Às vésperas do Australian Open, ESPN não renova com Fernando Meligeni
Alexandre Cossenza
06/12/2018 05h00
Daqui a pouco mais de um mês, quando o Australian Open começar, a ESPN não terá mais Fernando Meligeni encabeçando sua lista de comentaristas. Principal nome do canal desde 2012, o semifinalista de Roland Garros, ex-número 25 do mundo e campeão pan-americano não teve seu contrato renovado. Fininho e a direção do canal não chegaram a um acordo quanto aos valores do compromisso.
Não é segredo que a ESPN atravessa um momento complicado financeiramente. O canal sofreu cortes no mundo inteiro e não foi diferente na redação brasileira, que enxugou, um bocado, perdendo muitos postos, principalmente de produção. No fim do ano passado, chamou atenção o nome de Helvidio Mattos numa lista de 150 funcionários demitidos globalmente. Nesta quarta, Dudu Monsanto anunciou sua saída via Twitter. O aperto no orçamento já tinha consequências nas transmissões de tênis há algum tempo. Meligeni é a vítima mais recente. A ESPN ofereceu um contrato com redução de ganhos, e o ex-tenista não topou.
Para economizar, a ESPN foi, aos poucos, deixando de mostrar os ATPs 250 de que tinha direito (hoje, é a Band Sports que os exibe). Alguns dos eventos foram mostrados no Watch, sem narração em português. Outros nem foram exibidos. O "Pelas Quadras", programa diário exibido durante os slams, também foi cortado em 30 minutos – mas ainda será exibido, com meia hora de duração, durante o Australian Open. Em 2018, a ESPN também não renovou a parceria com o SporTV e deixou de exibir Wimbledon.
Meligeni ainda não falou publicamente sobre sua saída da ESPN. Ontem, no entanto, postou a imagem acima no Instagram junto com a seguinte legenda: "Toda vez que eu caio, tenho a certeza que preciso me reinventar e voltar mais forte. Acho que o gosto de saibro, a sujeira na camisa e o joelho ralado é algo necessário de tempos em tempos."
Sem Meligeni, Fernando Roese é o mais cotado para assumir o posto ao lado de Fernando Nardini no horário nobre das transmissões. André Ghem também continua no canal, e Teliana Pereira atualmente negocia para compor o time de comentaristas durante o Australian Open. Airton Cunha é outro nome que pode aparecer nas madrugadas. O torneio, único slam que a ESPN exibe com exclusividade, começa no dia 14 de janeiro.
Atualizado às 12h de quinta-feira, 06/12: a assessoria de imprensa da ESPN entrou em contato comigo e enviou seu posicionamento sobre a não-renovação do contrato com Meligeni. Segue abaixo, em itálico.
"Após interesse na renovação com o comentarista Fernando Meligeni, o profissional optou por não aceitar as bases do novo contrato. A ESPN agradece Meligeni por seu profissionalismo e ampla contribuição nas transmissões e atrações voltadas ao tênis ao longo dos últimos seis anos."
Atualizado às 13h10 de quinta-feira, 06/12: após o posicionamento oficial da ESPN, Meligeni enviouum comunicado, reproduzido abaixo na íntegra, em itálico.
"Após sete anos estou deixando o posto de comentarista de tênis da ESPN Brasil. A razão é única e simples: não houve acordo na renovação do meu contrato. Deixo a ESPN com muitos amigos, felizes memórias e a melhor sensação de todas: a de ter deixado tudo que tinha e sabia naquele microfone, de ter virado madrugadas com paixão, de ter feito o meu melhor. Um agradecimento especial a Fernando Nardini. Que narrador, que apresentador. Que amigo. Como se diz no mundo do tênis, ele me carregou na dupla por todos esses anos. Um agradecimento igualmente especial aos fãs de tênis que deixaram esta jornada absolutamente inesquecível. Bora pra próxima. Um abraço. Fino."
Coisas que eu acho que acho:
– O corte nos ATPs 250 e a redução do Pelas Quadras eram um sinal, ainda que tímido, de que a ESPN já não dava mais ao tênis o carinho de antes. A saída do comentarista número 1 – gostem ou não de seu estilo – passa ao espectador (ao espectador que escreve este texto, principalmente) a impressão de que a modalidade está cada vez mais no fundo da lista de prioridades da ESPN no Brasil.
– Nos últimos anos, a ESPN apostou na dupla Nardini-Meligeni para comandar as transmissões nobres (sessões noturnas de Australian Open e US Open), mas não acertou tanto nas longas sessões diurnas, que compõem a maior parte do tempo no ar. As escolhas de narradores e comentaristas nem sempre agradaram ao público. Às vezes, parecia que o locutor escolhido era o único que não tinha nada mais importante para narrar. Isso tem seu preço. Não espanta que o SporTV tenha derrotado a ESPN com folga na audiência do último US Open.
Sobre o autor
Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org
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