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Em 7 motivos, por que a quadra central do Rio Open não enche

Alexandre Cossenza

26/02/2017 08h00

Não importa o que aconteça. Nem para o badalado Bellucci x Nishikori, a quadra Guga Kuerten, principal arena do Rio Open, ficou totalmente cheia. O público até foi bom na terça-feira, mas ainda havia vários assentos vazios. Na quinta, em outro jogo aguardado – Bellucci x Monteiro – foi pior. No melhor dos momentos, a ocupação deve ter ficado por volta dos 70%.

Mas por quê? Os ingressos estão caros? O calor é insuportável? Há atrações melhores fora da quadra? Os motivos são muitos, como já escrevi em um post anterior, e acho que agora vale a pena ir um pouco mais a fundo no assunto. Até porque não há um problema de venda de bilhetes. O torneio vendeu todos ingressos na terça e na quinta. A segunda-feira, que teve 60% das entradas compradas, foi a melhor da história do Rio Open. Na quarta, 75%.

Logo, não é um problema de público. É um problema de assentos ocupados. Mas por que esse povo todo não entra (e fica!) na quadra central?

1. Patrocinadores

O Rio Open dá muitos ingressos para patrocinadores. São eles que pagam a conta, afinal. E eles têm bastante culpa nesse não preenchimento de espaços. Conversei com dois amigos que receberam ingressos de patrocinadores diferentes. Uma empresa simplesmente distribui mal. Várias entradas ficam encalhadas. A outra tinha ingressos sobrando e procurava quem aceitasse. Em outros casos, os ingressos são dados a gente que não se importa com tênis. Dou um exemplo que aconteceu ao lado da área de imprensa, durante a partida entre Thiago Monteiro e Gastão Elias.

Um grupo de torcedoras usando viseiras da loja de móveis Breton entrou e ocupou cerca de 20 lugares. Junto delas, um fotógrafo. Ele fez imagens das mulheres, que passaram boa parte do tempo mexendo nos celulares e usando paus de selfie. cerca de meia hora depois, o grupo deixou a quadra e não voltou mais.

2. Corcovado Club

Também tem a ver com os patrocinadores, mas não só com eles. O Corcovado Club é a área VIP do Rio Open. É para convidados e tem capacidade para mil pessoas. Tem ar-condicionado, um bar da Stella Artois, monitores de TV, decoração da Breton e foi idealizado pelo cenógrafo Abel Gomes, da P&G Cenografia. É uma estrutura digna de área VIP. Muitos dos que vêm ao torneio optam por ficar lá em vez de encarar o calor (até de noite) da área externa.

E nem é só isso. O Corcovado Club é um daqueles espaços aonde as pessoas vão para verem e serem vistas. Faz parte. E também é precisou incluir aqui empresários e todo tipo de pessoa que vem ao evento para fazer contatos, dar asas a projetos, fechar negócios e coisas do gênero. Se faz bem ao tênis e à parte esportiva do torneio, é uma discussão diferente. O Rio Open parece satisfeito com o resultado.

3. Quadra 1

A quadra tem central tem capacidade para 6.200 pessoas. Na Quadra 1, cabem mil espectadores. Com os duplistas escalados sempre na quadra menor (isso foi acordado entre organização e atletas), é preciso levar isso em conta na matemática do público. Com Bruno Soares ou Marcelo Melo jogando, a central sempre perde boa parte desses espectadores – ainda que seja possível entrar na Quadra 1 o dia inteiro com qualquer ingresso (seja para a sessão diurna ou para a noturna).

Ainda assim, é bom ressaltar: nem durante Nishikori x Bellucci nem durante os momentos mais importantes de Bellucci x Monteiro, havia um brasileiro jogando na Quadra 1. Não dá para colocar as duplas na conta desses dois dias específicos.

4. Leblon Boulevard

O chamado "Leblon Boulevard" é a área de convivência do torneio. Tem restaurantes, lojas, bares e estandes com atrações diferentes. Dá para pilotar um simulador de Fórmula 1 em Interlagos na Pirelli, fazer a barba na Granado, encontrar Fernando Meligeni na loja da Fila, adquirir uma bolinha personalizada na Peugeot, jogar tênis virtual no Itaú e carregar o smartphone na Claro, entre outras coisas possibilidade. As opções são interessantes.

E tem, claro, fila. Quem sai da central no intervalo entre sets (a grande maioria), vai ter que ficar um tempinho lá para ir ao banheiro, comer ou tomar um sorvete. E, depois disso, há quem prefira ficar acompanhando os jogos sentado na praça de alimentação, que é coberta e protege do sol.

5. Falta de nomes grandes

A ausência de Rafael Nadal, que esteve nas três edições anteriores do Rio Open, pode não ter afetado significativamente a venda de ingressos, mas parece vir mostrando seu peso na quantidade de gente em quadra. Com um nome gigante, todo mundo quer estar na quadra central quando ele joga.

Ainda que estejam no top 10, Nishikori e Thiem não têm o peso de um Nadal (ou um Djokovic ou um Federer). Nesta sexta-feira, quando Thiem entrou na quadra às 16h45min para as quartas de final contra Diego Schwartzman, havia, se tanto, 500 pessoas na arena.

6. Quadras externas

Também tem isso. Há quem prefira ver treinos. Se Nishikori está em uma quadra externa batendo bola, há quem prefira ficar ali na grade, à espera de uma foto ou um autógrafo, a entrar na quadra central para ver, digamos, Ruud x Carballés Baena. Embora a quantidade de gente nas beiras das quadras este ano seja muito menor do que nas três edições anteriores e isso não sirva como parâmetro para analisar o público dos jogos noturnos, ainda é preciso levar em conta esse fator. O tênis, no fim das contas, compete contra ele mesmo.

7. Calor

Sem o torneio feminino, o Rio Open pôde começar as rodadas mais tarde, às 16h30min, quando o calor não é tanto e já há sombras na quadra central. Ainda assim, o Rio de Janeiro é quente e úmido até nos dias "amenos" em fevereiro. A loja da Fila empresta guarda-chuvas que o povo usa para se proteger do sol, mas nem todos sabem disso. E nem todo mundo aguenta passar tanto tempo no calor.

Coisas que eu acho que acho:

– Como eu escrevi em um post anterior, cada item acima tem peso maior e menor dependendo de uma porção de fatores. O que é inegável é que todos tiveram alguma influência durante a semana.

– Há quem acredite que o Carnaval tem grande parte da culpa. É muito bloco na cidade, a hospedagem é mais cara, as passagens aéreas também. É um argumento bastante questionável porque, como já foi dito lá no alto do post, não é um problema de ingressos vendidos ou de comparecimento de pessoas. O povo comprou entradas e esteve no Jockey. Só não ficou na quadra central.

– Talvez a grande pergunta a se fazer é se o Rio Open deveria repensar sua política de distribuição de ingressos – especialmente a patrocinadores. Só que os vazios na quadra central são recorrentes. Eles estão lá todo ano. É claro que a IMM já observou e discutiu isso. E se continua assim, é porque a organização não parece tão preocupada assim com os buracos na arquibancada.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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