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ATP no US Open: duas semanas que podem decidir o campeão moral de 2018

Alexandre Cossenza

24/08/2018 06h00

Desde que o Big Four começou a se desintegrar por causa de lesões ali pelo segundo semestre de 2016, um slam não tinha um cenário tão claro, com três candidatos tão bem definidos ao título. Não que seja novidade ver Rafael Nadal, Roger Federer e Novak Djokovic como principais postulantes a algo, mas em 2018 eles chegam ao US Open como vencedores dos três slams. O suíço triunfou em Melbourne, o espanhol venceu de novo em Paris, e o sérvio comeu grama mais uma vez em Londres.

O que vai acontecer nas próximas duas semanas em Nova York pode não provocar uma mudança no ranking (Nadal tem certa folga na liderança), mas vai, de certo modo, determinar o "campeão" da temporada se um dos três levantar o troféu no dia 9 de setembro. É claro que a taça também pode terminar nas mãos de outro tenista, e é este o motivo da existência deste guia. Analisar as chaves, os melhores jogos, identificar os possíveis azarões e imaginar o que pode acontecer de mais interessante neste US Open.

O "campeão" do sorteio

Com Novak Djokovic em sexto no ranking mundial, a grande expectativa para o sorteio da chave estava na posição do sérvio, que poderia encarar Nadal ou Federer já nas quartas de final. Pois o número 1 do mundo, Rafael Nadal, se deu bem aqui. Não só porque Djokovic caiu do lado do suíço, mas porque Rafa não deve enfrentar ninguém em grande fase até, pelo menos, as quartas de final.

Os principais nomes na metade de cima são Kevin Anderson, potencial adversário de quartas, e Juan Martín del Potro, que enfrentará Nadal na semi se os dois confirmarem o favoritismo. Maaaas até nisso o #1 se deu bem. O argentino deixou de jogar em Toronto por causa de dores no punho esquerdo (o mesmo que o tirou das quadras por tanto tempo) e voltou em Cincinnati, onde foi eliminado por Goffin nas quartas. Se Del Potro voltar a sentir dores nas partidas em melhor de cinco e precisar jogar só com slices, sua vida pode não ser tão longa no torneio.

Essa metade da chave ainda tem Dimitrov, Wawrinka, Raonic, Isner, Coric e Andy Murray. No papel, uma lista de nomes fortes. Na prática, Nadal só vai precisar encarar um deles (na semi). Além disso, Murray ainda não está em grande forma, e Dimitrov encara Wawrinka logo na primeira rodada. Moral da história? Nadal, campeão em Toronto e descansado após "pular" Cincinnati, é "o" favorito para chegar à final.

Federer e Djokovic: rota de colisão

Novak Djokovic e Roger Federer não estavam voando em Cincy e, mesmo assim, fizeram a final. é de se esperar que ambos estejam mais calibrados quando o US Open começar e, por isso, a expectativa é enorme para um duelo nas quartas de final. Antes disso, porém, o suíço – menos sortudo do trio – tem algumas cascas de banana para evitar. Nick Kyrgios, na terceira rodada, é uma delas. Vale lembrar que os dois disputaram oito tie-breaks em nove sets, o que deixa a margem para erro mínima para o suíço. Como se não bastasse, o oponente de Federer nas oitavas de final pode ser Fabio Fognini, que foi campeão em Los Cabos. Os dois não se enfrentam há quatro anos.

Nole deve encontrar um voo menos turbulento até as quartas. Em seu caminho estão Gasquet (terceira rodada), contra quem ele tem 13 vitórias em 14 jogos, e Pouille/Carreño Busta (oitavas). A julgar pelo que Djokovic apresentou em Cincinnati e Wimbledon, existe uma grande chance de o sérvio estar esperando por Federer nas quartas. Mas o que vai acontecer nesse jogo? Antes de o torneio começar, é justo colocar Djokovic como favorito. Não só pelo que aconteceu em Cincinnati, mas porque Federer não derrota o sérvio num slam há mais de seis anos. Porém, depois de um par de jogos duros, é possível que o suíço chegue às quartas mais afiado. É esperar para ver.

Quem corre por fora

Os primeiros nomes obrigatórios aqui são Marin Cilic, campeão do US Open em 2014, e Alexander Zverev, atual #4 do mundo. Os dois estão na metade de baixo da chave (mais uma evidência de quanto o sorteio foi generoso com Nadal) e podem se encarar nas quartas. E ambos estão em bom momento.

Cilic só perdeu para Nadal (Toronto) e Cincy (Djokovic) depois de Wimbledon. Zverev foi campeão em Washington e fez quartas em Toronto, antes de decepcionar com uma queda na estreia, diante de Robin Haase, em Cincinnati. A aposta mais segura aqui, claro, é Cilic, com um histórico melhor em slams e um momento mais favorável. Sascha segue sendo aquele potencial enorme não aproveitado nos quatro maiores torneios do circuito. Por que acreditar que pode ser diferente desta vez? Porque a chave é fácil até as quartas e porque Cilic, eventualmente, sofre aqueles tropeços inesperados (vide Guido Pella em Wimbledon). Se o croata tombar antes da hora, Zverev tem caminho livre para fazer sua primeira semifinal de slam.

Outro nome obrigatório aqui é o Juan Martín del Potro, semifinalista no ano passado em Nova York. O argentino, porém, tem a sombra da dúvida do punho esquerdo e uma chave chata, que pode incluir um duelo com Fernando Verdasco ou Andy Murray na terceira rodada, um encontro com Coric/Tstsipas nas oitavas e uma partida contra Dimitrov, Wawrinka, Raonic ou Isner nas quartas. Dureza, não?

Falando em dureza, o que dizer do quadrante de Grigor Dimitrov, o cidadão mais azarado do dia? Afinal, de que adiante ser o cabeça 8 num slam se o sorteio lhe dá Stan Wawrinka na primeira rodada, Milos Raonic na terceira e, talvez, Isner nas oitavas? É ruim para todos os nomes citados neste parágrafo, mas é justo imaginar que quem avançar vai chegar forte nas quartas e, quem sabe, na semi. Qualquer coisa pode acontecer aqui.

Os brasileiros

Não haverá representante brasileiro na chave de simples. Rogério Dutra Silva foi eliminado na primeira rodada do qualifying, enquanto Guilherme Clezar e Thiago Monteiro caíram na segunda fase. Thomaz Bellucci, que disputou a chave principal do torneio no ano passado, é hoje apenas o #311 do ranking.

O perigo que (quase) ninguém vê

Daria para copiar e colar este parágrafo em todos guiazões, mas o primeiro nome a considerar sempre é Kevin Anderson. Apesar de ser o atual #5 do mundo, finalista do US Open e de Wimbledon, o sul-africano é sempre jogado para escanteio na hora de eleger favoritos. Mas quem elimina Federer nas quartas de Wimbledon pode tirar Nadal nas quartas do US Open, certo? Ou não? Vale aguardar e observar com atenção.

Guess where #usopen

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Há outros nomes interessantes espalhados pela chave, mas com questões físicas pendentes. David Goffin, por exemplo, abandonou em Cincy com dores no ombro, mas tem um bom caminho para encontrar Cilic nas oitavas do US Open. Dominic Thiem, por sua vez, teria boa chance de encontrar Kevin Anderson nas oitavas, mas o pós-Wimbledon do austríaco vem sendo um pesadelo que inclui uma lesão no ombro e, mais recentemente, uma gripe.

Ainda vale ter em mente que Kei Nishikori pode encontrar Sascha Zverev também nas oitavas – se o japonês não se lesionar até lá – e que Andy Murray vem sendo pouco falado porque, apesar do enorme potencial de seu tênis, não convenceu ainda no seu retorno pós-cirurgia no quadril. Como se isso não bastasse, o escocês tem um caminho que inclui(ria?) Verdasco/Feliciano na segunda rodada, Del Potro na terceira e Tstistpas/Coric nas oitavas. Difícil imaginá-lo indo tão longe este ano.

Os melhores jogos nos primeiros dias

Este US Open não traz tantos jogos quentes na primeira rodada, mas compensa em qualidade o que falta na quantidade. Minha shortlist, que é bem short mesmo e feita antes de os qualifiers serem colocados na chave, começa com Wawrinka x Dimitrov, uma repetição do que aconteceu em Wimbledon, onde o suíço despachou o búlgaro na estreia em quatro sets (por pura coincidência, os dois ocupavam as mesmas posições – 63 e 64 na chave, embora com rankings diferentes).

Também recomendo fortemente Nadal x Ferrer, não porque algo indique que vai ser um duelo equilibrado, mas porque pode ser o último grande torneio da carreira espetacular de Ferrer – e basta olhar o post acima para entender o motivo. Ele já indicou que vai se aposentar ano que vem e que gostaria de viver este US Open como seu último slam.

Fora isso, seria legal que avançassem do qualifying nomes como Victor Estrella Burgos e Tommy Robredo. Sascha Zverev, Gael Monfils, Lucas Pouille, Denis Shapovalov, Stefanos Tsitsipas, David Goffin e Juan Martín del Potro estão entre nomes de peso que vão estrear contra qualifiers.

As ausências

Os desfalques são poucos para esta edição do torneio. Tomas Berdych, que já se ausentou em Wimbledon, está fora por causa de dores nas costas. Pablo Cuevas, com uma lesão no pé direito, também anunciou que não vai jogar.

Onde ver

SporTV e ESPN têm os direitos de transmissão. O canal da Globosat começa as transmissões às 12h (de Brasília) de segunda-feira, no SporTV3. A ESPN já vem exibindo partidas do quali e terá dois canais (ESPN e ESPN+) a partir de segunda-feira. A emissora da Disney também mostra, como sempre faz nos slams, o programa diário Pelas Quadras, sempre às 19h. Além disso, a ESPN mostra o US Open também em sua plataforma online, o WatchESPN, onde será possível escolher a quadra exibida.

Nas casas de apostas

Campeão de Wimbledon e do Masters de Cincinnati, Novak Djokovic é o atual favorito das casas de apostas para o título do US Open. Ele fica à frente de Nadal e Federer. O suíço, aliás, já era o terceiro depois da final de Cincy, mas está um pouquinho mais longe depois do sorteio da chave nova-iorquina.

Leia também o guiazão da chave feminina no US Open.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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