Topo

Saque e Voleio

Ponto a ponto, Nadal destruiu Del Potro mentalmente

Alexandre Cossenza

08/06/2018 12h24

O placar final – 6/4, 6/1 e 6/2 – mostra que Juan Martin del Potro não teve o que precisava para se manter no nível de Rafael Nadal ao longo dos três sets que foram jogados nesta sexta-feira na Quadra Philippe Chatrier. Até aí, tudo bem. São poucos que conseguem lidar com o espanhol no saibro por tanto tempo. O mais brilhante do dia não foi o que aconteceu, mas como Rafa se desfez do argentino, ponto a ponto.

Nadal pode derrotar um oponente de várias maneiras na terra batida. Seja agredindo com o forehand cruzado, cheio de spin, que machucou Roger Federer por tanto tempo, seja com o backhand cruzado e angulado que pune quem tenta fugir de seu forehand. O número 1 também pode ganhar na defesa, exigindo precisão dos adversários, e na cabeça, minando mentalmente o rival golpe após golpe. Foi nesta última modalidade que Del Potro se mostrou mais frágil na semifinal de hoje.

Taticamente, o primeiro set foi equilibrado. Delpo agredia com sua direita e conseguia relativo sucesso. Teve três break points no começo, mas não aproveitou. Teve mais três chances de quebra no nono game, e foi aí que a coisa começou a desandar. Nadal se salvou e, uma passada de backhand e um forehand vencedor depois, teve dois break points. Converteu, fez 6/4, fechou o set e jogou uma bigorna na cabeça do adversário.

É nesse momento que o oponente pensa algo do tipo "eu fiz um grande set, mantive um belo nível de tênis por uma hora e agora vou precisar fazer isso por mais três horas." Enquanto o outro pensa, Nadal segue pressionando. E quebrou Del Potro mais duas vezes no segundo set. E cada game vinha com pelo menos um daqueles pontos em que ele defendia duas direitas violentas e, aos poucos, saía do fundo de quadra e aproximava-se da linha de base até encontrar a hora certa de partir para o winner. Veja alguns exemplos no vídeo acima, com melhores momentos do jogo.

Mentalmente, Del Potro foi desabando pouco a pouco. No terceiro set, até alguns ralis vencidos pelo argentino terminavam com Del Potro fazendo aquela cara de "meu deus, não consigo ganhar um ponto mais fácil do que isso?" Com o rival abalado, a tarefa ficou mais fácil para Nadal. E, ainda assim, o espanhol continuou jogando pontos longos, correndo atrás de todas as bolas. Fechando todas as frestas, sem dar um pingo de esperança a Del Potro.

A final: Nadal x Thiem

Desde Monte Carlo, eu acreditava que Dominic Thiem seria a principal ameaça para Rafael Nadal no saibro europeu e escrevi isso na época (leia aqui). Agora, um mês e meio depois, o austríaco está aí, na final de Roland Garros e com a honra de ser o único homem a bater o espanhol no saibro nos últimos dois anos (Roma/2017 e Madri/2018).

Nesta sexta, o austríaco derrotou Marco Cecchinato na outra semifinal por 7/5, 7/6(10) e 6/1. A questão agora é: ele pode bater Nadal? Claro que pode. Obviamente, uma final de Roland Garros não é um jogo de quartas de Madri, onde, além de tudo, a altitude ajuda o tênis mais agressivo de Thiem. Mas o número 8 do mundo tem os elementos para sair vitorioso – e não só tecnicamente falando.

Além de um bom saque aberto – essencial para colocar Nadal na corrida logo na primeira bola – Thiem tem canhões no forehand e no backhand e, se souber a hora de usá-los, evitando aqueles golpes de baixíssima porcentagem – que ele eventualmente tenta em momentos nada recomendáveis -, pode muito bem se impor como o principal agressor na maior parte dos ralis.

Thiem também se defende muito bem dos dois lados (e repito: isso não o transforma em um jogador defensivo), pode alongar ralis, jogando com muito top spin – o que ele faz muito bem – e exigir um bocado de Nadal. Tanto fisicamente quando em qualidade de golpes. Num dia descalibrado, Nadal pode facilmente virar vítima. É claro que isso tudo exige uma execução brilhante e por um largo espaço de tempo por parte de Thiem, mas estamos falando de derrotar Rafael Nadal em Roland Garros. É no saibro, em melhor de cinco sets. É, possivelmente, o maior desafio do tênis atual.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.