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Zebras abrem os caminhos de Federer e Serena, e Nadal se mostra mais adaptado à grama

Alexandre Cossenza

05/07/2018 14h43

Foi o grande abalo do dia em Wimbledon: Marin Cilic, atual vice-campeão do torneio, vice do Australian Open e campeão na grama do Queen's Club há pouco mais de uma semana, era favoritíssimo para fazer uma semifinal contra Roger Federer no All England Club. A campanha do croata, contudo, acabou com uma virada do argentino Guido Pella, 28 anos, #82 do mundo, por 3/6, 1/6, 6/4, 7/6(3) e 7/5.

Cilic perdeu o controle do jogo ainda ontem, quando começou a chover, e os tenistas ficaram naquela indecisão se haveria tempo de terminar o encontro no mesmo dia. Pella quebrou o saque do croata ainda na quarta-feira e continuou uma reação fulminante nesta quinta. O croata, impreciso e visivelmente nervoso, fez mais dois sets cheios de erros. Terminou o jogo com absurdas 63 falhas, contra 18 do argentino (número do Wimbledon Channel).

Pella, que entrou em quadra levando nas costas apenas três vitórias na grama (números de chaves principais) em toda a carreira, agora está na terceira rodada de Wimbledon e vai encarar o americano Mackenzie McDonald, de 23 anos e atual número 103 na lista da ATP.

A maior consequência da zebraça de hoje é o caminho ainda mais fácil para Roger Federer levantar outro troféu em Wimbledon. Cilic, pelo currículo e pelo momento, era o mais cotado para fazer a semi com o suíço. Agora, o número 2 do mundo tem como principais adversários em sua metade da chave – em tese – Kevin Anderson, John Isner, Milos Raonic e Sam Querrey.

A chave feminina também teve sua grande zebra. Garbiñe Muguruza, atual campeã, está fora. Tombou diante da belga Alison Van Uytvanck, #47 do mundo, por 5/7, 6/2 e 6/1. Foi uma partida que poderia ter sido até mais fácil para Van Uytvanck, que teve uma quebra de vantagem também no primeiro set. A espanhola em momento algum se sentiu confortável para fazer seu jogo de sempre, distribuindo pancadas.

A belga exigiu um bocado da campeã, usando variações e agredindo quando possível. Muguruza, por outro lado, já começou o terceiro set claramente incomodada consigo mesmo e não conseguiu sair desse buraco. Os erros foram aumentando, e a espanhola não conseguiu mudar a dinâmica da partida. Van Uytvanck avança encarar Anett Kontaveit em um quadrante que está imprevisível no momento.

Uma das seguintes tenistas estará nas semifinais: Van Uytvanck, Kontaveit, Barty, Kasatkina, Kerber, Osaka, Suárez Navarro e Bencic. Alguém aí tem uma aposta boa? Eu, não. No papel, Kerber seria a mais cotada. É ela, aliás, a terceira mais cotada nas casas de apostas no momento – atrás de serena Williams e Simona Halep.

(Os três parágrafos acima, sobre Muguruza x Van Uytvanck, foram adicionados às 17h30min)

Na metade de baixo da chave, Rafael Nadal venceu mais um jogo: 6/4, 6/3 e 6/4 sobre o cazaque Mikhail Kukushkin, #77. Foi uma atuação muito mais sólida do que na primeira rodada, o que era, de certo modo, esperado e, ao mesmo tempo, animador para os fãs do espanhol. Sua movimentação está excelente, os golpes de fundo foram mais sólidos, e o saque funcionou relativamente bem. Foi uma atuação boa o bastante para não complicar um jogo além do necessário contra Kukushkin.

Ainda sobre o número 1 do mundo, é interessante ver como, jogo a jogo, seu tênis vai se adaptando à grama. Hoje, por exemplo, deu para ver um grande número de slices na paralela – algo sempre eficiente contra tenistas altos e/ou que batem reto na bola e que foi ainda mais eficiente contra Kukushkin, que insistia em fugir do backhand e tinha problemas para "levantar" e fazer algo agressivo com essa bolinha baixa. Nadal agora vai encarar o adolescente australiano Alex de Minaur, 19 anos, #80 do mundo. É um jovem perigoso e que, no dia certo, pode fazer estrago. Será?

Por enquanto, porém, eu ainda apostaria minhas fichas em Novak Djokovic na chave de baixo. O sérvio anotou mais uma vitória incontestável nesta quinta ao fazer 6/1, 6/2 e 6/3 sobre Horacio Zeballos. Teria sido mais tranquila para seus fãs se Nole não tivesse pedido atendimento medico para algo na perna esquerda durante o terceiro set. Na coletiva, o ex-número 1 explicou que fez um movimento errado e sentiu algo que afetou seu joelho até o fim da partida. Contudo, tranquilizou os jornalistas, explicando que estava fazendo exames e que tudo indicava não ser algo grave. Provavelmente, algo muscular que afetou o joelho naquele momento e que não atrapalhará seu desempenho no resto do torneio.

E o que mais?

Na chave feminina, Angelique Kerber abriu a rodada perdendo um set para a qualifier americana Clair Liu (18 anos, #237), mas avançou. Simona Halep teve um pequeno susto e viu Saisai Zheng sacar para o primeiro set. A romena, contudo, venceu dez games seguidos e triunfou por 7/5 e 6/0.

Entre os homens, Alexander Zverev passa sufoco. Na Quadra 1, o alemão saiu na frente, mas levou a virada do americano Taylor Fritz, #68 do mundo com 20 anos. Quando Fritz fechou o terceiro set, a partida foi adiada por falta de luz natural. O placar mostra 4/6, 7/5 e 7/6(0). O alemão, que fez três partidas seguidas de cinco sets em Roland Garros, precisará ir longe mais uma vez para continuar vivo em Wimbledon.

Coisas que eu acho que acho:

– Já tweetei isto ontem, mas vale o reforço aqui. Em entrevista para o jornal francês L'Équipe, Gilles Simon faz críticas pesadas à ITF, principalmente no que diz respeito à Copa Davis. Segundo o tenista, a ITF não ouviu os tenistas e quis mudar a Davis por conta própria. Os atletas não gostaram, chegaram à conclusão de que "se não podemos fazer nada [sobre a Davis], faremos algo por conta própria" e decidiram criar sua Copa do Mundo no início de janeiro, que é quando todos tenistas estão reunidos no mesmo lugar.

– Vale pela curiosidade: Chris Fowler, da ESPN americana, mostra onde é o "bunker", a posição de onde ele narra os jogos de Wimbledon, acompanhado por John McEnroe. É um lugarzinho pequeno, espremido, mas com uma visão incrível da quadra e logo abaixo dos assentos onde ficam as famílias e equipes dos jogadores – ou seja, os tenistas olham e falam virados para lá o tempo todo. Assistam no vídeo acima.

– Nem todo mundo sabe, então fica a indicação: o canal de Wimbledon no YouTube tem programação ao vivo durante o dia inteiro. Um momento bacana de hoje foi a entrevista com Guido Pella, que falou sobre a virada em cima de Cilic. O argentino comentou lances específicos, vendo vídeos e explicando seu plano de jogo e os porquês para isso. Veja parte dela acima (a íntegra continua no canal de Wimbledon no YouTube).

– Nick Kyrgios superou Robin Haase em três sets e vai encarar Kei Nishikori na próxima rodada. O australiano, porém, não se deu tão bem quando foi questionar um foot fault marcado por um dos juízes de linha. Kyrgios dirigiu-se ao árbitro de cadeira e perguntou: "O quê? Depois de eu bater na bola? Como isso é possível?" O juizão respondeu na lata: "É isso que ele tem que fazer. Ele não pode chamar [foot fault] antes de você bater na bola." O público riu, Keothavong riu, e Kyrgios, que percebeu a bobagem que disse, riu também.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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