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Ajustes e recursos: por que a paralisação ajudou Rafael Nadal

Alexandre Cossenza

07/06/2018 07h35

Até a primeira interrupção por causa do mau tempo, Diego Schwartzman era o tenista mais sólido em quadra. Jogava mais perto da linha de base, agredia mais, colocava Rafael Nadal na defensiva com frequência. Em oito games de saque do espanhol, o argentino teve break points em sete e conseguiu cinco quebras. Números impressionantes em Roland Garros contra um tenista que já levantou o troféu dez vezes ali.

O jogo parou com Schwartzman liderando por 6/4 e 3/2. Aliás, antes de ir adiante, é importante não confundir "chuva" com "paralisação". Já chovia meia hora antes da interrupção. Os dois jogavam com a quadra pesada, em condições bem lentas. Chegou um momento, porém, em que não era mais possível prosseguir. E foi aí, quando o jogo parou, que tudo mudou.

Nadal voltou mais agressivo, aprofundando mais as bolas, empurrando Schwartzman para longe da linha de base. Os papéis se inverteram, e o argentino não conseguiu mais mudar o panorama do duelo. Desde que assumiu o controle das ações, o número 1 do mundo dominou até fechar a partida em 4/6, 6/3, 6/2 e 6/2 para marcar um duelo com Juan Martín del Potro na semifinal. Venceu 16 dos 20 games jogados após aquela primeira paralisação (houve uma segunda interrupção na quarta-feira, que acabou com o resto da partida adiado para esta quinta).

A primeira paralisação ajudou Nadal? Claro. Por quê? Porque Nadal fez tudo que precisava ser feito. Pensou no jogo, fez a leitura correta do que estava acontecendo em quadra, viu o que precisava e, quando voltou à quadra, executou tudo perfeitamente. A pausa só adiantou porque o número 1 tem recursos, inteligência e talento para mudar um jogo.

Deu sorte? É questionável. Dizer que Nadal deu sorte de o jogo ter sido paralisado requer afirmar que Schwartzman deu sorte de jogar um set e meio com uma quadra pesada e sob pingos – condições que, como já debati aqui e extensivamente no minicast de ontem – minimizam algumas das principais armas de Nadal. Então, no fim, acredito que há um equilíbrio aqui. E se Nadal teve sorte na primeira paralisação, Schwartzman não teve a mesma fortuna na segunda interrupção?

Aliás, cabe aqui uma reflexão: por que Schwartzman não conseguiu reequilibrar o duelo depois da segunda parada? O argentino teve tempo de sobra para pensar no que havia acabado de mudar na partida. Foi para o hotel,jantou, dormiu e, quando voltou à quadra, nada mudou. Nadal seguiu superior. A resposta para isso é também a resposta para a pergunta "por que uma paralisação sempre ajuda o favorito?"

Ninguém é favorito por acaso, então é fácil entender porque gente como Federer, Djokovic, Murray e outros quase sempre levam vantagem quando há uma pausa na partida. Além de a parada servir para "esfriar" um eventual azarão inspirado, dá o tempo necessário para que os melhores tenistas pensem no que vinha dando errado e mudem o plano de jogo ou o que mais precisar de alteração. É a mesma lógica. Quem tem mais, pode mais. E Nadal, hoje, tem muito mais do que Schwartzman.

Coisas que eu acho que acho:

– Toda vez que eu escrevo "paralisação ajuda [fulano]" aparece uma meia dúzia de de fanáticos reclamando. É como se eu estivesse tirando o mérito de alguém. Não é. Não estou. Quando um jogo para, quase sempre alguém se dá bem, mas sempre com mérito.

– Na coletiva, Nadal disse que pediu que seus punhos fossem enfaixados novamente por causa do suor. Estava muito úmido em Paris ontem e, segundo o espanhol, não há motivo para preocupação com lesão. Assustou muita gente, mas seria estranho demais alguém ter lesão nos dois punhos ao mesmo tempo. Ou não? Enfaixar os dois punhos pode ter sido uma medida para não revelar qual punho está lesionado… Será? Dá para brincar com essas teorias doidas a vida inteira.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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