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Feijão: esgotamento, férias, vida nova em Miami e forte posição política

Alexandre Cossenza

03/10/2018 05h00

João Souza andou meio fora do radar dos fãs de tênis. Depois de terminar 2017 como #246 do mundo, o ex-top 100 teve um início de 2018 com poucas vitórias, um esgotamento físico e mental e decidiu pisar no freio. Tirou férias de um mês no meio da temporada e descansou. Curtiu a esposa, a filha e a nova casa em Miami, para onde se mudou em março.

Seu ranking, contudo, sofreu as consequências. Nesta semana, disputando o Challenger de Campinas, Feijão é apenas o #408 do planeta. Um tanto estranho para quem foi o 69º da ATP três anos atrás. A convite do Instituto Sports para cobrir o torneio paulista, conversei o tenista de 30 anos sobre um pouco de tudo. Os motivos do cansaço, a mudança para os Estados Unidos, a parceria com o técnico Thiago Alves e, por que não, Copa Davis.

Com seu jeito bem franco de ser, Feijão abriu o coração sobre tudo. Falou de como curtiu as "férias", do que o levou a buscar uma casa fora do Brasil, de sua nova rotina em Miami e também de sua forte posição política. Rolem a página e entendam o momento de João Souza.

Vamos começar pela parte menos agradável. Anteontem, você falou para o Instituto Sports (vide post acima) que estava "machucado da cabeça". O que é estar machucado da cabeça?

Não, isso não é parte ruim (risos). Falei a verdade. É quando o cara tá cansado, queimado, de saco cheio… No meu caso, eu estava cansado, na verdade.

Mas o que causou isso?

Vou te dar exemplos. Casei; ela engravidou; a espera pelo nascimento do filho; e a mudança de país. Como que o caboclo não cansa? Eu ia ter que jogar e viajar e fazer tudo… Cansei demais. Eu estava esgotado, sabe? Esgotado! Eu falei "preciso de um tempo pra mim". Ficar com a minha filha, a minha mulher. E aí começou a virar uma bola de neve. Começaram a cair alguns pontos, eu já não vinha jogando bem, a confiança começou a cair… Falei "é agora, não aguento mais". Foi quando eu tirei um mês e meio. Parei de jogar – literalmente.

Nem treinou? Nada?

Zero. Coisa que eu nunca tinha feito na minha vida. Desde os 9 anos de idade que eu jogo tênis e nunca tinha ficado tanto tempo sem fazer nada. Eu acordava meio-dia, velho. Teria ficado mais dois meses se pudesse (risos). Acordava meio-dia todo dia… Comprei um voo para a minha mãe, e ela ficou comigo lá duas semanas nos Estados Unidos. Minha sogra estava lá. Pô, que delícia! Só voltei porque eu já tinha minha programação. Foi bom pra cacete! Ficar com a minha filha, minha mãe, minha mulher… Ficava em casa o dia inteiro vendo televisão, comia bem, dormia tarde, fazia porra nenhuma… Foi bom, foi bom.

Engordou quanto quilos?

Não! Eu me cuidei também, não fui tão burro de chutar o balde, entendeu? De comer doce, de fazer umas festas… Que, geralmente, eu fazia. Com família, você não faz festa. Não é que nem quando eu estava solteiro. Eu chutava o balde, arrebentava. Chutar o balde em família é comer um doce, uma sobremesa, uma comida mais gorda. Eu fui malandro e falei "pelo menos, quando voltar, quero voltar bem." Foi ótimo, cara. Voltei a jogar em maio, e voltei bem de cabeça. Treinei quatro semanas e aí voltei a jogar os torneios. Obviamente, até pegar o ritmo de novo, aí perde, a confiança não está [tão alta]… Estou começando a me sentir bem fisicamente, jogando bem de novo, lúcido e enxergando o jogo rápido só agora. Minha mulher está começando a se adaptar lá, então as coisas estão começando a fluir cada vez melhor.

Vocês se mudaram quando?

Junto com o Miami Open [em março]. Eu fui na semana do Miami Open, e ela chegou uma semana depois. Só que voltei da Austrália e fui direto pra lá. Fiquei vendo apartamento, casa, aqui, ali, preço…. é duro pra cacete! Ela não podia me ajudar porque estava com o bebê. Meu pai e minha mãe moram em Mogi. Os pais dela moram na Bahia e em Goiânia. Era eu e eu. Por isso que falei que chegou um momento e falei "tô morto, velho". Mas agora a vida está entrando nos trilhos.

Como é a rotina lá? Diz como é um dia normal seu em Miami…

Parecido com o do Rio. Acordo cedo, faço meu físico, de lá vou para a quadra… As condições [de clima] são bem parecidas… A rotina é normal. Volto, almoço. A diferença é que lá no Rio eu tinha uma estrutura bem maior. Eu tinha uma empregada de segunda a sexta e de terça a quinta a gente tinha uma outra pessoa para ajudar com o bebê. Lá [em Miami], sou eu e ela. Então, como relacionamento de homem e mulher, está sendo muito bom. A gente está puxando o outro o tempo inteiro. Não tem mais ninguém para cuidar da casa, arrumar a cama, fazer comida… Coisas que eram mordomia, a zona de conforto que a gente tinha no Rio. Muito mais fácil. Mas, hoje, eu te falo que o principal motivo, pelo jeito que está, a segurança lá [Miami] é o que mais de deixa feliz. Essa está sendo a parada que eu estou mais satisfeito de ter mudado. Se tem algo que vale a pena, é a segurança. Saio meia-noite, 3h da manhã, meio-dia, de chinelo, saio com a minha filha no colo, com a minha cachorra… O parque é do lado da minha casa… Todo mundo educado… Cheguei no Brasil semana passada dirigindo em Mogi desviando de buraco, arrebentando o carro. Lá é tudo tapete… Se você pisou para atravessar, o cara para o carro. É uma diferença de cultura muito grande. Obviamente, tudo tem os prós e os contras. Lá, a gente não tem a mordomia que eu acabei de te contar. Lá, sou eu e ela, mas para nossa relação, para o nosso casamento, é muito bom. E, para o tênis, espero que comece a fazer bem agora.

E como está a parceria com o Thiago [Alves]? Como é que surgiu essa ideia de se juntar?

Louquinho, louquinho [falando de Thiago]! Já surge há alguns anos. A primeira conversa que eu tive com ele faz uns três, quatro anos. Eu estava com o Pardal na época. Só que sempre me dei bem com ele, desde que eu era moleque, quando eu tinha 16 anos. Nossa amizade é de loooonga data. Não é um cara tão fácil de lidar (risos), mas eu conheço bem como levar o meninão. Ele também me conhece muito bem e entende muito de tênis. Ele sabe como eu jogo, e está sendo bom pra caramba. Se eu pudesse, faria até mais semanas com ele, mas ele tem os compromissos dele também.

O que você acha que ele já agregou no seu jogo?

Está me fazendo jogar mais dentro, empurrando o cara para trás e encurtando o tempo, principalmente com a direita. Está me dando confiança mentalmente também. O bom treinador é aquele que sabe falar as coisas certas na hora certa, entendeu? Na hora que você precisa escutar alguma coisa que vai te colocar para cima… O bom treinador precisa ter tato, e ele tem. O cara jogou a vida inteira! Estamos na primeira semana, mas nossa amizade fora de quadra ajuda muito também.

Você vai tentar jogar toda a sequência de Challengers?

Lima, não. Vou jogar [o Future de] Mogi. Meu objetivo ainda é jogar na Austrália. Estou 400 [do mundo], preciso de 100 pontos para entrar no quali e fazer a pré-temporada com um objetivo na cabeça. Nunca fiz uma pré-temporada na minha vida "putz, não vou pra Austrália". Você não tem nem ideia de como é isso. Espero que eu possa… Estou jogando bem. Mais um, dois joguinhos aí… Acho que eu embalo.

Esses três jogos que você ganhou no quali aqui…

A primeira rodada foi um pouquinho mais tranquila, mas é bom ganhar, né? Não interessa se é um torneio de grana, um grand slam… Ganhar é ganhar, velho. Ganhar, velho, sempre te dá confiança. Três dias jogando, três dias me preparando… E este ano, você acompanha, quantos torneios que o cara passou o quali e ganhou o torneio? Tomic passou o quali, campeão [do ATP de Chengdu]. Nishioka passou o quali, campeão [do ATP de Shenzhen]. Quantos Challengers não tiveram gente passando o quali e sendo campeão? Bellucci agora! Lucky loser, fez semi [no Challenger de Genova]. Está muito parelho, cara. Tirando quatro ou cinco caras… Del Potro, Djokovic, Nadal e Federer. Zverev, que é o 5, perde. Dominic Thiem perde. Raonic perde. Todo mundo perde, cara. Só esses quatro aí que são mais difíceis. Lógico que o Wawrinka e o Murray estão voltando ainda, mas, tirando esses caras… O que o Zverev fez em grand slam? Porra nenhuma. E estava #3 do mundo. Está muito parelho.

[Feijão deu a entrevista antes de estrear na chave principal do torneio. Ele foi derrotado na primeira rodada pelo italiano Fabrizio Ornago, #373, por 7/6(5) e 7/6(6)]

Copa Davis é algo que você ainda tem em mente ou acabou para você?

Nossa senhora, zero mente.

Nem se voltar para o top 100?

Aí é outra história, mas, assim, vou ser sincero com você: não tenho mais vontade. Para mim, não tem mais graça jogar a Copa Davis.

Para terminar: você tem candidato para presidente? Quem e por quê?

Bolsonaro na cabeça, malandro. Trocar seis por meia dúzia? Não vou trocar seis por meia dúzia. Haddad? Tá de brincadeira. Tiveram 16 anos para governar, não fizeram merda nenhuma, o país está um lixo, o dólar passou de R$ 4,30. Ciro Gomes, para mim, um picareta. O cara é um grosso, nunca fez nada. Já se candidatou umas cinco vezes, nunca ganhou. Cara, eu parto dos seguintes princípios: o cara [Bolsonaro] tem a ficha limpa; não tem rabo amarrado com ninguém; o cara é a favor de porte de arma, que eu também sou; ele é praticamente a favor da pena de morte, e também sou… Cara, onde já se viu um país em que você está na sua casa, com a sua família, e o cara vem te assaltar, mas se você dá um tiro no cara, você vai preso? Onde já se viu isso, cara? Os artistas ficam aí dizendo "ele não, ele não"… Lógico. Vão perder a mamata da Lei Rouanet. Qualquer showzinho que eles façam, é tudo aprovado pela Lei Rouanet. Óbvio, vai acabar a mamatinha. Lei Rouanet, aprovado pelo governo do "campeão" do Lula. O cara [Haddad] está indo pegar conselho lá na cadeia, em Curitiba, né, velho? O Bolsonaro fala as coisas na cara. A galera não tem nem argumento contra ele. Ah, "que ele é racista e machista". Ele vai fazer o quê? Matar o gays? Não vai. Vai bater nos negros? O cara quer ajudar, velho. Está de coração lá. O cara é rico, milionário, não vai querer roubar. Tem a ficha limpa. Estou postando coisas dele porque gosto dele. Eu me identifiquei muito. Agora… Pode ser que o cara entre lá e vire, né? Porque todo mundo… Vai saber se o cara chega lá e começa a roubar que nem um louco. Eu acho muito difícil! Por ele ser militar, coisa e tal. Ele quer matar bandido! Bandido não vai ter vez com ele, velhão. Onde já se viu?

Você já foi assaltado no Rio?

Já, na cara larga! Novinho meu Apple Watch, não tinha uma semana. Tava no carro, o cara deu uma coronhada no vidro e "passa tudo". Na Barra, em frente ao Barra Shopping. Parei no semáforo, foi coisa de dez segundos. E o cano na cabeça do [Daniel] Dip. Na cabeça dele. Sabe? Sou a favor dele [Bolsonaro]. Acho que é a última esperança, na verdade, mas acho difícil de ganhar. Vai ganhar no primeiro turno e depois acho que os eleitores do Ciro e da Marina votam na esquerda também por ser contra ele.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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