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Saque e Voleio

Nadal leva pneu, mas pune falhas de Thiem em jogão de 4h48min para ir à semi no US Open

Alexandre Cossenza

05/09/2018 01h17

Se existe alguém que sabe sofrer no tênis sem entrar em desespero, seu nome é Rafael Nadal, e isso ficou óbvio na noite desta terça-feira, em Nova York. Depois de ser massacrado por Dominic Thiem, #9 do mundo, na primeira meia hora de jogo, o espanhol se recompôs, equilibrou a partida e puniu as falhas de um bravo adversário que esteve a dois pontos de vencer uma partida cheia de lances espetaculares, com dois tenistas se alternando em ataque e defesa, num duelo brutal de 4h48min que terminou às 2h04min no horário local. No fim, o líder do ranking mundial fez 0/6, 6/4, 7/5, 6/7(4) e 7/6(5) para seguir vivo no torneio e avançar às semifinais do US Open.

O primeiro set foi um atropelo. Thiem acertou quase tudo que tentou, enquanto Nadal jamais esteve à vontade na quadra. O número 1 do mundo teve problemas com o peso e a profundidade das bolas do austríaco. Enquanto procurava maneiras de equilibrar o jogo, Nadal viu 13 winners do rival e disparou apenas três (além de cometer nove erros não forçados). Depois de 26 minutos, o placar mostrava 6/0 – primeiro pneu sofrido por Nadal num slam desde o Australian Open de 2015 (Berdych venceu aquele jogo por 3 a 0).

O campeão finalmente conseguiu conter o momento furioso de Thiem no começo do segundo set. Confirmou o serviço no primeiro game, ouviu a torcida apoiá-lo e equilibrou a partida, mas ainda sem ameaçar o saque do rival. Aos poucos, porém, foi calibrando as devoluções. No oitavo game, o austríaco fez seu primeiro game ruim, e Nadal aproveitou. O espanhol sacou para o set e foi quebrado na sequência, mas Thiem, com o placar em 4/5, cometeu seguidos erros para perder o saque outra vez e, desta vez, o set.

O austríaco não deixou os erros afetarem seu desempenho no set seguinte e continuou fazendo seu jogo, usando bastante spin e potência. O que fazia a diferença, contudo, era sua devolução, que ganhava pontos importantes e pressionava Nadal. O #1 salvou um break point ganhando um rali espetacular no quinto game. No sétimo, contudo, uma devolução indefensável de direita de Thiem quebrou o saque de Nadal.

O momento parecia a favor do austríaco, que jogava em altíssimo nível, mas o número 9 do mundo bobeou. Primeiro, sacando em 5/4, teve o saque quebrado depois de não aproveitar dos pontos perto da rede. No primeiro, levou uma passada. No segundo, jogou o backhand na rede. Thiem voltou a vacilar no momento mais importante do set. Com o placar mostrando 5/6, viu Nadal fazer seguidos pontos espetaculares para conseguir set points. Thiem se salvou dos dois primeiros jogando muito bem. Na sequência, contudo, errou um voleio fácil, colado na rede (veja abaixo). Nadal puniu o austríaco com uma paralela de forehand que fechou o set.

O quarto set começo com Thiem ameaçado, mas o austríaco não se mostrou abalado pelas falhas anteriores. Jogou pontos perfeitos para salvar dois break points já no segundo game e, em seguida, como continuava fazendo, encaixou uma bela devolução para quebrar o saque de Nadal. O #9 manteve seu nível lá em cima, salvando mais três break points no quinto game – outra vez, com winners incríveis em momentos delicados.

Só que Nadal manteve a pressão e, no oitavo game, finalmente conseguiu a quebra quando Thiem tentou outra paralela de backhand num break point. Desta vez, a bola saiu por poucos centímetros, o que deixou o placar empatado em 4/4. O jogo não ficou mais fácil para o #1, que seguiu pressionado e salvou break points no nono e no 11º games. Nadal vacilou mesmo foi no 12º, quando Thiem sacava com 5/6 e 30/30. Subiu bem à rede e tinha o adversário batido no fundo de quadra, mas errou um voleio fácil que lhe daria match point. Thiem venceu o ponto seguinte, forçou o tie-break e aproveitou o embalo. Venceu os três primeiros pontos do game de desempate e forçou um quinto set após 3h35min de jogo.

O quinto set foi o mais equilibrado de todos, com os dois tenistas já mostrando sinais de cansaço, mas sem deixar de bater forte na bola. Nadal conseguiu dois break points no quinto game, mas Thiem respondeu com dois pontos perfeitos. No 11º game, Thiem novamente foi enorme. Saiu de 0/40 com um ace, um saque vencedor e um uma devolução errada de Nadal em segundo saque. Depois, ganhou um ponto fantástico na rede para confirmar o serviço.

O jogo foi mesmo decidido em outro tie-break, e Nadal abriu com um mini-break ao acertar uma paralela de forehand, cometeu um erro não forçado após um longo rali para devolver a igualdade. Thiem também errou um forehand, dando novamente a vantagem ao #1. O austríaco se recuperou com uma excelente curtinha junto à rede (veja abaixo), e o placar mostrava 3/3 na virada.

No fim, foi Thiem quem errou. Sacando em 5/6, colocou Nadal para correr, mas mandou para longe um smash. Game, set, match. Nadal.

E a semifinal?

Na tentativa de defender seu título em Nova York, Rafael Nadal agora vai reencontrar Juan Martín del Potro, que bateu John Isner por 6/7(5), 6/3, 7/6(4) e 6/2. Campeão do US Open em 2009, o argentino já iguala seu resultado do ano passado em Nova York, quando foi eliminado pelo mesmo Nadal também nas semifinais. Desta vez, Delpo chega à mesma fase com apenas um set perdido – um tie-break para Isner – e vitórias sobre Donald Young, Denis Kudla, Fernando Verdasco e Borna Coric.

Coisas que eu acho que acho:

– É cruel, sim, admito, ressaltar as falhas de um tenista numa noite em que ele faz 74 winners e salva tantos break points com coragem e golpes espetaculares. Maaaaas, no fim das contas, as bobeiras no fim do segundo e do terceiro sets pesaram demais para Thiem – assim como o smash errado no match point. Infelizmente, não dá para colocar essa meia dúzia de erros não forçados e diluí-la no meio dos mais de 300 pontos disputados. É por isso que o meio do tênis usa a expressão "pontos grandes".

– Dito isso, Thiem foi brilhante durante a maior parte dessas 4h48min. Só assim conseguiria equilibrar e ameaçar o Rafael Nadal de hoje. Um Nadal que chegou ao fim do jogo esgotado, em piores condições físicas do que o adversário, mas jogando um tie-break final com a lucidez de quem tinha acabado de entrar em quadra. Fez quase tudo certo e, não fosse a "contracurta" do austríaco, teria fechado o jogo antes.

– As pessoas podem brincar (eu mesmo faço isso) e dizer que Thiem não sorri, não tem carisma, etc. e tal, mas é preciso reconhecer que o austríaco é um grande profissional. Depois de perder um jogo assim, apareceu para a coletiva, foi educado com todos e deu respostas bem dadas, sem encurtar ou apressar a entrevista. E, como Nadal disse em sua coletiva, é um tenista que faz tudo com a atitude certa em sua carreira. Sucesso não vem por acaso.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.