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Precisamos falar sobre Carlos Alcaraz Garfia

Alexandre Cossenza

12/04/2019 07h00

Para muitos, o nome acima ainda não significa nada. Quem esteve antenado nas notícias e torneios desta semana, porém, sabe que já é preciso prestar atenção nesse espanhol de 15 anos, que é o atual #25 do ranking mundial juvenil e o #597 na lista da ATP. E tudo bem se você leu essas três primeiras linhas com certa desconfiança. Eu também tendo a reagir assim quando me falam de um suposto novo fenômeno do tênis.

Passarei longe de dizer que o garoto é ou será um fenômeno, mas chama a atenção o fato de ter alcançado uma terceira rodada de Challenger após ganhar um convite em Murcia. Chama mais atenção ainda ele ter superado o cabeça 5 do torneio, o espanhol Pedro Martínez, #140 do mundo. Alguém faria uma comparação com Nadal em troca de um destaque num portal qualquer, mas também evitarei. Entretanto, admito que fiquei, sim, impressionado com Alcaraz ter atuado com quadra lotada nos três dias e sem perder a cabeça, sem sentir pressão, sem se afobar – o que seria perfeitamente normal para um menino de 15 anos diante de plateias como aquelas a seu favor.

"Qualquer um pode ter uma semana boa", alguém pode dizer. Concordo. "Ganhou de um top X" nem sempre diz muito. Às vezes, o rival estava lesionado, em má fase ou cansado do dia (ou da noite!) anterior. No caso de Alcaraz, não foi assim e não foi só uma semana. No torneio anterior, o Challenger de Villena, ele também venceu um jogo. Foi sobre o wild card Jannik Sinner, #319 do mundo. Mas não foi só isso. Na segunda rodada, levou o experiente Lukas Rosol (atual #133) a três sets – o tcheco venceu por 6/2, 4/6 e 6/4. Então, se você ainda não viu, preste atenção no adolescente espanhol.

Acima, na vitória sobre Martinez, você vai ver um garoto com um bom saque, uma bela leitura de jogo, bons golpes com spin e um tênis com bons recursos. Alcaraz usa bem os ângulos, varia bem com curtinhas e sobe à rede quando a situação se apresenta. Não tem uma bola consistentemente funda, mas não se acomoda dois metros atrás da linha de base. Tenta sempre estar mais "dentro" da quadra. Seus fundamentos são muito bem trabalhados para alguém da sua idade.

Aliás, "alguém da sua idade" é chave aqui. Talvez o leitor assista ao jogo acima e veja um tenista bom/muito bom, mas sem fazer nada espetacular. O que impressiona em Alcaraz, na verdade, são o tênis inteligente, a cabeça e a maturidade em relação à idade. Pensar que um garoto joga assim e ainda tem tanto tempo para crescer, ganhar experiência e encorpar seu tênis é que faz a situação toda ser um tanto incomum e, sim, impressionante.

É importante dizer que as campanhas de Alcaraz nos dois Challengers não saíram "do nada". O garoto, nascido em 5 de maio de 2003, já anda há algum tempo no radar de quem segue os resultados juvenis. Ano passado, ele foi campeão europeu Sub-16 e da Copa Davis Junior. Seu primeiro ponto na ATP veio com 14 anos e 9 meses, em um Future em Murcia no ano passado.

Ele treina na academia de Juan Carlos Ferrero, que chegou ao topo do ranking da ATP em agosto de 2003, quando Carlos Alcaraz tinha três meses de vida. Seu agente é Albert Molina, da poderosa IMG, o que garante muitas portas abertas mundo afora.

Nada disso, obviamente, garante que Carlos Alcaraz Garfia será número 1, 5 ou 50 do mundo. Ele estará perto de ser #500 na ATP na próxima semana. Nesta sexta, a projeção do Live Ranking lhe coloca como #501, o que pode mudar dependendo de outros resultados. Enquanto isso, sua carreira juvenil mal começou. O rapaz ainda nem jogou um slam. Convém moderar as expectativas, mas também convém admirar o que já conseguiu com 15 anos.

Coisas que eu acho que acho:

– Parte da graça de ver tênis juvenil – ou juvenis jogando contra profissionais – está em admirar talento em estado mais puro, menos trabalhado. Alcaraz talvez não tenha tanta "mão" quanto, digamos, Kyrgios sempre teve, mas já mostra um tênis de construção de pontos, com a cabeça no lugar. Isso já lhe coloca em vantagem sobre muita gente no circuito.

– Pressão é privilégio. É de esperar que, cercado por pessoas competentes e experientes, Alcaraz aprenda desde cedo que a expectativa por resultados será considerável. Ele terá de lidar com isso na Espanha pós-Nadal. Resta saber se vai aproveitar a posição de destaque e os wild cards que virão ou se vai sucumbir e sair dizendo, anos depois, que foi perseguido e prejudicado pelas expectativas. Tivesse um punhado de fichas, eu apostaria na primeira possibilidade.

– Em Murcia, Alcaraz foi superado por outro jovem promissor: o alemão Rudolf Molleker, 18 anos, #170 do mundo e campeão europeu Sub-14 em 2014. Depois de oito derrotas seguidas para abrir a temporada, Molleker fez semifinal no Challenger de Sophia Antipolis, na semana passada, e já está nas quartas em Murcia nesta semana.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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