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Saque e Voleio

Fabio Fognini: imprevisível, imperfeito e impressionante

Alexandre Cossenza

22/04/2019 07h00

Como diria Fernando Meligeni, ele nunca foi santo. Já teve inúmeros bate-bocas com árbitros e adversários, já mandou o dedo médio para a torcida e foi até expulso de um slam, com direito a "liberdade condicional" em torneios seguintes, porque chamou uma árbitra de bocchinara, entre outras coisas.

Ele também nunca foi o mais mentalmente forte dos tenistas. Com a mesma facilidade que dispara winners improváveis, ele desiste de jogos, cede viradas e vê seu ranking cair a um nível que não faz jus a seu talento. Quem nunca viu suas sequências de duplas faltas cometidas por pura má vontade de colocar os pés na posição certa?

Fabio Fognini é odiado por muitos que gostariam de ter seu talento natural, sua "mão" para colocar a bolinha onde quer, quando quer, como quer. Fabio Fognini é mal compreendido por quem vê preguiça na sua facilidade de bater na bola e na sua típica maneira de andar, quase inclinado para trás, com um jeitão "tô nem aí" que é mais jeitão do que qualquer outra coisa.

Falem o que quiserem. Quando tudo no tênis de Fabio Fognini funciona, é lindo de ver. Este vídeo logo acima – uma compilação de pontos da semifinal, da vitória sobre Rafael Nadal – poderia ter o triplo de duração e incluir lances mais impressionantes ainda.

Suas direitas e esquerdas fumegantes encontrando linhas e/ou ângulos improváveis são quase inconcebíveis. Que esses momentos aconteçam saindo da raquete de alguém que o faz sem parecer se esforçar – ou até se importar com tudo isso – é ainda mais notável.

Que tudo isso conspire para acontecer incontáveis vezes em uma semana que incluiu uma virada sobre Andrey Rublev, que tinha 6/4, 4/1 e um break point para fazer 5/1; um triunfo sobre Alexander Zverev; uma virada sobre Borna Coric, que abriu 6/1 e 2/0; e uma memorável atuação diante de Rafael Nadal seguida de um título de Masters 1000 em Monte Carlo… É quase poético.

Coisas que eu acho que acho:

– Uma coisa não anula a outra. Fabio Fognini continuará sendo talentosíssimo e, possivelmente, seguirá tendo momentos de fraqueza mental e/ou ataques de raiva e perderá jogos ganháveis. Isso só não quer dizer que o italiano é displicente e/ou mal educado e/ou preguiçoso. É preciso diferenciar os verbos ser e estar aqui. Ninguém conquista um Masters 1000 e chega ao top 20 (Fognini será #12 a partir desta segunda-feira) sem muita dedicação e milhares de horas de treino.

– Depois de perder a semifinal, Rafael Nadal disse que fez um de seus piores jogos no saibro em 14 anos. Levando em conta o placar (6/4 e 6/2) e seu histórico no piso, além de sua atuação, é bem possível que ele esteja certo. Seu momento vacilante depois de abrir 3/1 no primeiro set permitiu que Fognini "entrasse" no jogo e alcançasse um nível inalcançável. Depois disso, vejo mais mérito do italiano do que qualquer outra coisa.

– Não vejo motivo para grande alarme nem com o incomum revés de Nadal nem com os resultados recentes de Novak Djokovic (segunda rodada em Indian Wells, oitavas em Miami, quartas em Monte Carlo). No fundo, o que mais importa para ambos é Roland Garros. Não vejo – ainda – motivo para não considerá-los como principais candidatos ao título em Paris.

– A série "15 Anos do Boicote" volta amanhã, terça-feira.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.