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O erro não forçado do canal Sony com a WTA

Alexandre Cossenza

23/10/2017 13h32

O início de 2017 foi animador para as transmissões de tênis feminino no Brasil. O canal Sony adquiriu os direitos de exibição dos WTAs, que até então pertenciam ao Bandsports, e começou a temporada em alta. Com dois comentaristas de peso em Larri Passos e Jaime Oncins – Vanessa Menga também fez parte da equipe – e um narrador competente no jornalista Cesar Augusto, o Sony deu uma sacudida interessante (e até necessária) nas coisas.

O pacote era parecido com o do Bandsports, com as transmissões começando quase sempre na segunda metade da semana, mas o Sony levou equipes para Indian Wells e Miami, encaixou entrevistas exclusivas nos intervalos dos jogos e habilitou a função SAP. Assim, quem quisesse ouvir em inglês, frequentemente com ex-tenistas famosas nos comentários, tinha essa opção. A recepção do público foi boa.

Não dá para enfatizar o bastante: Larri e Jaime fazem uma diferença gigante. O primeiro, ex-Guga, também foi um dos raros brasileiros a trabalhar no principal nível do tênis feminino nas últimas décadas. O segundo, além de brilhante tenista, sempre se mostrou um excelente comentarista. Em todos canais por onde passou, deixou boas impressões. Preciso nas análises e sem fanfarronices.

E foi assim, durante boa parte do ano, que o Sony tocou suas transmissões. A coisa começou a desandar quando o circuito feminino chegou à Ásia. O canal decidiu mostrar jogos em VT. O público não gostou. Faltou, por parte dos tomadores de decisão, a compreensão de que tênis, especialmente mostrado em TV a cabo e num canal que não é de esportes, é uma atração de nicho.

Um nicho que acompanha placar em tempo real nos aplicativos, que abre o Twitter para ler notícias e comentários, que sabe quem foi a campeã de New Haven em 2011 e que conhece o ex-marido da tia da número 38 do mundo. Um nicho que quer ver tênis ao vivo e topa ficar acordado de madrugada para isso. É um nicho, afinal, que sabe que a WTA não está num canal de esportes.

Faltou também flexibilidade. Bia Haddad Maia, brasileira em ascensão e fazendo jogos importantes, passou longe do canal. O Sony não mostrou sua partida contra Venus Williams em Miami nem o duelo com Garbiñe Muguruza em Cincinnati. E foi um ano brilhante da brasileira, que disputou sua primeira final de WTA. Foi em Seul, contra Jelena Ostapenko, campeã de Roland Garros, mas o Sony optou por exibir o WTA de Tóquio (em VT) naquela semana. Não houve adaptação aos interesses locais.

Mas o grande erro não forçado mesmo veio nesta semana. Neste domingo, dia 22, começou o WTA Finals, em Singapura. É o grande evento da WTA, com as oito melhores tenistas da temporada. O número 1 do mundo está em jogo. É o principal torneio do pacote do Sony. No entanto, ainda não consta na grade do canal. Segundo Cesar Augusto informou em sua conta no Twitter, as transmissões começarão na quinta-feira. Até lá, o fã de tênis terá perdido oito jogos. São dois terços da fase de grupos. Uma falha feia que o Bandsports não cometia.

A coisa foi tão mal conduzida e programada de forma tão insensível que neste domingo, enquanto Muguruza enfrentava Ostapenko em Singapura (um duelo entre as campeãs de Wimbledon e Roland Garros), o Sony mostrava, em VT, um jogo do irrelevante WTA de Hong Kong. Parece piada. Não é. Péssimo timing.

O que justifica "esconder" jogos tão bons? Será que algum tomador de decisão do canal desconhece o formato ou a importância do WTA Finals? Será que não compreendem o nível de descontentamento que isso causaria no espectador? Sugiro que façam uma busca nas redes sociais e vejam a repercussão. Difícil saber o motivo. Escrevi para a assessoria do canal no Brasil, e a resposta (recebida três dias após a publicação deste post) está aqui.

Por enquanto, fica apenas a impressão de que o Sony começou uma empreitada bem intencionado, mas sem o conhecimento do assunto e os meios necessários para oferecer o melhor produto possível ao espectador brasileiro. Uma pena…

Coisas que eu acho que acho:

– Toda vez que escrevo uma crítica a um canal (qualquer canal), alguém sai em defesa da instituição com o discurso de "você deveria agradecer por eles estarem mostrando tênis" ou o velho "eles estão ajudando a divulgar o esporte" e, por isso, não deveriam ser criticados. Bobagem. Ninguém mostra tênis na TV por caridade. Todo mundo tem seus interesses. E se não fosse o Sony, outro canal poderia estar exibindo a WTA no Brasil e fazendo um trabalho igualmente bom (ou ruim). Então joguemos para baixo do tapete o "coitadismo" e avaliemos as coisas como elas são. O Sony cometeu um erro não forçado gravíssimo nesse WTA Finals. Que a crítica sirva para alguém lá abrir o olho e prestar atenção no nível de satisfação de seus consumidores.

– Deixo aqui o agradecimento à memória invejável para assuntos "WTAzísticos" do Mário Sérgio Cruz, do Tenisbrasil. Foi a colaboração dele que me permitiu poupar um tempo enorme antes de escrever o parágrafo sobre Bia Haddad Maia fora do Sony. Quem gosta de tênis feminino deveria segui-lo no Twitter. O Mário, aliás, também toca o ótimo blog Primeiro Set sobre circuito juvenil e promessas do tênis. Confiram!

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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