Topo

Saque e Voleio

Federer mostra nível mais alto, mas não o bastante para bater Djokovic

Alexandre Cossenza

03/11/2018 16h07

No começo da semana, escrevi que Roger Federer vem fazendo uma bela temporada, mas longe de jogar seu melhor tênis. Naquele texto, afirmei que o Masters 1000 de Paris seria um grande desafio para a "margem Federer", ou seja, sua capacidade de seguir vencendo sem grandes atuações. Pois depois de um triunfo por WO, uma vitória pouco empolgante sobre Fabio Fognini e um ótimo jogo diante de Kei Nishikori, o grande desafio – o maior do tênis atual – se apresentou neste sábado, na semifinal contra Novak Djokovic. O resultado? Uma vitória do sérvio por 7/6(6), 5/7 e 7/6(3), em 3h02min.

O placar final, porém, não diz tudo. Paris viu um belo Roger Federer em quadra. Vulnerável no serviço durante a maioria das partidas recentes, o suíço sacou bem neste sábado – principalmente quando precisou salvar break points – e conseguiu conter o estrago que as devoluções de Djokovic normalmente fazem. Roger também esteve sólido o bastante do fundo de quadra. Perdeu a maioria dos ralis, mas conseguiu agredir o suficiente para conseguir ir à rede e não ficar preso atrás da linha de base o tempo inteiro. Somando isso com interessantes variações de velocidade – o slice foi fundamental – Federer equilibrou o set inicial e forçou o tie-break depois de salvar cinco break points.

Djokovic, entretanto, era o melhor em quadra na maioria do tempo. Além de pressionar o saque do oponente, confirmava o seu sem grandes dramas. O sérvio era superior na maioria dos ralis e, se não conseguiu a quebra para matar o set inicial antes foi porque vacilou em algumas chances. Na maior delas, porém, foi a sorte de Federer que fez a diferença, com um voleio de aro que evitou uma quebra (veja no vídeo abaixo).

O tie-break foi duríssimo, com Federer obtendo mini-breaks e Djokovic se recuperando. O suíço encaixou dois ótimos saques para sair de 4/5 e fazer 6/5, mas, na hora crucial, seu backhand fraquejou. Uma madeirada com Nole sacando em 5/6, um slice de devolução na rede no 6/6 e outra madeirada no 6/7. Game e primeiro set, Djokovic: 7/6(6).

A segunda parcial foi ainda mais equilibrada, graças especialmente ao ótimo aproveitamento de primeiro saque do suíço (73%). Ambos tenistas salvaram break points nos dois games iniciais e, a partir de então, passaram a confirmar seus serviços sem sustos. O jogo ganhou em drama ao se aproximar do fim da parcial. E foi aí que Federer brilhou. No 11º game, encaixou uma direita na linha para salvar um break point. No 12º, depois de três erros seguidos do sérvio, disparou uma paralela de forehand para conseguir a primeira quebra do jogo e fechar a parcial em 7/5.

No terceiro set, Federer apresentou sua versão mais perigosa: cheio de confiança, arriscando (e acertando!) bolas de direita e esquerda (veja o vídeo acima) e sacando ainda melhor (77% de primeiro serviço). Além disso, o suíço começou a parcial com o saque, o que sempre deixava Djokovic pressionado. O sérvio voltou a ter chances de quebra, mas, novamente, a sorte ajudou Roger quando uma direita tocou na fita e morreu do lado de Nole.

Federer salvou todas as dez chances de quebra que Nole teve até o começo do terceiro set, e o campeão de Wimbledon e do US Open mostrava frustração com as chances não convertidas. Quando o placar mostrava 4/4, Djokovic teve mais dois break points, e Federer mais uma vez se salvou. Dessa vez, o sérvio descontou a raiva destruindo uma raquete.

A partida só não teve nível alto no tie-break decisivo, quando Federer deu dois mini-breaks de graça, errando uma direita e cometendo uma dupla falta. Djokovic, que sacou gloriosamente bem em todo o terceiro set (79%) aproveitou, abriu 6/1 e fechou pouco depois, em 6/3.

Coisas que eu acho que acho:

– Se você não leu o post linkado no alto deste texto, vale lembrar: na última semana, na Basileia, Federer teve o saque quebrado 13 vezes em uma chave com Krajinovic, Struff, Simon, Medvedev e Copil. Hoje, contra Djokovic, o suíço salvou todos os 12 break points que enfrentou. Às vezes com sorte, é verdade, mas encaixando o primeiro serviço na maioria dessas chances de quebra. Uma atuação muito mais próxima do Federer que nos acostumamos a ver ao longo dos anos.

– Importante lembrar, apesar de estar amplamente noticiado desde o começo da semana. Novak Djokovic será o número 1 do mundo a partir da próxima segunda-feira.

– Em confrontos diretos, Djokovic agora tem 25 vitórias contra 22 do suíço. O último triunfo de Federer sobre o sérvio aconteceu em 2015, na fase de grupo do ATP Finals. Desde então, os dois se encontraram na final daquele mesmo torneio, no Australian Open de 2016, e no Masters de Cincinnati de 2018. Djokovic venceu oito dos últimos dez duelos.

– A essa altura, é sempre bom lembrar: Djokovic fará a final do Masters 1000 de Paris contra o russo Karen Khachanov, que eliminou, em sequência, John Isner, Alexander Zverev e Dominic Thiem. A partida está marcada para não antes das 15h locais. O SporTV3 vai mostrar ao vivo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.