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A evolução de Felipe Meligeni e outras curtinhas do Future de Curitiba

Alexandre Cossenza

29/10/2018 14h59

Este texto poderia ter sido escrito depois do Challenger de Campinas, quando vi Felipe Meligeni jogar pela primeira vez desde que passou a morar e treinar em Barcelona. Lá, já era nítida a sua evolução em relação ao tenista que vi no Future de Santos, ainda em 2017. No entanto, como tive muitas entrevistas para publicar durante e depois do torneio campineiro, acabei deixando a análise de lado.

Agora, depois de ver mais atuações e a segunda final de Future na carreira de Felipe Meligeni, fico mais à vontade para constatar o quanto o paulista de 20 anos, atual #648 do mundo, cresceu desde que passou a ter a orientação do técnico Leo Azevedo e a estrutura da academia BTT, em Barcelona, à disposição – além, é claro, da experiência de torneios mais fortes na Europa.

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O Meligeni de hoje é mais sólido e encontrou uma maneira de jogar distribuindo o jogo – seus golpes são potentes o bastante para ditar o ritmo na maioria das partidas – e correndo riscos calculados. Foi assim que venceu um jogo duríssimo contra o sempre brigador e consistente Nicolas Santos ainda nas oitavas de final em Curitiba. Nicolas sacou para o primeiro set, e Meligeni precisou salvar set points antes da virada.

A regularidade de Meligeni foi testada também na rodada seguinte, contra Feijão, um ex-top 100. Ex-top 100 que caiu muito no ranking, é verdade, mas que tinha armas perigosas para jogar em Curitiba, com uma bola rápida (Wilson Championship) e numa quadra coberta, onde foi realizado o encontro entre eles, nas quartas de final. E Meligeni sacou bem, tomou a dianteira e quase não abriu portas para que Feijão reagisse (6/3 e 6/4).

Só na final, contra um sólido e confiante Francisco Cerundolo, é que Meligeni não conseguiu a combinação de potência e regularidade. Atacou muito mais do que o rival, mas deu muitos pontos de graça e acabou sucumbindo por 7/6(3) e 6/2. Importante dizer que Felipe ainda passa algum tempo reclamando de seus próprios erros – embora fale muito menos do que fazia até ir para a Espanha – e acaba dando alguns pontos de graça nesses momentos. A boa notícia é que ele sabe disso (admitiu na entrevista feita em Campinas) e vem tentando se controlar.

De modo geral, o que vejo é um jovem com um potencial animador. Um tenista que briga, que ainda tem seus altos e baixos, mas que tem golpes potentes e interessantes, além de um físico privilegiado e espírito de luta que lembra, em alguns momentos, um certo outro Meligeni. Se a evolução continuar, Felipe pode muito bem ser um dos nomes mais interessantes do tênis brasileiro a acompanhar nos próximos anos.

Curtinhas curitibanas

– Feijão fez boas apresentações. É difícil julgá-lo porque se trata de um tenista que já fez muito mais numa quadra de tênis. O que posso dizer é que gostei de vê-lo interessado e dedicado. Ganhou jogos duros contra André Miele (6/2, 6/7(4) e 6/2), que quase nunca dá pontos de graça, e Facundo Mena. O duelo contra Mena foi especialmente interessante porque Feijão começou muito mal e foi encontrando uma maneira de entrar na partida e, depois, triunfar (1/6, 6/3 e 6/4). Ele falou sobre isso na entrevista abaixo:

– Sobre o campeão, Francisco Cerundolo, tenho pouco a dizer. O jovem de 20 anos passou a maior parte do tempo provocando pontos longos e trocando bolas posicionado quatro metros atrás da linha de base. Foi campeão na base da consistência e chegou a dez triunfos seguidos (ganhou o Future de Mogi das Cruzes na semana anterior). Não sei dizer se Cerundolo tem na manga mais potência ou um jogo mais agressivo para adotar caso necessário. Em Curitiba, bastou-lhe a consistência.

– José Pereira e Daniel Dutra da Silva também fizeram bons torneios, mas fiquei com a impressão de que ambos vacilaram e deixaram escapar vitórias que lhes colocariam nas semifinais. Zé foi eliminado pelo chileno Alejandro Tabilo por 7/6(3) e 7/6(3), enquanto Danielzinho caiu diante do argentino Maximiliano Estevez por 6/3, 3/6 e 6/3.

– O Graciosa Country Clube, sede do evento, oferece uma estrutura maravilhosa. Além das quadras externas, o Graciosa disponibilizou quatro canchas cobertas para o evento. No primeiro dia de chuva, o torneio pôde realizar quatro partidas de simples ao mesmo tempo – coisa raríssima nesse nível de torneios.

– O Graciosa, aliás, recebeu muito bem o público. Entrada fácil e acesso às dependências. Nada de separar sócios e visitantes, como alguns clubes elitistas de cidade grande (e com estrutura muito inferior à do Graciosa) fazem. Clube que quer receber torneio tem que saber receber fã de tênis, sócio ou não-sócio. Em Curitiba, por exemplo, todo mundo podia frequentar o restaurante do clube. Nada de barraquinha de misto quente para visitantes…

– Por fim, deixo aqui meu muito obrigado ao Instituto Sports, que me convidou para mais um evento. A equipe inteira, além de competente, cria um ótimo ambiente para trabalho (dá até para debater política educadamente com eles – rs) e me ajuda em tudo que peço. Estaremos juntos novamente no Future de Ribeirão Preto.

Coisa que eu acho que acho:

– Tive muita coisa para ver e pouco tempo para escrever nos últimos dias. Em breve, postarei sobre o título de Elina Svitolina em Singapura e o nível de tênis jogado por Roger Federer em sua nona conquista na Basileia.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.