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Rafael Nadal, o inconformado dodecacampeão

Alexandre Cossenza

10/06/2019 06h00

Soa redundante, mas não mais do que 12 títulos em um mesmo torneio e, enquanto Rafael Nadal continuar triunfando em Roland Garros, seguirei tendo exemplos para falar da qualidade que mais admiro no espanhol de 33 anos: seu inconformismo, o sentimento que lhe permite beijar o troféu do torneio francês com a mesma paixão de 14 anos atrás, mas com uma diferença berrante na maneira em que alcança esse momento.

Na história do tênis masculino, Rafa é provavelmente o tenista que mais evoluiu do primeiro ao último slam. O homem que venceu Roland Garros neste 9 de junho de 2019, ao bater Dominic Thiem, é uma versão muito diferente e superior ao Rafael Nadal de 2005, que levantou o troféu em Paris ao superar Mariano Puerta na final.

De lá para cá, já experimentou cordas diferentes, raquetes com distribuição de peso diferentes, várias mecânicas de saque… Aperfeiçoou slices e voleios, ganhou peso de bola e tornou-se mais agressivo, enquanto manteve uma rara habilidade de contra-atacar, uma força mental inigualável e uma capacidade extraordinária de se recuperar de lesões.

E se alguém precisa saber algo sobre a personalidade de Rafa e a vontade incessante de melhorar seu tênis, recomendo um momento de sua entrevista coletiva pós-semifinais nesta semana. Indagado sobre o quão incrível era disputar 12 finais, o espanhol respondeu sem brincar:

"Sim, é incrível, para ser honesto. É algo muito especial e difícil de explicar, mas aqui estamos. No dia que começarmos a pensar se é incrível ou não, provavelmente vai ser o dia de fazer outra coisa."

"O que tenho que fazer é não pensar nisso porque é uma realidade para mim. Mesmo se for algo com o qual nunca sonhei cinco, seis, oito anos atrás, está acontecendo hoje, e meu objetivo é tentar ir em frente. Não é questão de ter sucesso, ambição, mas apenas tentar curtir o que estou fazendo. Sempre digo o mesmo: o tênis não te dá a chance de ser muito feliz quando está se ganhando nem de ficar triste demais quando se está perdendo porque o circuito continua. Sempre soube bem disso e mesmo se alcancei coisas que são, às vezes, especiais, espero ter muito tempo para pensar nisso quando encerrar a carreira." (veja no vídeo acima a partir da marca de 4'00")

Parece discurso politicamente correto para não parecer arrogante, mas quem acompanhou a carreira de Rafa Nadal sabe o quanto ele e seu tio Toni viveram intensamente sob esse dogma. Trabalho duro no dia a dia, sem fazer cara feia, e muito respeito. Respeito à equipe que o acompanha, aos fãs, aos patrocinadores e aos adversários.

Nadal é o que é hoje, aos 33, finalista dos dois slams de 2019, porque jamais parou no tempo para se vangloriar. Nem em 2010 nem em 2013, quando dominou o circuito, descansou. Superou seguidas lesões, brigou e evoluiu. E evoluiu. E evoluiu. E evoluiu. Um eterno inconformado, sempre consciente de suas qualidades e defeitos. Porque como cantava o maestro, você se trai quando acha que é outra pessoa. Ou, na frase original, "you betray yourself when you think that you're someone else."

Carry on, Rafael Nadal.
Descanse em paz, André Matos.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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