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Saque e Voleio

Zverev x Thiem é tudo que eu quero ver nas quartas

Alexandre Cossenza

03/06/2018 11h33

Era o grande assunto no dia do sorteio das chaves: enquanto Rafael Nadal ficou "sozinho" na chave de cima, a outra metade da tabela tinha Alexander Zverev, Dominic Thiem e Novak Djokovic – o trio que mais deu trabalho ao número 1 do mundo nos torneios de saibro antes de Roland Garros. Isso significava que Zverev, número 3 do mundo, e Thiem, oitavo na lista da ATP, poderiam se encarar nas quartas de final em Paris.

Pois passou uma semana, e os dois confirmaram seu favoritismo. Na terça-feira, alemão e austríaco vão, enfim, duelar. Pode muito bem ser o melhor jogo do torneio porque coloca frente a frente o maior pacote de talento que surgiu após o Big Four contra o melhor saibrista a aparecer depois que Nadal dominou a terra batida. Zverev e Thiem têm estilos contrastantes e que mostram que é possível obter sucesso de maneiras muito diferentes.

Os dois também vivem momentos diferentes. Para Zverev, será a primeira participação nas quartas de final de um slam. O alemão finalmente quebrou a barreira das oitavas ao vencer três jogos em cinco sets – todos de virada. Primeiro, contra Dusan Ljovic. Depois, sobre Damir Dzumhur, e por último sobre Karen Khachanov. Obviamente, não é a campanha dos sonhos do alemão, mas seve para mostrar dois pontos importantes: 1) Zverev vem vencendo sem jogar bem, o que é uma característica de grandes campeões; e 2) seu preparo físico, que já o deixou na mão em momentos importantes, está em dia.

Zverev é tão talentoso e tem armas tão poderosas no que faz que pode se dar ao luxo de jogar taticamente mal e, mesmo assim, estar nas quartas. Ele tem pouco sucesso junto à rede (22/37 contra Khachanov e 29/67 contra Dzumhur) e às vezes joga atrás demais da linha de base, tentando agredir com bolas de baixa porcentagem. Mesmo assim, tem um saque enorme para salvá-lo de break points e dois canhões – forehand e backhand – que desequilibram da linha de base. Não é difícil entender como ele alcançou as quartas, ainda mais sem precisar enfrentar adversários com bom histórico no saibro.

Para Thiem, a situação não será novidade. Semifinalista em 2016 e 2017, o austríaco tem um jogo ótimo para o piso. Usa muito spin com forehand e backhand, é muito veloz, defende-se bem e, quando o saque está funcionando, é duríssimo de derrotar no piso. Neste domingo, no segundo set, encaixou 92% dos primeiros serviços. Não por acaso, fez 6/0 na parcial sobre Kei Nishikori e bateu o japonês em quatro sets. Aliás, é bom que se diga: Thiem encarou dois tenistas bons de saibro para chegar a Zverev: antes de Nishikori, precisou passar por Stefano Tsitsipas na segunda rodada.

Outra estatística importante: nas últimas duas temporadas, Dominic Thiem foi o único a derrotar Nadal numa quadra de saibro. Primeiro, nas quartas de Roma, no ano passado. Este ano, repetiu a dose em Madri, também nas quartas. E ele chega às quartas em Paris com oito vitórias seguidas. Antes do slam, foi campeão do ATP 250 de Lyon. Pode significar pouco para alguns. Para Thiem, significa sequência em quadra, algo que ele sempre precisou e que faz uma diferença especial em seu caso.

O que pode funcionar

De novo: por que pode ser um jogaço? Por causa do contraste de estilos, por causa do talento de ambos e porque há muita coisa em jogo. Thiem pode se plantar no fundo de quadra usando seu top spin e esperando Zverev atacar em bolas com pouca margem de segurança. O fato de Thiem se defender até diminui essa margem que o alemão tem contra tenistas menos velozes. Outra estratégia interessante para o austríaco pode ser o saque aberto – aproveitando que Zverev vem devolvendo saques lá no fundão – e o ataque na segunda bola, com metade da quadra escancarada.

Por outro lado, Zverev sabe, tanto por experiência própria (derrotou Thiem na final de Madri) quanto por ver com outros tenistas que o austríaco tem dificuldade quando lhe cortam o tempo. Se o alemão conseguir colar na linha de base, suas bolas retas e profundas podem diminuir o tempo de Thiem, que tem golpes de preparação longa (também por isso, encontra mais problemas em quadras duras). Zverev também não pode achar que será fácil repetir Madri. Paris não tem a altitude da capital espanhola e, neste caso específico, quanto mais lento, melhor para Thiem. A não ser que chova e a quadra fique úmida. Se isto acontecer, muda tudo.

O favorito

Na maioria das casas de apostas, Thiem é o favorito. A diferença nas cotações, no entanto, não é tão grande assim. Confira a tabela no tweet abaixo.

Coisas que eu acho que acho:

– Como já expliquei ontem, hoje, excepcionalmente, não gravarei minicast. Volto amanhã, segunda-feira, falando de Serena x Sharapova e do que mais acontecer de interessante na rodada que vai completar as oitavas de final.

– Por causa de um compromisso, não verei Djokovic x Verdasco nem Wozniacki x Kasatkina ao vivo. Se der tempo, faço um texto sobre os jogos ainda na noite deste domingo. Não prometo, ok? Agradeço aos compreensivos.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.