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WTA no US Open: onde o equilíbrio e a imprevisibilidade dão o tom

Alexandre Cossenza

25/08/2018 06h00

Equilíbrio e imprevisibilidade são duas palavras que dizem muito sobre o momento do tênis feminino. Não só pela característica do jogo em melhor de três sets, que já nasce mais sujeito a zebras, mas porque a WTA passa por um período sem alguém claramente dominante. Isso inclui a Serena Williams pós-gravidez, a consistência de Simona Halep e o brilho esporádico (e, às vezes, inesperado) de gente como Garbiñe Muguruza, Petra Kvitova, Jelena Ostapenko e outras atletas tão talentosas quanto inconsistentes.

Este US Open começa assim, sem uma clara favorita e com uma "promoção" que acabou custando caro para o torneio e os fãs americanos. O evento deu a Serena Williams, atual #26 do mundo, a posição de cabeça de chave 17 e isso, junto com um sorteio nada bom para os locais, colocou Venus em rota de colisão com a irmã mais nova numa possível terceira rodada. Num quadrante que ainda tem Simona Halep e Garbiñe Muguruza, é de se esperar que o torneio esquente logo na primeira semana.

Este post é tradicional "guiazão" do Saque e Voleio. Uma tentativa de analisar a chave, o momento de cada candidata ao título e desenhar o cenário pré-torneio. Role a página e fique por dentro.

As favoritas

É obrigatório começar qualquer post do gênero escrevendo sobre Serena Williams, a maior tenista de seu tempo. Em outras circunstâncias, a ex-número 1 seria favoritíssima. Aqui, agora, em Nova York, nem tanto. Serena é o nome com o maior potencial na chave, mas seu pré-US Open foi fraco, com derrota na estreia em San Jose e na segunda rodada em Cincinnati. Falta ritmo e falta acumular vitórias grandes. Nova York, com toda a badalação e tudo que rola fora de quadra, pode não ser o cenário mais adequado para Serena recuperar seu domínio na WTA. Maaas se isso for acontecer, saberemos logo cedo. Ela pode encontrar Venus (ou Kuznetsova ou Giorgi) na terceira rodada e Simona Halep nas oitavas. Serão sete dias que deixarão bem claro o status de Serena como postulante ao título.

Simona Halep, por sua vez, já é campeã de slam e número 1 do mundo, mas ainda não parece aposta segura em torneio algum. Sim, a romena vem sendo a tenista mais consistente da WTA há certo tempo, mas regularidade nem sempre é o bastante para ganhar slams. Ainda mais para quem pode ter duas tenistas agressivas e perigosas em seu caminho – casos de Serena Williams (oitavas) e Garbiñe Muguruza (quartas). Aqui vale o mesmo que para a favorita da casa. Ou Simona Halep mostra cedo a que veio ou deixará o torneio antes do desejado.

A terceira favorita das casas de apostas é Angelique Kerber, campeã de Wimbledon. A alemã também está longe de ser uma aposta segura neste momento, vindo de um pré-US Open duas derrotas (Cornet e Keys) em três jogos. Sua chave faz as coisas ainda mais complicadas. Kerber pode rever Cornet na segunda rodada, encarar Cibulkova na terceira e Keys (de novo!) nas oitavas. Se alcançar as quartas, pode enfrentar Garcia, Sharapova ou Ostapenko, entre outros nomes perigosos.

Correndo (não tão) por fora, parte I

Se o trio de favoritas não é tão favorito assim, existe um grupo enorme de gente que pode surpreender se conseguir encaixar seu jogo durante as próximas duas semanas. Essa turma inclui a atual campeã do torneio, Sloane Stephens, que talvez esteja no menos dramático dos quadrantes. Ainda assim, pode encontrar Azarenka na terceira rodada, Strycova/Mertens nas oitavas e Svitolina/Goerges nas quartas. Não parece o pior dos cenários para quem vem de um vice em Montreal e uma segunda rodada em Cincinnati (perdeu para Elise Mertens, que pode reencontrá-la nas oitavas em Nova York).

NEW YORK, IM BACK 🗽

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Garbiñe Muguruza, que já levantou troféus em Roland Garros e Wimbledon, também precisa entrar aqui. A espanhola não tem resultados expressivos desde o saibro parisiense, mas foi mais ou menos assim que ela foi campeã em Paris e Londres. Jogou muito quando nada indicava que isso aconteceria. Para essa história se repetir, Garbiñe pode precisar despachar Barty/Safarova na terceira rodada, Pliskova/Sakkari nas oitavas e Halep/Serena nas quartas. Aqui, só uma certeza: quem passar das quartas de final nesse quadrante vai chegar muito forte nas semifinais.

Correndo (um pouco mais) por fora, parte II

Se não dá para julgar ninguém como favoritaço, quem está um pouco atrás também tem uma chance razoável. Isso vale para Madison Keys, vice-campeã no ano passado, Elina Svitolina, que vem deixando a desejar nos slams, a talentosa Caroline Garcia, #6 do mundo, a sempre perigosa Julia Goerges (#9), a kamikaze campeã de Roland Garros/2017 Jelena Ostapenko (#10), Kiki Bertens, campeã em Cincinnati depois de derrotar Vandeweghe, Wozniacki, Kontaveit, Svitolina, Kvitova e Halep (três top 10 em sequência!), Daria Kasatkina e, por que não, Maria Sharapova. Este US Open, mais do que nunca, é o tipo do torneio em que não dá para descartar ninguém – mesmo.

Grandes pontos de interrogação

Em circunstâncias normais, Peta Kvitova e Caroline Wozniacki apareceriam com mais destaque em um post como este. Ambas, no entanto, chegam a Nova York com grandes pontos de interrogação sobre suas cabeças. Wozniacki, atual #2 do mundo, perdeu na estreia em Montreal e Cincy (Sabalenka e Bertens) e, aparentemente, vem tentando se recuperar de lesões diferentes. Ela desistiu de Washington alegando um problema na perna direita e abandonou seu jogo em Cincy por causa do joelho esquerdo. Wozniacki está em Nova York treinando e participando de eventos comerciais, mas quem sabe o quanto ela pode render quando o torneio começar?

Petra Kvitova, por sua vez, proporcionou um dos melhores jogos de Cincinnati quando bateu Serena Williams em três sets. Depois disso, perdeu para Bertens na semi (a mesma Bertens que eliminou Petra nas oitavas em Montreal) e abandonou nas quartas de New Haven por causa de dores no ombro esquerdo (a tcheca é canhota). Será que três dias de tratamento serão suficientes para que Kvitova comece o US Open em condições de disputar o título? Só vamos saber quando ela entrar em quadra.

O perigo que (quase) ninguém vê

O que não falta nesta chave feminina é nome bom solto por aí, podendo bater uma cabeça de chave em um dia qualquer. A começar por Svetlana Kuznetsova, campeã de Washington, que encara Venus na estreia. Ou a ex-top 10 Johanna Konta, que duela logo de cara com Caroline Garcia. Ou Eugenie Bouchard, que jogou tão bem no qualifying que até deixou o Instagram quase parado. Ou Belinda Bencic, que pode encontrar Kasatkina na segunda rodada.

Vale ainda lembrar de quem vem jogando bem nesta semana, em New Haven. É o caso de Mónica Puig, que passou o quali e estava nas semifinais quando abandonou sua partida contra Carla Suárez Navarro ainda no primeiro set. Foi uma cena dura de ver (mas veja assim mesmo no tweet abaixo).

Por último, fiquemos atentos à quentíssima Aryna Sabalenka, que bateu Konta, Pliskova, Garcia e Keys antes de perder para Halep na semifinal de Cincy. A belarussa estava classificada para a final de New Haven quando este parágrafo foi escrito.

Os melhores jogos nos primeiros dias

Minha shortlist tem cinco jogos, escolhidos por motivos diferentes. Começo por Svetlana Kuznetsova x Venus Williams, um duelo de veteranas campeãs do US Open que tem a russa voltando a jogar bem e a americana há um tempo sem um resultado à altura de seu currículo. Ainda no tema "campeãs do passado", ficarei de olho em Samantha Stosur (2011) x Caroline Wozniacki. A temporada da australiana não é das melhores e a consistência da dinamarquesa pode ser um obstáculo duro para Sam, mas, na pior das hipóteses, será uma partida para observar o estado físico da #2 do mundo.

Abrindo outra porta desse Ministerio del Tiempo tenístico, que tal Maria Sharapova x Patty Schnyder? A suíça de 39 anos, que teve seu melhor ranking em 2005 (!!!), passou pelo qualifying e vai estrear contra a ex-número 1. Schnyder, aliás, se tornou a tenista mais velha a entrar via quali na chave principal de um slam. Mas calma que tem outra porta que nos leva a Vera Zvonareva x Anna Blinkova. Okay, não é o mais ilustre dos jogos, mas não quero perder a chance de ver Zvonareva e seus olhos azuis, agora com 33 anos, depois de furar o quali salvando cinco match points no último jogo.

Deixando o "Ministerio", recomendo ainda Caroline Garcia x Johanna Konta, que pode ser um jogão se a britânica estiver recuperada da virose que forçou sua não-ida a New Haven.

As brasileiras

Bia Haddad Maia, atual #132 do mundo, foi a única brasileira no qualifying do US Open e acabou eliminada na segunda rodada pela canadense Françoise Abanda. A ex-top 50 Teliana Pereira, hoje com 30 anos, ocupa apenas o 709º posto no ranking. Nesta semana, a pernambucana disputou o ITF de US$ 25 mil em Braunschweig, na Alemanha. Depois de vencer dois jogos no quali, Teliana avançou até as quartas de final na chave principal e foi derrotada pela tcheca Anastasia Zarycka (#346), de 20 anos, por 6/0 e 6/3. Teliana volta para o Brasil e participará das transmissões do US Open pela ESPN.

Onde ver

SporTV e ESPN têm os direitos de transmissão. O canal da Globosat começa as transmissões às 12h (de Brasília) de segunda-feira, no SporTV3. A ESPN já vem exibindo partidas do quali e terá dois canais (ESPN e ESPN+) a partir de segunda-feira. O canal da Disney também mostra, como sempre faz nos slams, o programa diário Pelas Quadras, sempre às 19h. Além disso, a ESPN mostra o US Open também em sua plataforma online, o WatchESPN, onde será possível escolher a quadra exibida.

Nas casas de apostas

Até as casas de apostas refletem o equilíbrio pré-torneio. Serena Williams é a favorita, mas com pequena margem sobre Simona Halep e Angelique Kerber. A atual campeã do torneio, Sloane Stephens, vem ali pertinho também, em quarto lugar, à frente de Petra Kvitova, Garbiñe Muguruza e Madison Keys. Maria Sharapova ocupa a 12ª posição nessa lista, atrás também de Kiki Bertens e Caroline Wozniacki.

Leia também o guiazão da chave masculina no US Open.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.