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Saque e Voleio

Masters de Paris é desafio para a 'margem Federer'

Alexandre Cossenza

31/10/2018 05h00

Roger Federer tem 44 vitórias e sete derrotas na temporada de 2018. O suíço foi campeão do Australian Open, dos ATPs 500 de Roterdã e Basileia, e do ATP 250 de Stuttgart. Ocupou o posto de número 1 do mundo no primeiro semestre e hoje é o terceiro do ranking. E, ainda assim, com todos esses feitos, é quase consenso no mundo do tênis que Federer não vem jogando seu melhor tênis. Longe disso. Bem longe do que mostrou no ano passado.

Não há nada de errado nesse cenário. É que Federer é tão… Federer (!) que as expectativas são as maiores possíveis. Pode não ser justo exigir tanto de um senhor de 37 anos, mas o suíço não é um veterano qualquer. Trata-se de um vencedor de 20 slams que no ano passado conquistou quase tudo que disputou quando esteve fisicamente bem. Entretanto, expectativas à parte, é inevitável notar que falta algo em relação ao ano passado.

Reveses como os que vieram diante de Kokkinakis (Miami), Coric (Halle e Xangai), Anderson (Wimbledon) e Millman (US Open) deixaram claro esse "algo" que falta. Um "algo" que variou durante 2018. Às vezes, faltou saque. Às vezes, velocidade nas pernas. Às vezes, precisão. Houve até o incomum episódio do calor no US Open. E faltou até nas vitórias. Em Indian Wells (Coric), em Halle (Paire, Ebden, Kudla), em Xangai (Madvedev, Bautista Agut) e na Basileia (Krajinovic, Struff, Simon).

Se venceu tantos duelos jogando assim, é porque o suíço ainda é muito superior. É o que chamo de "margem Federer". É o quanto ele consegue triunfar longe de jogar o esperado. E é essa margem que será testada nesta semana, no Masters de Paris, se Federer não mostrar na capital francesa algo muito melhor que exibiu na última semana, na Basileia.

(Parágrafo atualizado às 11h50min após o anúncio da desistência de Milos Raonic) Sua campanha começaria nesta quarta, contra Milos Raonic, mas uma lesão no cotovelo do canadense deu ao suíço uma vaga direta nas oitavas de final. Logo, Federer pode estrear contra Fabio Fognini, encontrar Kevin Anderson (ou Kei Nishikori) nas quartas e fazer uma semifinal contra Novak Djokovic (ou, quem sabe, Marin Cilic). Está longe de ser a chave dos sonhos de alguém. Por outro lado, diferentemente do que aconteceu na Basileia, o Masters de Paris será um torneio para medir e apurar com precisão onde estão o nível do tênis e a "margem Federer". Vai ser interessante acompanhar.

Coisas que eu acho que acho:

– Na última semana, Federer contou que sofreu uma lesão na mão direita no começo da temporada de grama e que foi algo que o incomodou durante três meses. Embora o suíço não tenha usado (diretamente) a lesão como desculpa para nada, a revelação dá margem a uma série de perguntas. É estranho, por exemplo, que Federer, tão preocupado com seu corpo e até evitando o saibro para se poupar, tenha jogado por três meses com dores. Qual a real gravidade dessa lesão? O quanto ela incomodou nas partidas?

– Na Basileia, o suíço também disse que não tinha problemas nas costas. Ele admitiu que sacou mal em Xangai e que não conseguiu identificar o problema. No ATP 500 suíço, o problema continuou. Em cinco jogos, Federer fez 23 duplas faltas e teve o saque quebrado 13 vezes.

– Vale lembrar que o saque também deixou Federer na mão no US Open. Na surpreendente derrota para John Millman, o suíço cometeu dez duplas faltas, acertou apenas 49% de primeiros serviços (31% no segundo set!) e encarou 11 break points, sendo quebrado três vezes.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.