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Anatomia de uma discreta top 5

Alexandre Cossenza

03/06/2014 06h30

As quatro imagens acima foram clicadas no dia 8 de junho de 2008, na quadra Phillipe Chatrier. Naquele dia, a jovem Simona Halep conquistou o título juvenil de Roland Garros ao derrotar a compatriota Elena Bogdan por 6/4, 6/7 e 6/2. Sim, aquela Simona é a mesma que hoje ocupa o quarto posto no ranking da WTA, está classificada para as quartas de final do Grand Slam do saibro e pode até terminar o torneio como tenista número 3 do mundo.

Aquela Simona de 16 anos ficou famosa por uma peculiaridade de seu corpo: seios maiores do que a média. Não, não há photoshop nas fotos deste post. Elas não foram coletadas de um fórum de fundo de quintal. São todas da Getty Images, uma renomada agência. Mas eu divago. Simona não era uma menina gordinha. Sua silhueta seria bastante comum para uma atleta de sua idade não fossem os seios – desproporcionais ao resto do corpo.

Com 17 anos, ela tomou a decisão: passaria por uma cirurgia para redução de seus seios. Não, a menina não foi forçada pela federação de seu país nem foi exposta por dirigentes à imprensa mundial como a americana Taylor Townsend (refresque sua memória). Não. Halep sentiu a necessidade de mudar e resolveu tudo por conta própria. Ainda antes dos 18, submeteu-se ao procedimento.

Na época, a jovem romena disse que os seios atrapalhavam em quadra. Ela sentia sua mobilidade reduzida e dores nas costas. Afirmou também que teria feito a operação mesmo que não fosse atleta. Era algo que a incomodava também no dia a dia. Ainda era cedo em sua carreira. Não vale a pena especular se ela teria alcançado seu ranking atual caso não tivesse optado pela redução.

O que me parece mais interessante o tênis de Simona Halep é que nenhum aspecto demais a atenção. Aliás, até sua cirurgia foi tratada com discrição – só não foi segredo porque àquela altura, depois de vencer um Grand Slam juvenil, a romena já tinha um punhado de fãs que, diz a lenda, fizeram uma petição pedindo a Halep que não reduzisse seus seios.

Antes que eu vá mais longe neste post, vale uma ressalva: tênis não é um esporte com uma maioria de fãs machistas. Para cada velho babão que se derrete vendo Ana Ivanovic existe meia dúzia de moças gritando histericamente cada vez que Rafael Nadal tira a camisa ou que Jade Barbosa Novak Djokovic exibe seu tanquinho. O circuito tem tenistas e fãs para todos os gostos, e cada um tem suas preferências. A maioria, contudo, ainda vê o tênis pelo tênis.

Voltemos, então, ao … tênis! Halep é uma menina tão discreta que até sua impressionante ascensão no circuito pegou muita gente de surpresa. Há um ano, ela era a número 57 do mundo, eliminada na primeira rodada em Paris, e não tinha um título de WTA no currículo. Desde então, levantou sete troféus e chegou, sem alarde, ao top 5. E, como eu disse um pouco acima, nada se sobressai no seu tênis. E isto está longe de ser uma crítica.

Seu saque vem melhorando, mas não é espetacular. Do fundo de quadra, não tem golpes incríveis, capazes de dominar tenistas que batem forte na bola, como Serena Williams ou Maria Sharapova. Halep, contudo, tem uma excelente movimentação e uma impressionante capacidade de manter suas bolas com profundidade, sem perder potência. Foi assim que a romena tirou um set de Sharapova na final de Madri. Enquanto a russa não conseguiu calibrar seus golpes, Halep manteve-se firme. E seguiu assim até o fim do jogo, mesmo quando a russa já atuava em altíssimo nível (a ex-número 1 venceu aquele jogo por 1/6, 6/2 e 6/3).

Em Roland Garros, a cabeça de chave número 4 só cumpriu sua "obrigação" até agora, mas o fez brilhantemente. Passou por Kleybanova, Watson, Torro-Flor e Stephens sem perder um set sequer (foram 18 games cedidos, menos de três por parcial). Classificada para as quartas de final, Halep já repete a melhor campanha da vida em um Grand Slam (ficou entre as oito no Australian Open deste ano) e terá Svetlana Kuznetsova pela frente. Uma semi não é nada, nada, impossível.

Coisas que eu acho que acho:

– Em uma chave que também tem Sara Errani e Andrea Petkovic, Halep pode até sonhar com um lugar na final de Roland Garros, desde que não atropele a ordem das coisas. Pelo modo como vem conduzindo sua carreira, não parece provável que a romena vá se afobar. Se perder, será "na bola" mesmo.

– Aconteceu com Halep o que acredito que teria ocorrido com Taylor Townsend, não fosse a trágica atuação da USTA. A americana, que era número 1 do mundo como juvenil, eventualmente sentiria a necessidade de perder peso e faria um esforço para ganhar velocidade dentro de quadra. Cá entre nós, é bem possível que esse cenário torne-se realidade à medida em que a menina vá ganhando posições no ranking e disputando torneios mais fortes.

– Garbiñe Muguruza x Maria Sharapova e Carla Suárez Navarro x Eugenie Bouchard são os jogos desta terça-feira na chave feminina em Roland Garros. Sharapova e Bouchard são as favoritas nas casas de apostas. Eu não ousaria apostar contra nenhuma das duas. E você?

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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