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Saque e Voleio

Os 18 sets cobraram seu preço, e Zverev caiu diante de Thiem

Alexandre Cossenza

05/06/2018 11h04

Era apenas o terceiro game do jogo quando Alexander Zverev, número 3 do mundo, levou a mão à parte de trás da coxa esquerda. Podia ser um desconforto comum, desses que acontecem quando o tenista anda não "esquentou". Não era. No segundo set, o alemão recebeu atendimento médico e teve a perna enfaixada. Não havia condições de ele competir com Dominic Thiem. Não hoje. Não depois de jogar 18 sets em quatro partidas. O austríaco, oitavo do ranking, triunfou por 6/4, 6/2 e 6/1 e avançou pelo terceiro ano consecutivo às semifinais de Roland Garros.

É bom não confundir: Thiem, que jogou três sets a menos que o rival nas partidas anteriores, não seria um adversário facilmente derrotável nem com Zverev em plenas condições. Embora o alemão tenha vencido o duelo entre eles em Madri (onde a altitude ajuda o jogo mais agressivo de Zverev), há menos de três semanas, é o austríaco que leva a melhor no retrospecto entre eles no saibro: 3 a 1.

Além disso, como escrevi no post de anteontem, Thiem tem um pacote perfeito para o saibro. É dono de um preparo físico invejável, tem bolas pesadas e com muito spin, domina a arte da deslizada e defende-se brilhantemente quando precisa (o que não significa que ele seja um jogador defensivo).

No confronto desta terça-feira, fez o que ninguém conseguiu consistentemente contra Zverev: vencer os pontos longos. Ns rodadas anteriores, o alemão, mesmo em dias ruins, podia apostar em ralis e ficar trocando bolas sem arriscar demais até o rival errar. Thiem não perde esse tipo de ponto. Quando isso ficou claro para Zverev, o jogo foi ladeira abaixo.

Afinal, hoje o alemão logo percebeu que não tinha o físico a seu favor. E se não podia contar com os pontos longos, precisava arriscar. E atacar demais no saibro contra Thiem não costuma ser um bom negócio. No meio do segundo set, quando o #3 do mundo recebeu atendimento medico, já parecia claro que não havia como mudar a partida. O austríaco, que chegou às quartas de final muito mais inteiro que o alemão, fez o dele até fechar em três sets.

Para Zverev, os 18 sets disputados em quatro partidas cobraram o preço. Se conseguiu alcançar as quartas de um slam pela primeira vez na carreira – e o fez sob constante pressão, jogando um tênis bem abaixo de seu potencial, o que tem seus méritos – faltou gás para ir mais adiante. Fica a lição para um jovem de 21 anos, cheio de talento, e que pode brigar para ser número 1 num futuro nada distante.

Coisas que eu acho que acho:

– Matematicamente falando, nem parece tão grande a diferença de três sets (18 a 15) entre o que Thiem e Zverev jogaram em Roland Garros antes das quartas de final. Obviamente, o desgaste do alemão não vem só disso. Nos três jogos de cinco sets que fez, esteve perdendo por 2 sets a 1 (e salvou match point em uma partida). Isso significa que ele jogou seis parciais com margem mínima para erro, o que provoca um desgaste mental difícil de calcular.

– Os 18 sets de Zverev significaram 11h57min dentro de quadra. Thiem passou 9h29min jogando.

– Todo mundo sabe que Thiem possui muito mais resistência do que Zverev. O austríaco, é bom lembrar, jogou quatro partidas pelo ATP 250 de Lyon na semana imediatamente anterior à de Roland Garros. Ele fez a final do torneio no sábado e estreou em Paris na segunda-feira.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.