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Saque e Voleio

Órgão anticorrupção do tênis visita torneio de Curitiba

Alexandre Cossenza

21/05/2018 08h00

A Unidade de Integridade do Tênis (TIU, na sigla em inglês para Tennis Integrity Unit) montou um pequeno escritório e acompanhou de perto o torneio Future realizado em Curitiba na última semana. A atuação de seus integrantes foi envolvida em mistério, o que, devido ao tipo de atividade da TIU, gerou todo tipo de boato envolvendo técnicos e tenistas.

A TIU, é bom explicar, é o órgão encarregado de investigar e punir pessoas envolvidas em manipulação de partidas. Suas ações também incluem educar atletas e pessoas envolvidas com o circuito mundial sobre como identificar e relatar atividades suspeitas.

Sobre Curitiba, os dois integrantes da TIU que estiveram no Graciosa Country Club ficaram instalados em uma sala separada, afastada da organização do torneio e da arbitragem. Oficialmente, nada falaram. Conversaram, sim, com tenistas e técnicos, o que gerou boatos.

Em um grupo de WhatsApp com tenistas e ex-tenistas brasileiros, comentou-se que dois atletas haviam sido chamados para uma entrevista formal (não vou citar nomes para não levantar suspeitas infundadas). Conversei com um desses tenistas, e ele afirmou que encontrou um dos integrantes da TIU no torneio, em um lugar público, e que apenas recebeu um cartão de visitas com o contato do profissional. Havia mais um tenista e um treinador no encontro. Mais uma pessoa que estava no torneio me confirmou a cena.

Além disso, a TIU afixou no quadro de programação um recado, dizendo que os jogadores interessados poderiam fazer contato por e-mail. Os dois funcionários – um homem e uma mulher – ficaram no Graciosa de segunda até sexta-feira. Por email, a assessoria de imprensa do órgão não quis dizer o motivo da visita ao torneio de Curitiba e respondeu que "a TIU não comenta os aspectos operacionais de seu trabalho."

Movimentação em Rio Preto, São Paulo e Curitiba

Curiosamente, a presença da TIU em Curitiba vem depois de uma série de incidentes relacionados à indústria de apostas no tênis constatados nos Futures de Rio Preto, São Paulo e Brasília. Nos dois primeiros, várias pessoas foram expulsas dos clubes porque estavam transmitindo placares em tempo real (torneios costumam avisar que é proibido transmitir resultados em um intervalo de até 30 segundos após o ponto).

Como já escrevi em outro post, isso acontece porque existe um delay entre o momento em que um árbitro registra o placar e a atualização nos sites oficiais. Logo, se alguém transmite a mudança de placar nesse intervalo, quem recebe essa informação tem enorme vantagem contra casas de apostas – especialmente nas modalidades de aposta ponto-a-ponto.

Em São Paulo, um desses cidadãos expulsos do Paineiras até me ameaçou, dizendo, em espanhol, que eu teria problemas se estivesse gravando ele (e eu estava, como mostra o vídeo acima – com ganho de áudio nas duas vezes em que ele faz a ameaça). Nessa ocasião, dois homens trabalhavam em conjunto. Um deles, para tentar se mostrar ambientado, levava uma raqueteira (vazia!) nas costas. Não adiantou. Ambos foram expulsos do clube duas vezes. De manhã e mais tarde, de noite, quando voltaram.

Em Brasília, o torneio foi realizado no Clube do Exército e não houve caso de gente expulsa, mas algumas denúncias sobre tentativas de manipulação de resultados foram feitas à organização durante o evento.

Coisas que eu acho que acho:

– Sobre o vídeo: na parte da manhã, quando o cidadão faz a ameaça pela segunda vez (pelas minhas costas), procuro rapidamente tirar o celular de seu alcance. Daí, a tremedeira na filmagem. Depois de ver que ele não tentaria nada, voltei a filmar.

– Sobre o vídeo, parte II: à noite, começo a filmar o mesmo cidadão depois que ele havia sido visto pela organização e tentava encontrar a saída do Paineiras. Ele demora (o clube é grande), mas quando reconhece a rampa que leva ao andar superior (da piscina), corre e sai da filmagem. Ele não voltou ao clube depois desse episódio.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.