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CBT votou por representação menor de atletas no COB - mas quem se importa?

Alexandre Cossenza

28/11/2017 07h00

A assembleia geral do COB, na última quarta-feira, 22 de novembro, foi marcada por uma polêmica: o número de atletas que passarão a ter voto nas assembleias do órgão. Atualmente, os atletas têm apenas um representante. A proposta elaborada pela Comissão de Reavaliação Estatutária, responsável por sugerir alterações no Estatuto Social do COB, previa que 12 atletas passariam a ter poder de voto.

Na sessão, algumas confederações se mostraram insatisfeitas e consideravam 12 um número muito alto de atletas. O presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, Durval Balen, então sugeriu o número de 5 atletas, e a proposta foi incluída de última hora na pauta. A partir disso, cada presidente de confederação tinha a opção de votar em 5 ou 12 atletas. A proposta de 5 atletas venceu por 15 votos a 14, mas sob polêmica – o voto do presidente da Confederação Brasileira de Rugby, Eduardo Mufarej, não foi aceito (leia mais aqui).

Independentemente de como a votação ocorreu, o resultado deixou muitos atletas e ex-atletas de renome revoltados. Campeões e medalhistas como Cesar Cielo, Magic Paula, Gustavo Borges, Poliana Okimoto, Thiago Pereira, Nalbert, Isabel Swan e Hortência foram às redes sociais manifestar sua insatisfação, inclusive tratando os 15 presidentes de confederação que votaram por uma representação menor (não custa lembrar: 5 é menor que 12) como "o bando dos 15". E esse "bando", lembremos, inclui o presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Rafael Westrupp.

A ONG Atletas Pelo Brasil, presidida por Raí, disparou um comunicado afirmando que "a derrota de hoje de Paulo Wanderley mostra que o espírito autoritário segue vivo em parte das confederações. E que, enquanto o COB concentrar dinheiro e poder, é improvável que este cenário mude". Além disso, declarou que "a Atletas pelo Brasil repudia o posicionamento antidemocrático das 15 confederações que optaram por mais uma vez silenciar os atletas."

Houve também quem usou as redes sociais para dizer que "atleta não é palhaço". Foi o caso de Hortência, Flavio Canto, Guilherme Giovannoni, Paulo André e muitos outros – vide post abaixo. O técnico Ricardo Acioly, ex-capitão brasileiro da Copa Davis, também participou ativamente dos protestos em suas redes sociais.

No vôlei, a reação foi forte. Os atletas criticaram o voto da CBV, que também foi pela representação menor de atletas. Em um texto assinado por André Heller, Fabi e Lucarelli (os três são campeões olímpicos), entre outros, a Comissão de Atletas do Vôlei de Quadra manifestou "total INCONFORMISMO e SURPRESA acerca do quanto descrito, desde logo lamentando a posição tomada e estranhando a adoção da referida medida, sobretudo por considerá-la contraditória com toda a diretriz e encaminhamento de gestão da CBV ao longo do último ano, com o incentivo e iniciativa relativos à criação das respectivas Comissões de Atletas, de quadra e de praia, e do Comitê de Apoio ao Conselho Diretor, bem como contrária às últimas conquistas e evolução em termos de diálogo entre todos os protagonistas do Esporte, dentre os quais se destacam os atletas de cada uma das modalidades". Leia mais aqui.

Na tarde desta segunda-feira, 27 de novembro, quase uma semana depois da assembleia geral, o COB decidiu convocar nova assembleia para votar mais uma vez o estatuto – inclusive o número de atletas, único item em que houve discordância na sessão anterior. Aparentemente, as campanhas deram resultado – junto com a ameaça da Confederação de Rugby de ir à Justiça para exigir a validade de seu voto. A nova assembleia será no dia 6 de dezembro. Leia mais aqui.

E no tênis?

Alguém viu um tenista falar algo – a favor ou contra – o voto da CBT, que também foi pela representatividade menor de atletas? Eu não tinha visto nada, então procurei todos os tenistas que estão ou estiveram no top 100 ao longo de 2017. As perguntas eram simples. 1) Você é a favor de uma representação maior de atletas nas assembleias do COB? 2) Você concorda com o voto da CBT na última assembleia geral? As respostas que obtive foram as seguintes:

Beatriz Haddad Maia, #71 do mundo: por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não gostaria de se manifestar sobre o assunto.

Rogerinho, #102 do mundo: "Para o esporte, é uma vergonha. Não acredito que esse seja o caminho do esporte no Brasil, nem para as próximas Olimpíadas nem para o que vier na frente. Não concordo com ninguém que votou contra (os atletas). Acho que os artistas são os atletas. Em todos esportes, não só no tênis, quanto mais os atletas estão involucrados, é mais fácil."

Thomaz Bellucci, #113 do mundo: por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não gostaria de se manifestar sobre o assunto.

Thiago Monteiro, #124 do mundo: por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não gostaria de se manifestar sobre o assunto.

Marcelo Melo, duplista #1 do mundo: sua assessoria de imprensa declarou que não conseguiu entrar em contato com o atleta. O mineiro está de férias nas Ilhas Maldivas (vide post abaixo).

Bruno Soares, duplista #10 do mundo: "Falei com meu presidente, Rafael Westrupp, ele ele me passou os motivos dele. Que ele acha que de um (atleta) para 12 é um pulo muito grande e, na opinião dele, era melhor passar para cinco e daqui a dois anos fazer uma revisão. Ou seja, antes de Tóquio, antes da próxima Olimpíada, fazer uma revisão. Eu entendi. Não defendendo ele, mas entendi os motivos dele. Eu, estando fora e não sabendo exatamente como é o andamento disso, não tenho definido o que é certo ou errado, se são cinco ou 12. Só estou falando que eu entendo os motivos que ele (Westrupp) me deu para escolher pelos cinco. Não vejo problema no voto dele."

Marcelo Demoliner, duplista #34 do mundo: por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não gostaria de se manifestar sobre o assunto.

André Sá, duplista #94 do mundo e presidente da Comissão de Atletas da CBT: por meio de sua assessoria de imprensa, agradeceu o contato e disse que não gostaria de se manifestar sobre o assunto.

Também procurei a CBT para saber o porquê do voto a favor de menos atletas. Na resposta abaixo, reproduzida na íntegra, a entidade cita apenas que Westrupp valoriza a participação de atletas e que votou pelo "aumento de 1 para 5 atletas com voto em assembleia no COB" (embora fosse impossível votar contra um aumento, já que as propostas eram por cinco ou 12 atletas e não havia a opção de votar por permanecer com apenas um voto de atleta nas assembleias).

"A CBT valoriza muito a participação dos atletas na gestão do esporte, tendo sido a primeira Confederação no Brasil a efetivamente abrir a participação do atleta com voto em Assembleia Geral. Na última eleição da entidade, o representante dos atletas votou igualmente aos outros membros da Assembleia. Além disso, possui um atleta também no quadro do seu Conselho Consultivo. Na votação do COB, o posicionamento da CBT, através de seu presidente Rafael Westrupp, foi pela ampliação da participação dos atletas, dando um grande passo com o aumento de 1 para 5 atletas com voto em Assembleia no COB. Propusemos ainda uma avaliação daqui a 2 anos para ampliar ainda mais este número. Além deste importante tema, a CBT também votou a favor de itens essenciais como a criação de 3 conselhos independentes de Administração, Fiscal e de Ética, além da mudança no processo eleitoral, onde qualquer brasileiro acima de 18 anos pode se candidatar, precisando ter apenas 3 assinaturas de apoio de membros da Assembleia."

Coisas que eu acho que acho:

– Minhas opiniões sobre tudo relatado acima – não só sobre o tênis – virão em outro post. Assim, não misturamos as bolas, ok? Neste post, notícias e fatos. No próximo, opinião.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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