ITF aponta: mais de 80% dos tenistas pagam para jogar
Alexandre Cossenza
19/12/2014 09h32
O número assusta, mas é isso mesmo: no circuito masculino, que tem 2.168 tenistas ranqueados, apenas os 336 primeiros não perdem dinheiro. A estatística faz parte de um estudo da Federação Internacional de Tênis (ITF), que anda preocupada com o desequilíbrio financeiro em seu esporte. O próximo objetivo da entidade agora é conseguir aumentar a premiação em dinheiro nos torneios "de entrada" do circuito mundial. É o que relata uma reportagem do "New York Times".
O anúncio da ITF vem poucos dias depois de a ATP prometer um grande reajuste em seus torneios (vide o post anterior deste blog). Ainda segundo a reportagem, a pesquisa promovida pela ITF levou em conta mais de sete mil jogadores e analisou números dos últimos 14 anos para avaliar as diferenças nos gastos dos jogadores de diferentes faixas de ranking. O levantamento também considerou questões geográficas (onde moram e jogam os atletas), etárias e o decrescente (e preocupante) nível de sucesso entre jogadores em transição. Segundo a ITF, hoje em dia há mais gente competindo no juvenil, mas uma porcentagem muito menor desse grupo consegue alcançar um ranking profissional.
A ITF constatou que apenas 1% (ou seja, o top 50) dos tenistas que disputam o circuito masculino ficam com 60% da premiação em dinheiro que é distribuída por todos torneios ao longo do ano. No circuito feminino, os números não são muito diferentes. Lá, o 1% do topo embolsa 51% do dinheiro.
A ideia da entidade que regula o tênis mundial é aumentar o prêmio em dinheiro em todos os níveis de seus torneios. No circuito masculino, a ITF é responsável pelos Futures, que têm premiação de US$ 10 mil e US$ 15 mil. No circuito feminino, a entidade controla torneios que vão de US$ 10 mil a US$ 100 mil (a diferença básica é que a ATP regula os Challengers, eventos que dão de US$ 35 a US$ 125 mil, enquanto a WTA deixa esse mesmo nível de torneios a cargo da ITF).
Se a proposta for aprovada pela diretoria, os aumentos valerão a partir de 2016. Os torneios de US$ 10 mil passarão a valer US$ 15 mil; os atuais eventos de US$ 15 mil saltarão para US$ 25 mil; os de US$ 50 mil passarão a distribuir US$ 60 mil; os de US$ 75 mil pularão para US$ 90 mil; e os de US$ 100 mil vão a US$ 125 mil.
Em porcentagens, o reajuste é considerável: são 50% de aumento nos torneios de US$ 10 mil e 66% nos eventos de US$ 15 mil. Não vai solucionar de vez o problema, mas é um começo. Até porque o número que cito no começo do post preocupa: levando em conta gastos mínimos, um tenista, em média, deixa de perder dinheiro quando chega ao ranking de número 336 (254 entre as mulheres). Ou seja, dos 2.168 tenistas ranqueados 84,5% perdem dinheiro (e essa porcentagem seria mais alta de incluísse um bocado de gente que vem tentando a sorte no circuito, mas sem conseguir pontuar). Alguém consegue pensar em outra profissão com tanta gente pagando para trabalhar?
Sobre o autor
Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org
Sobre o blog
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