Naomi Osaka vence final tumultuada por Serena e conquista o US Open
Alexandre Cossenza
08/09/2018 18h40
Não faz muito tempo, perguntaram a Naomi Osaka que mulheres a inspiraram na vida. "Minha mãe, minha irmã e Serena, é claro", respondeu a jovem japonesa. Pois neste sábado, com a gigante Serena Williams do outro lado da rede, o que não faltou foi inspiração para a Osaka, 20 anos, #19 do mundo. Sem se deixar abalar pelo nome da rival, pelo estádio Artur Ashe lotado torcendo pela tenista da casa ou pelas seguidas reclamações de de Serena, que até chamou o árbitro de cadeira de ladrão, a japonesa sacou brilhantemente bem, foi melhor e mais rápida do fundo de quadra, e triunfou em uma tumultuada final por 6/2 e 6/4.
Além de embolsar US$ 3,8 milhões pela conquista, Naomi Osaka, que mora nos Estados Unidos desde os 3 anos de idade, se tornou a primeira japonesa a conquistar um título de slam em simples. A jovem ainda vai entrar no top 10 e figurar em sétimo lugar no ranking mundial a partir de segunda-feira. Serena, atual #26, também vai ganhar posições e aparecer em 16º.
A origem da confusão
A partida começou com as duas tenistas encontrando problemas em seu serviço. Ambas saíram de 0/30 e confirmaram, deixando o placar em 1/1 e indicando um duelo parelho a partir dali. Quem achou isso se enganou. Enquanto Serena continuou sofrendo para encaixar o primeiro serviço (teve aproveitamento de 38% na parcial), Osaka achou seu ritmo e tomou vantagem. A americana também forçava mais do fundo de quadra, mas a maior velocidade da japonesa equilibrava os ralis que, em sua maior parte, terminaram com vitória de Osaka. Foi assim que a japonesa conseguiu duas quebras de saque e saiu na frente, fazendo 6/2.
Osaka mostrou sinais de nervosismo no terceiro game da segunda parcial, falhando em bolas que não vinha errando até então. A japonesa salvou três break point no game, mas errou uma esquerda na quarta chance de quebra e perdeu o saque. Serena abriu 3/1, mas não aproveitou. Cometeu três erros não forçados, foi quebrada e destruiu a raquete para descontar a raiva.
Como foi a segunda punição, a americana até perdeu um ponto. Novamente, Serena foi até o árbitro de cadeira e gritou, dizendo que não recebeu "coaching", que tem uma filha, que nunca trapaceou na vida e que o árbitro lhe devia um pedido de desculpas. Pouco depois, Osaka sacou, confirmou sem problema e empatou em 3/3.
Como se nada estivesse acontecendo, a japonesa voltou a jogar um tênis sólido e aproveitou o embalo. No sétimo game, encaixou uma direita em cima da linha para chegar ao break point e, depois, fez uma passada na paralela para conseguir a quebra.
Insatisfeita, Serena voltou a reclamar com o árbitro, disse que ele lhe roubou um ponto e disse, para todo mundo ouvir: "Você é um ladrão". Ramos, então, puniu a tenista outra vez, desta vez com a perda de um game – como manda o código de arbitragem. O placar passou a mostrar 5/3, e Serena confirmou o saque na sequência, mas Osaka não bobeou mais. Confiante o tempo inteiro, sacou gloriosamente e fechou o jogo.
Vaias na cerimônia
O público no estádio – que não viu o técnico de Serena gesticulando para sua tenista – dava razão à atleta da casa e vaiou intensamente quando a cerimônia de premiação. Houve apupos para o mestre de cerimônias, para a presidente da federação americana de tênis (USTA, organizadora do torneio), e Serena até usou o microfone para pedir que parassem de vaiar.
Osaka, felizmente, foi aplaudida e disse que foi uma pena que o jogo tenha terminado dessa maneira. "Eu só queria dizer 'obrigado' por assistirem à partida." Por fim, a japonesa ainda agradeceu educadamente à rival.
Enquanto isso, no Twitter, o técnico de Serena seguia culpando o árbitro. "A estrela do show foi mais uma vez o árbitro de cadeira. Segunda vez neste US Open e terceira vez para Serena em uma final. Eles deveriam poder ter influência sobre o resultado de uma partida? Quando decidimos que isso nunca pode acontecer de novo?"
Em entrevista à ESPN (incluída no vídeo embedado neste post), porém, Mouratoglou admitiu que gesticulou para Serena e deu instruções, sim. Logo, a punição do árbitro foi correta.
Sobre o autor
Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org
Sobre o blog
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