Com dois argentinos suspensos, órgão anticorrupção do tênis aperta o cerco
A última semana foi tensa para muita gente no mundo do tênis. Dois argentinos foram suspensos pelo órgão anticorrupção do esporte, a Tennis Integrity Unit (TIU), e há motivos para acreditar que foi só o começo de uma série de punições que serão aplicadas num futuro próximo, cada vez com mais rigor.
Para entender isso, é preciso ver os detalhes das sanções. Nicolás Kicker, número 84 do mundo, foi considerado culpado de manipular jogos (um no Challenger de Barranquilla e outro no Challenger de Padova, ambos em 2015). Foi um caso seríssimo, e a duração de sua punição ainda não foi determinada, mas ele já está proibido de entrar em torneios.
O caso de Kicker, no entanto, não é o que ilustra melhor a direção que vem sendo tomada pela TIU. Na última sexta-feira, Federico Coria (irmão mais novo de Guillermo) foi considerado culpado e será punido por não cooperar com uma investigação (entregou um celular que havia sido reprogramado para configurações de fábrica), mas também por não relatar que recebeu propostas para manipular partidas em 2015.
A pena ainda será determinada, mas a chave aqui é entender que, segundo a TIU, o "Sr. Coria não aceitou incentivo financeiro ou agiu para aceitar as propostas corruptas." Ou seja, ele está sendo punido apenas porque não reportou as propostas à TIU. E é aí que o bicho vai pegar. Se o órgão anticorrupção está mesmo disposto a punir todos que não relatarem as propostas, haverá mais anúncios em breve. Vários.
A mensagem
De certo modo, a punição a Coria vai funcionar como mensagem para os tenistas: "entreguem quem quer que faça as propostas senão a culpa vai cair sobre você." Não é exatamente fácil para um tenista dedurar alguém assim, até porque algumas vezes a proposta vem acompanhada de um "fica quieto senão você vai ter problemas" (algo como o que aconteceu comigo no vídeo deste post, em circunstâncias diferentes) e quem procura um jogador normalmente tem dinheiro e uma rede de influência com a qual não convém se arriscar.
O grande ponto aqui é que se a TIU vai continuar a apertar o cerco, é preciso que a segurança dos tenistas esteja garantida. Uma coisa é passar adiante um print de um internauta anônimo falando bobagens, puto porque perdeu dinheiro numa aposta. Outra, bem diferente e mais perigosa, é dedurar alguém cujo objetivo é ganhar dinheiro desonestamente.
Os motivos
Em todo post sobre apostas, escrevo algo parecido, mas é sempre bom explicar porque não se sabe quem vai começar a ler sobre o tema neste post. O tênis é um ambiente muito propício a mafiosos porque o prêmio em dinheiro é muito pequeno nos torneios menores. Num Future, para ganhar US$ 2 mil, o tenista precisa ser campeão e vencer cinco jogos. O incentivo para ganhar uma primeira rodada é de cerca de US$ 100. Imagine que alguém chega em um atleta oferecendo US$ 20 mil (um trocado para apostadores) para ele perder um jogo. É, certamente, tentador para um jovem que não consegue montar um calendário ideal de torneios porque não tem dinheiro.
Além disso, é muito difícil reconhecer quando alguém perde um jogo de propósito. Num esporte de tanta precisão, quem consegue apontar que aquelas paralelas que saem por um palmo não são resultado de um dia ruim, mas de uma manipulação previamente arranjada?
E não é só no resultado final de um jogo que pode estar a manipulação. Como muitas casas legítimas trabalham com apostas ponto-a-ponto, nada impede que um tenista faça uma ocasional dupla falta quando abrir vantagem num game. Basta combinar com alguém algo do tipo "vou fazer dupla falta toda vez que abrir 30/0". O apostador pode ganhar uma pequena fortuna num jogo só sem que isso afete necessariamente o placar final da partida.
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