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Cossenza Responde #3

Alexandre Cossenza

24/12/2017 10h05

Para fechar as atividades do blog em 2017, eis aqui um Cossenza Responde natalino, abordando temas levantados pelos leitores no Twitter nos últimos dias. Desta vez, avalio a temporada de Roger Federer, falo bastante de calendário, seus problemas e exigências, o que significaram os desfalques do Big Four em 2016, o torneio de Miami mudando para um estacionamento, Rio Open, lesões no quadril e Stan Wawrinka (porque é sempre preciso lembrar por que o suíço não foi, não é e não será Big Four).

Quem quiser participar do próximo Cossenza Responde, só precisa enviar um tweet com a hashtag #CossenzaResponde. Eu vou juntando os assuntos mais interessantes e publico quando houver um número razoável de temas.

Sempre que alguém fica seis meses longe das quadras e volta vencendo um slam, o triunfo é enorme. Federer venceu dois. O primeiro deles, superando Berdych, Nishikori, Wawrinka e Nadal – uma chave duríssima. É tentador dizer que o suíço teria terminado o ano como #1 se tivesse jogado mais, especialmente no saibro, mas também é preciso considerar que jogar na terra batida, aos 35 anos, poderia ter reduzido suas chances em Wimbledon. Tudo é questão de encontrar um equilíbrio, e Federer foi brilhante até no planejamento. Onde essa temporada entra no ranking dos melhores anos do suíço? Difícil dizer. Difícil comparar. Os números são diferentes, os adversários mudaram ou estiveram em momentos distintos… As variantes são muitas. Foi, no entanto, a primeira vez que ele fez 4-0 em Nadal numa temporada, o que conta muito.

Não. Reduzir calendário significaria reduzir a quantidade de dinheiro que entra no circuito e ninguém quer isso. Nem os atletas. A discussão é antiga e não vai ter fim. A medida mais simples para abordar o tema das lesões seria diminuir o número de torneios que contam para o ranking de um tenista (hoje, são 18), só que fazer isso significa possivelmente mexer na estrutura inteira e provavelmente desvalorizar ainda mais o escalão mais baixo, o dos ATPs 250, que é a base da pirâmide. Sem eles, muita coisa deixaria de fazer sentido no circuito (eu continuo no assunto na pergunta seguinte).

Além disso, o número de lesões entre os "tops" costuma ser cíclico. Volta e meia o circuito perde veteranos que ainda estão no auge, e essa conversa vem à tona. Enquanto Federer, Djokovic e Murray faziam calendários inteiros, o assunto não era tão abordado assim. O calendário não mudou – embora o tênis esteja mais físico. O que mudou foi a faixa etária da elite. O resto do Big Four chegou aos 30, e os sinais da idade (somada com a quantidade absurda de jogos disputados por quem vai longe em todos torneios) vão ficando mais claros. Mas quando esse grupo parar, e uma nova geração assumir a briga pela liderança do ranking, o tema volta pra baixo do tapete.

Na teoria, ninguém é obrigado a jogar torneio nenhum. O problema é que o regulamento do ranking praticamente força atletas a disputarem certos torneios porque ele vai sempre considerar os pontos dos maiores eventos em que um jogador entra direto na chave. Funciona assim: um tenista que ocupa, por exemplo, o 25º lugar do ranking, consegue entrar direto em todos os torneios. Logo, seu ranking vai contar, obrigatoriamente, os quatro slams, os oito Masters (Monte Carlo não é obrigatório) e mais quatro ATPs 500. Se o tenista não quiser, digamos, jogar o Masters 1000 de Xangai, ele fica com zero naquele torneio e não vai poder substituir por outro evento. Então ele vai somar 17 torneios em vez de 18. Se um cidadão com o mesmo ranking não quiser jogar nenhum ATP 500, ele só vai poder somar 14 resultados (há algumas exceções para veteranos, mas essencialmente a regra funciona assim). Por isso, o ranking é que "obriga" os tenistas a jogarem um determinado número de eventos.

Bora falar mais de calendário então! Acho que sim e não, Mariana. Eu explico: não acho que as exibições sejam um fator que vá cansar ninguém ou provocar lesões. O tenista que vai jogar uma exibição não tem compromisso com resultado e não vai se desgastar tanto assim. Então se a preocupação com o calendário é o elemento do desgaste físico, não vejo esse drama todo em alguém jogar uma ou mais exibições. Cada um que deve saber do seu corpo, né?

O que parece mais um fator aí é o lado financeiro. Aí, sim, o argumento do tenista perde força. Se ele pede um período de férias maior e vai jogar três semanas seguidas durante esse período, é óbvio que isso vai emputecer todos diretores de torneio. Afinal, espremer o calendário significa excluir eventos ou entupir datas com três ou quatro torneios (o que é ruim para os quatro). É por isso que uma das sugestões para o calendário de 2019 da ATP pede torneios o ano inteiro, inclusive novembro e dezembro, sem férias. A ATP espalharia os eventos, e cada jogador montaria seu calendário, estabelecendo seu próprio período de descanso. Até onde eu sei, é improvável que isso seja levado adiante, mas é uma ideia que surgiu justamente por causa da IPTL, um evento-exibição de três semanas.

E tome calendário! Até onde eu sei, nada de concreto até a publicação deste post. Esperava-se que houvesse uma decisão até o ATP Finals de 2017. Não rolou. Quem sabe, durante o Australian Open, não surjam novidades? O problema é que não há parâmetro. Pode-se montar qualquer calendário. Além disso, os pedidos são muito variados. Alguns torneios querem subir de patamar (Xangai), outros querem mudar de piso (Rio e Buenos Aires), outros querem data nova (Paris). Não é a tarefa mais fácil do mundo votar e encaixar isso tudo.

Honestamente, esse assunto do torneio de Miami nunca me comoveu muito. Fui ao Crandon Park uma vez só e não achei nada de espetacular, além do óbvio fato se ser um espaço com muitas quadras e um torneio com muita gente boa. E, vendo o projeto do estádio dos Dolphins, o torneio vai continuar sendo num lugar com muitas quadras e com muitos tenistas bons. Key Biscayne é longe e cara. Não posso dizer muito sobre o Hard Rock Stadium, mas estou curioso para ver como será a quadra principal, que vai ser montada dentro do estádio. As outras quadras serão no estacionamento, o que deixa muita gente com uma pulga atrás da orelha. Falei sobre isso com uma pessoa do meio outro dia, e ela me deu a melhor resposta possível: "Se fizeram um centro olímpico no estacionamento do autódromo de Jacarepaguá, por que não podem fazer um Masters no estacionamento de um estádio em Miami?" E que ninguém duvide que as obras em Miami vão ser bem feitas e terminarão em menos tempo…

Os dois. Basta lembrar do contexto de alguns dos exemplos que você deu. Zverev ganhou um Masters que não teve nem Murray nem Djokovic e derrotando um Federer baleado. Dimitrov, por sua vez, ganhou um Finals em que Nadal estava lesionado, Murray e Djokovic não jogaram, e Federer foi superado por Goffin. A grande dificuldade de quebrar a hegemonia do Big Four sempre residiu no fato de que alguém quase sempre precisaria derrotar dois dos quatro grandes para ser campeão de algo. Quando metade do Big Four não joga (ou não joga em condições ideais), vai ter gente dizendo que o nível do circuito caiu (como o Rodrigo faz mais abaixo) e vai ter gente dizendo que há uma nova geração em ascensão. No fundo, é um pouco de ambos.

Não foi uma temporada ruim, mas metade do Big Four sofreu com problemas físicos, então o que aconteceu foi que o público, acostumado a ver os quatro (além de Wawrinka) brigando por títulos, viu apenas Federer e Nadal. Como eu disse acima, pode ficar a impressão de que o nível caiu. Talvez seja só questão de se acostumar a ver outras pessoas no topo. Talvez a gente tenha a mesma impressão quando o Big Four inteiro se aposentar.

A resposta oficial do torneio é "Não. Mas por sermos um evento novo, a gente segue em fase de construção de marca e investindo no processo de construção do Rio Open."

Monfils. Embora eu não ache tão bacana assim, é óbvio que o francês tem um público que adora as jogadas de efeito que ele faz em quadra. Além disso, torneios precisam de novidades, e Monfils nunca esteve no Rio. Certamente, é quem mais vai vender ingressos entre os quatro que você cita, embora exista sempre o risco de ele "fazer o Tsonga" e voltar pra casa na primeira rodada. Jogar no calor e na umidade do Rio é para poucos. O lado "copo-meio-cheio" da coisa é que Monfils é hoje apenas o 46º do ranking. Ele precisa de pontos e não convém ignorar um ATP 500, né?

E se eu fosse o Lui, tentaria loucamente trazer Wawrinka ou Del Potro – algo que, pelo que eu sei, o Lui faz desde sempre. Não é tarefa simples.

Wawrinka não foi, não é e nunca será um Big Four. Stan nunca teve a consistência dos outros quatro. Os números de ATPs, Masters e Slams (não só de títulos) estão aí para quem quiser ver. Dito isto, o suíço tem um jogo capaz de bater qualquer um em qualquer dia, e é justamente isso que faz as pessoas se apaixonarem por ele. Como já escrevi uma vez, ele é, para mim, o mistério mais sedutor do tênis (texto de 12/09/2016).

Achei que um anúncio que não mostra nada de jogabilidade deixa o público curioso, mas, ao mesmo tempo, com um pé atrás. Foi assim que eu reagi. Torço de verdade para que o game seja bacana, mas por enquanto não estou levando muita fé, não.

Eu uso uma Head MicroGel Radical Pro, com cabeça 100 e 16/19 cordas. Sempre usei as raquetes da linha Radical da Head e só não troquei mais porque parei de jogar com a frequência que jogava até, sei lá, 2009. Se eu morasse no Rio, aceitaria o convite. De qualquer modo, agradeço, Alfredo. Um abraço.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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