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O alto preço de uma entrevista

Alexandre Cossenza

27/08/2019 12h06

Era para ser o ápice da carreira de qualquer juiz de tênis. O argentino Damian Steiner (à esquerda na foto acima) foi o árbitro de cadeira da final masculina de Wimbledon, entre Novak Djokovic e Roger Federer. Foi o primeiro na história de seu país a trabalhar em um jogo tão importante. E agora, um mês depois, está sem emprego. Foi demitido pela ATP.

Segundo reportagem do New York Times, o árbitro de 44 anos foi dispensado no dia 15 de agosto, após uma uma avaliação interna. O motivo: uma série de entrevistas concedidas a veículos de imprensa argentinos depois da decisão de Wimbledon. Steiner só poderia conversar com jornalistas após pedir permissão da ATP e, mesmo assim, certos assuntos não poderiam ser abordados. A entidade que rege o tênis masculino é bem rígida com isso.

O procedimento é padrão, não só na ATP. Árbitros são proibidos de darem entrevista (a não ser que peçam e consigam autorização) para evitar polêmicas. Quando a entrevista é autorizada, quase sempre é para que o profissional fale de sua carreira e de como é a vida de árbitro. Estão sempre vetados temas como "qual sua partida preferida?", "de que regras você discorda?" ou "que tenista é o mais difícil de lidar em quadra?" A intenção é evitar polêmicas e impedir que certos assuntos permaneçam "quentes" por mais tempo do que o necessário. Afinal, todo árbitro deve ser o mais discreto possível.

Segundo a reportagem, Steiner violou todas essas regras. Deu uma entrevista ao podcast 3iguales sugerindo uma série de mudanças nas regras e falou à Radio Continental sobre como acreditava que Federer venceria a final de Wimbledon quando teve dois match points. E tudo isso sem pedir autorização à ATP. Ele não está no US Open (que contrata árbitros independentemente de vínculos com ATP e WTA).

Os árbitros que não falaram

Nada disso é novidade. É por isso que a árbitra Shino Tsurubuchi, ameaçada por Serena no US Open de 2009, nunca falou publicamente sobre o assunto. Carlos Ramos, árbitro da final do US Open do ano passado, nunca deu uma entrevista formal falando daquela partida (uma frase sua sobre o episódio, quando disse que "não existe arbitragem à la carte", ficou ficado famosa, mas aparentemente não era uma entrevista e sim uma conversa informal que alguém decidiu postar nas redes sociais).

O procedimento

Leitores do blog provavelmente se lembram da entrevista que fiz com a brasileira Paula Vieira Souza, gold badge (assim como Steiner, ela ocupa o escalão de elite da arbitragem mundial) que passa a maior parte do ano em torneios da WTA. Na ocasião, era um evento da ATP, e o procedimento foi assim: conversei com a gaúcha sobre a entrevista, e ela me pediu que solicitasse autorização ao supervisor. Este, por sua vez, me perguntou o teor da entrevista e explicou que algumas das perguntas na minha lista não poderiam ser feitas. Não lembro exatamente, mas se não me engano eu pretendia perguntar coisas do tipo "seu torneio preferido" e "o atleta mais educado em quadra" (não é uma reclamação, estou apenas explicando o procedimento). E fizemos a entrevista sem os temas vetados.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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