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Título do ATP Finals foi mais uma expectativa cumprida por Alexander Zverev

Alexandre Cossenza

20/11/2018 05h00

Mais um ano, mais um passo adiante. Alexander Zverev é amplamente considerado o "NextGen" herdeiro da geração de Federer, Nadal, Djokovic e Murray. O alemão de 21 anos ainda não foi longe o bastante nos slams para postular imediatamente a liderança do ranking, mas vem dando passos à frente aos poucos. Foi o que aconteceu na última semana, quando Sascha conquistou o título do ATP Finals, derrotando Roger e Nole em sequência.

E olha que foi uma semana que começou com polêmica. Uma reclamação sobre calendário que soou como mimimi de adolescente para o mundo do tênis, ainda mais depois das declarações de Federer, Tim Henman, Yevgeny Kafelnikov, Bruno Soares e Jamie Murray sobre o assunto. Zverev ainda tem muito a aprender sobre o circuito e minúcias que vão além de "quantos pontos isso vale?", "quanto dinheiro vou ganhar com isso?" e "quanto tempo vou poder passar nas Maldivas este ano?"

Contudo, se cometeu um erro não forçado na sala de coletivas, Zverev falou alto dentro de quadra. Primeiro, com uma atuação extremamente sólida diante de Roger Federer na semifinal vencida por 7/5 e 7/6(5). A destacar, seu desempenho junto à rede, muito mais eficiente do que em ocasiões anteriores, e sua capacidade de lidar com os muitos slices do suíço. O alemão teve paciência para se abaixar sempre que necessário e não exagerar, sempre devolvendo, colocando a bola em jogo, buscando o backhand do suíço, que ameaçou muito pouco durante a partida.

É preciso destacar também a brilhante postura para encarar as vaias injustas de fãs de Federer incomodados com um ponto que voltou durante o tie-break – um dos boleiros deixou uma bola cair no chão, e Zverev apontou para a bola, pedindo que o ponto fosse interrompido e disputado novamente, como mandam as regras. Com o microfone, Zverev pediu desculpas que não precisava pedir, explicou o que aconteceu e lamentou. Levou mais vaias. Poderia ter deixado a quadra e evitado passar mais tempo naquele ambiente hostil que veio justamente em uma das maiores vitórias de sua carreira, mas ficou lá e completou a entrevista, mesmo sem clima para isso (veja acima).

Voltou à quadra no dia seguinte e emendou um enorme triunfo com uma vitória sobre o melhor tenista do ano, um Djokovic que fazia um torneio impecável. No domingo, Zverev encarou o número 1 do mundo golpe a golpe, rali atrás de rali. Errou pouquíssimo, não se afobou diante da solidez do sérvio, esperou os momentos certos para atacar. Aproveitou-se de um momento ruim de Nole no fim do primeiro set. Começou a segunda parcial com uma quebra. Teve um momento de fraqueza – o segundo game do segundo set – mas reagiu com outra quebra em seguida. Mostrou respostas para tudo e lançou perguntas que Djokovic não conseguiu responder. Game, set, match, Zverev: 6/4, 6/3.

Coisas que eu acho que acho:

– O título do Finals significa que o 2019 de Zverev vai ser arrasador? Não necessariamente, e o 2018 de Grigor Dimitrov está aí para provar isso (mesmo que o título do búlgaro em Londres/2017 tenha vindo em circunstâncias menos exigentes). Por enquanto, a conquista na capital inglesa é o que é: um grande título, o maior de sua carreira, e um passo adiante.

– Derrotar Federer e Djokovic em sequência é uma prova da influência de Ivan Lendl? É fácil aproveitar a maré e dizer que sim, mas não dá para medir isso sem acompanhar o trabalho no dia a dia. Por enquanto, fiquemos com o que Zverev disse após a final: "Ele [Lendl] analisou a partida que fiz contra [Djokovic] uns dias atrás e me disse algumas coisas que eu precisava fazer diferente. Eu fui mais agressivo hoje. Tentei pegar a bola mais cedo. Esse tipo de coisas. Mas meu pai é que me deu a base. Meu pai foi quem me ensinou o tênis. Sou muito grato a ele por isso. É claro que o Ivan, com a experiência que tem dentro e fora de quadra, é incrível. Isso me ajudou, também, a fazer as duas partidas que fiz em sequência agora."

– Chamar o título do Finals de "expectativa cumprida" pode soar cruel com Zverev, mas é o que é. Com o tênis que é capaz de apresentar, o alemão justifica toda a badalação. Há quem chame isso de pressão e diga que atrapalha. Há quem considere isso um privilégio.

– A final me pareceu uma partida bem competente de Djokovic. Faltou, porém, aquele algo a mais que sempre se espera de alguém como ele, Federer e Nadal. Faltou inspiração. Contra esse Zverev, era preciso mais.

– Se Zverev termina 2018 em quarto lugar no ranking da ATP (6.385 pontos) e não acima de Federer (6.420) e Nadal (7.480), a culpa está nas campanhas que fez nos slams. O alemão decepcionou em Melbourne (terceira rodada, eliminado por Chung em cinco sets, com 6/0 no quinto), Wimbledon (terceira rodada, superado por Gulbis em cinco sets, com 6/0 no quinto) e no US Open (terceira rodada, derrotado por Kohlschreiber em quatro sets). Mesmo em Roland Garros, onde alcançou as quartas e caiu diante de Thiem, Zverev deixou a desejar. Fez jogos de cinco sets contra Lajovic, Dzumhur e Khachanov, com seu nível de tênis oscilando demais. Melhorar nos slams é o próximo passo a dar.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.