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Saque e Voleio

Bônus de Nadal

Alexandre Cossenza

31/03/2015 08h00

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"O homem é um monstro. Ele não deu uma, não. Ele deu três raquetes. O cara é sensacional mesmo." Foi assim que Marcelo Ruschel recebeu, via WhatsApp, a notícia na voz de Bruno Soares. Lembram que uma semana atrás Rafael Nadal havia prometido uma raquete para ajudar o projeto social WimBelemDon? Pois é… Quando encontrou o mineiro em Miami, o ex-número 1 do mundo entregou logo três raquetes e três camisas de jogo. Todas peças, claro, autografadas.

"Raquete nova, último modelo, zerada, autógrafo no cabo, nome dele na raquete… Tudo. Tudo. Sensacional, cara. Fiquei até pasmo quando ele veio com três. Fenômeno. Fenômeno", contou Soares. A notícia realmente boa é que uma das raquetes já foi arrematada por R$ 25 mil – valor que logo deve entrar na soma do crowdfunding – a vaquinha virtual – Fixando Raízes promovido por Marcelo Ruschel para manter vivo seu projeto social. O fotógrafo gaúcho precisa de R$ 390 mil para comprar o terreno onde mantém as atividades do WimBelemDon. Até a manhã desta terça-feira, o total arrecadado somava pouco mais de R$ 110 ml.

Conversei com Ruschel na tarde desta segunda-feira, e o gaúcho já se mostrava muito mais otimista do que no nosso papo anterior, cerca de três semanas atrás. Com as raquetes estipuladas a R$ 25 mil cada (valor sugerido por Gustavo Kuerten) e as camisas a R$ 5 mil (uma delas também já foi arrematada), o projeto pode conseguir cerca de 25% do valor do terreno só com as peças cedidas por Nadal.

"Eu me sinto muito mais próximo do terreno. Agora já não tenho dúvida de que a gente vai conseguir".

Mas tem mais. Os dias do Masters de Miami foram generosos com o fotógrafo. Além da ajuda do ex-número 1 do mundo, Ruschel vai receber duas raquetes de Marcelo Melo, mais duas de Thomaz Bellucci e outra do uruguaio Pablo Cuevas. E Bruno Soares, o encarregado de juntar tudo isso, ainda promete tentar a sorte com Andy Murray, Novak Djokovic e Tomas Berdych. Que tenha sorte?

Não conhece a história do WimBelemDon? Leia este post e fique por dentro.
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Dentro de quadra

A simplicidade que Rafael Nadal mostrou com um projeto social brasileiro está longe daquela que foi sua marca no circuito durante tanto tempo. Até agora, o espanhol faz uma temporada irregular, com ótimas atuações separadas por um punhado de partidas medianas e até um dia desastroso como o do último domingo, que terminou em derrota para o freguês Fernando Verdasco.

Na coletiva após o jogo, Nadal admitiu que não vem jogando com a calma necessária. Os momentos de nervosismo, que não eram muitos até alguns anos atrás, foram mais frequentes do que o desejado em 2015. O resultado traduz-se em muitas bolas sem profundidade, mais duplas faltas do que de costume e erros não forçados. O primeiro saque também vem deixando a desejar, bem distante do nível que Nadal atingiu em 2010 e 2013, quando ganhou o US Open.

Há quem veja a chegada da temporada de saibro como o momento em que Nadal finalmente vai combinar seu costumeiro tênis de altíssimo nível com uma atitude mental mais estável. É preciso lembrar, porém, que o espanhol já não fez uma bela temporada no saibro europeu em 2014 nem mostrou nada de especial em 2015, quando caiu na semifinal no Rio de Janeiro (perdeu para Fabio Fognini) e foi campeão em Buenos Aires (jogando apenas contra argentinos).

Não se pode deixar de levar em conta que, talvez por opção, talvez por necessidade e mais provavelmente por uma combinação de ambos, Nadal tenta jogar um tênis muito mais agressivo hoje em dia. No saibro, ele ainda opta por um estilo de menos risco – mas nem tanto. Na quadra dura, contudo, a estratégia não funciona consistentemente desde o US Open de 2013. Até no Australian Open do ano passado, quando avançou à final, Nadal teve atuações irregulares (sim, uma bolha na mão e a lesão nas costas tiveram sua parcela de culpa).

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A grande questão que parece incomodar o ex-número 1 é um dilema antigo, vivido por tantos e tantos tenistas que tentam sair de um tênis de porcentagem para um estilo mais agressivo. Atacar mais significa errar mais e, consequentemente, dar mais pontos de graça. O ponto é que nem todos tenistas se mostram mentalmente prontos para ceder tanto a um adversário. A nova postura exige um condicionamento psicológico. A margem para dias ruins diminui, e o número maior de erros frequentemente abala a confiança (e a tranquilidade!) de um atleta.

Mentalmente, jogar um 30/30 depois de dar dois pontos de graça é bem diferente de disputar um ponto com o mesmo placar, mas sabendo que o oponente teve de lutar pelos dois pontos que conquistou. O raciocínio do atleta deixa de ser "ele não vai conseguir jogar quatro pontos nesse nível" para "já dei dois pontos de graça, não posso errar mais." Talvez não pareça tanto para quem nunca disputou um torneio. Para quem vive disso, entretanto, é uma diferença e tanto.

Já aconteceu com Jelena Jankovic e, mais recentemente, com Caroline Wozniacki, embora em medidas diferentes. Mas o quanto essa mudança de mentalidade está afetando Nadal? Só ele pode dizer. Joga a favor do espanhol algo em que ele parece acreditar cegamente, como disse em Miami, depois de ser eliminado. "Não tenho nada a perder. Neste ponto da minha carreira, já ganhei o bastante para dizer que não preciso ganhar mais, mas quero ganhar. Quero continuar competindo bem. Quero continuar tendo a sensação de que posso competir em cada torneio que jogo. Tenho a motivação para isso."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.