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Saque e Voleio

As dúvidas que ainda pairam sobre Alexander Zverev

Alexandre Cossenza

15/05/2018 09h40

Alexander Zverev tem 21 anos, o tênis mais consistente entre os tenistas da chamada # NextGen ( a nova-geração-segundo-a-ATP) e ocupa atualmente o posto de número 3 do mundo, atrás apenas de Roger Federer e Rafael Nadal. No último domingo, Sascha conquistou o título do Masters de Madri ao derrotar Dominic Thiem por 6/4 e 6/4. Foi a terceira vez que o alemão levantou um troféu em um evento desse nível. Foi também sua nona vitória seguida. Uma semana antes, foi campeão do ATP 250 de Munique.

Ano passado, Zverev também foi campeão do Masters de Roma. Ou seja, há um histórico de sucesso e bons resultados no saibro. Por que, então, o jovem não é mais cotado para triunfar em Roland Garros? A maioria das casas de aposta ainda o colocam em terceiro lugar, muito atrás do mesmo Thiem que ele escolou no último domingo. "Por quê?", perguntam todos, se Zverev, além de sucesso no piso, tem um um belo saque, uma movimentação magnífica para seu 1,98m de altura e nenhum ponto fraco evidente?

A questão é que Zverev entrou naquele território nebuloso em que não existe explicação unicamente técnica ou exclusivamente mental para seu desempenho nos slams, e é essa nuvem que faz tanta gente questionar sua capacidade de triunfar em Roland Garros (ou Wimbledon ou qualquer outro). Hoje, o Sascha-dos-slams é aquele herói de filme que atravessa um portal ou atende um telefone e vai parar numa dimensão paralela e esquisita, onde seus poderes desaparecem. Lembremos os últimos cinco episódios deste drama porque são eles que explicam a expectativa relativamente pequena.

Os últimos slams

A temporada de 2017 prometia para Zverev. O alemão começou o ano derrotando Roger Federer na Copa Hopman. Aquele Australian Open prometia. Só que na terceira rodada, depois de abrir 2 sets a 1, o alemão levou a virada de Rafael Nadal. Uma chance perdida, sem dúvida, mas nenhum absurdo. O espanhol acabou avançando até a final.

Veio, então, Roland Garros. Foi o primeiro slam de Sascha como top 10. A expectativa era alta. Não só pelo ranking, mas porque Zverev vinha embalado pelo título de Roma, onde bateu Novak Djokovic na final. Nole, lembremos, avançou na chave que tinha Nadal e Thiem, dando uma surra no austríaco na semifinal (6/0 e 6/1). Mas aí Zverev viu Fernando Verdasco do outro lado da rede logo na primeira rodada. Resultado? Derrota em quatro sets. Sim, para o mesmo Verdasco que ele superou em dois sets, sem drama, em Madri.

Em Wimbledon, Sascha foi mais longe e alcançou as oitavas. é, até hoje, sua melhor campanha em um slam. Bateu Donskoy, Tiafoe e Ofner. Tombou diante de Milos Raonic em cinco sets. Foi mais um jogo em que Zverev abriu 2 a 1 e levou a virada. No US Open, foi pior. O alemão chegou forte, vindo de um título no Canadá, onde superou (um combalido) Federer na final. Suas apresentações em Nova York, contudo, foram pífias. Uma vitória suada diante de Darian King e uma derrota para Borna Coric na segunda fase.

Por fim, este ano, Zverev chegou ao Australian Open com o status de cabeça 4. Foi derrubado na terceira rodada por Hyeon Chung, em mais um jogo onde o alemão abriu 2 sets a 1 e permitiu uma virada. Reveses diferentes por razões distintas e, vistos pelo ângulo do copo-meio-cheio, não incluem nenhum absurdo. Todos, porém, foram decepcionantes pelas circunstâncias.

Sim, Zverev ainda tem só 21 anos. Há tempo de sobra para ele evoluir, quebrar essa barreira, ir bem nos slams e conquistar alguns títulos no maior escalão do tênis mundial. Ele tem talento demais para não fazer isso. Talvez seja preciso só uma campanha grande para deixar esses resultados no passado. Só umazinha. Nesse sentido, pouco importa o título de Madri porque, no frigir dos ovos, ele fez o que todo mundo sabe que ele pode fazer. A questão é que – não importa o ranking – até que Sascha consiga se sentir à vontade com seu nível de favoritismo e expectativa e que venha essa campanha de sucesso num slam, as nuvens de dúvida continuarão sobre sua cabeça. Não importa quantos troféus de Masters ele tenha na prateleira.

Coisas que eu acho que acho:

– Foi uma final decepcionante para Dominic Thiem, mas sua semana precisa ser analisada como promissora. O austríaco conseguiu ritmo, anotou vitórias importantes e até derrotou Rafael Nadal. Suas armas são de alto calibre e, quando funcionam, fazem estrago. Continuo acreditando que ele segue como maior ameaça a mais um título de Nadal em Roland Garros.

– Djokovic já fez uma bela estreia em Roma, superando rapidamente o traiçoeiro Alexandr Dolgopolov (6/1 e 6/3), que costuma ser um pesadelo para tenistas que precisam de ritmo. Pelo que mostrou desde seu retorno, Nole já se mostrou perigoso, embora um tanto inconsistente. O ex-número 1 precisa reduzir drasticamente os intervalos em que joga um tênis inseguro e pouco preciso. Só quando isso acontecer é que ele vai voltar a brigar por conquistas realmente grandes.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.