esse jogo. E na República Dominicana, foi uma semana complicada porque eu tinha parado uns três, quatro dias antes. Estava com um pequeno estiramento na coxa. Tive bons treinos lá até, mas era muito diferente treinar e jogar. Condições muito rápidas, a quadra tinha um remendo ali na frente. A bola picava de um jeito e vinha lenta, a bola picava do outro lado e vinha rápida. Condições estranhas, o jogo nivelado por baixo mesmo. O cara jogou bem, o Hernandez teve os méritos dele [Monteiro perdeu o quarto jogo do confronto pot 6/4 e 7/6 para Jose Hernandez-Fernandez]. Ele tem bons dias, quando joga bem, só que é um cara bem inconsistente durante o circuito. Às vezes pode jogar nível top 100, às vezes pode jogar nível 600. Nesse dia, ele estava bem, foi um confronto duro, decidido no quinto ponto, com o Sorgi. Felizmente, ele conseguiu ganhar. Mas eu acho que ainda dá para subir bastante nesse quesito de jogar bem na Copa Davis. É o que eu espero para o próximo ano. A gente vai ter a oportunidade de jogar esse novo formato…
Gostou do formato?
É diferente.
Quem fala "diferente" é porque não gostou (risos)…
É porque eu joguei algumas Copas Davis, mas nunca joguei em casa. Peguei seis confrontos e nenhum em casa (risos). Então eu ainda não tive essa sensação de estar com uma torcida atrás de você, realmente te empurrando, e realmente viver esse clima de Davis, que dizem. A gente teve, nos confrontos fora, mas sempre do lado oposto. Agora a gente vai ter a chance de jogar em casa contra a Bélgica. São cinco jogos, melhor de três, e vamos ver. Vai ser ruim a questão de não poder mais jogar em casa [nas finais do Grupo Mundial]. Vai ser sempre uma semana no mesmo lugar, uma final neutra. Vai ser uma experiência diferente.
Você prefere três sets?
É, melhor de três sets, sim. Eu gosto de jogar cinco sets, nunca tive problema físico, nunca tive cãibra, essas coisas. Gosto de jogar nas condições mais quentes, mais abafadas, mais úmidas possíveis… Aqui [Campinas] está muito bom (risos). Sempre torcia para, quando jogasse, ser no Rio. Mesmo quando era juvenil, nas condições mais quentes eu sentia que o cara ficava mais cansado e eu conseguia… Foi até o que aconteceu com o Tsonga um pouco também (risos). Ele sentiu o cansaço… [Monteiro eliminou Jo-Wilfried Tsonga na primeira rodada do Rio Open de 2016].
Acho que ele subestimou as condições…
(mais risos) Mas em três sets o jogo fica mais equilibrado, melhor, e as chances são mais parelhas para as duas equipes. Fica mais interessante.
Para terminar: quem é seu candidato para presidente e por quê?
Na verdade, eu não tenho opinião formada, não estou por muito dentro da política, não saberia por que eu votaria em tal pessoa. Realmente, é complicado. Pelo menos para mim, estou sempre viajando, preocupado com um milhão de coisas sobre carreira e família, não sei o quê… Política é, óbvio, um assunto extremamente importante, mas eu não saberia te dizer. Não para evitar polêmica nem nada, mas é porque realmente não tenho opinião formada.
Sobre o autor
Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org
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