NY, dia 13: o enorme Bruno Soares conquista seu quinto título
Alexandre Cossenza
10/09/2016 17h12
A conversa abaixo pode ou não ter acontecido entre um jornalista e o pai de um conhecido juvenil brasileiro antes deste US Open.
Jornalista: Oi, tudo bom? Estou esperando pra conversar com seu filho depois do treino.
Pai: Opa, e ai? Legal, mas ele não tá dando entrevista, não.
Ah, não? Poxa.
Não. A gente não quer que ele perca o foco. Desde que ele apareceu mais, digamos assim, muita gente procurou ele. Se ele falar com todo mundo, acaba perdendo o foco. E ele está numa idade importante, né?
Certamente. Então o senhor acha que dar entrevista atrapalha ele?
Claro. É um tempo que ele perde que poderia estar fazendo outra coisa.
Sim. Poderia estar no Facebook, no WhatsApp, caçando Pokémon, qualquer coisa.
Mas não é só o tempo, não. É muita pressão, sabe?
Pressão?
Claro. Ele é o melhor juvenil do país.
Mas tem muito jornalista escrevendo que espera muito dele?
Não, mas porque a gente não deixa ele dar entrevista. Tem que ficar quieto, né? Porque se ficar falando, a pressão só aumenta.
Não entendi. O senhor acha que a pressão aumenta se ele der mais entrevista?
Claro.
Sei. Mas essa pressão que o senhor diz que existe… Isso é porque o seu filho é bom tenista. Uma promessa, né?
É.
Não é todo tenista bom que tem isso?
Acho que sim, né?
Então talvez, de repente, só pensando alto aqui… Não seria melhor ele se acostumar logo com essa pressão que o senhor diz?
Ah, mas pressão só atrapalha.
Entendi. Quer dizer, acho que entendi.
A gente não pode deixar o menino muito exposto.
Bom, já que o seu filho não vai dar entrevista, vou indo. Um bom dia pro senhor.
É difícil trabalhar com tênis, né? Jogador não fala muito com jornalista, né?
Alguns até que falam, viu? Aliás, olha que coisa curiosa… O senhor sabe quem é o brasileiro que mais dá entrevista?
Quem?
Bruno Soares. Ganhou quatro Slams. Parece que ele não se incomoda muito com esse negócio de pressão…
O quinto título
A final-final foi hoje, neste sábado, mas Bruno Soares e Jamie Murray deram o maior dos passos rumo ao título do US Open quando venceram um duelo tenso com Nicolas Mahut e Pierre-Hugues Herbert. A decisão acabou sendo com Guillermo García-López e Pablo Carreño Busta, que deram uma força e eliminaram Feliciano López e Marc López.
De drama mesmo, só o primeiro game, quando Jamie teve seu serviço quebrado. Depois disso, brasileiro e escocês dominaram. Fizeram 6/2 e 6/3 e conquistaram seu segundo título na temporada. O circuito de duplas não via um time triunfar duas vezes no mesmo ano desde Bob e Mike Bryan, em 2013.
É o quinto título de Slam de Bruno Soares. Ganhou três nas mistas(US Open 2012 e 2014; Australian Open 2016) e dois nas duplas (Australian Open e US Open 2016). É o mais acessível dos tenistas brasileiros – e não só aos jornalistas. Sincero, simpático e campeão. Um enorme tenista. Uma pessoa gigante.
Observação: por um compromisso familiar, não verei a final feminina na noite deste sábado. Escreverei sobre a partida no domingo, depois de ver a gravação.
Sobre o autor
Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org
Sobre o blog
Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.