A demissão de Andy Murray
Alexandre Cossenza
20/03/2014 11h42
Se você já viu uma dúzia de jogos de Andy Murray, deve ter sentido o mesmo que eu quando paro para ver o escocês em uma rodada qualquer de um torneio qualquer. Andy Murray demitiria a si mesmo se pudesse. E se esticarmos um pouco o conceito de demissão, podemos, sim, afirmar que o atual campeão olímpico e de Wimbledon já se demitiu de alguns torneios. Talvez o politicamente certo seja dizer que Murray se "descontinuou" aqui e ali. Pouco importa.
Não, ninguém disse – oficialmente – que Ivan Lendl demitiu Andy Murray. Tecnicamente, quem contrata é o tenista. O senso comum de esportes coletivos não existe aqui. No entanto, de alguma maneira, ficou a impressão de que foi Lendl, e não Môri, quem optou por encerrar a relação que começou dois anos atrás – repito: ninguém fez essa afirmação oficialmente. Ao mesmo tempo, não dá para dizer que o rompimento pegou muita gente de surpresa.
Como a Sheila Vieira já colocou muito bem, o principal papel de Lendl deu-se como cumprido quando o pupilo sagrou-se campeão em Wimbledon. Pronto. Jejum britânico encerrado. Antes, a parceria rendeu um título no US Open e a medalha de ouro olímpica em simples (aquela que Federer não tem). O que restava a Lendl depois disso? Muito pouco. Seu trabalho nunca foi ensinar Murray a jogar tênis, mas mostrar como ganhar. E Môri aprendeu.
A partir dali, tudo passou a depender muito mais de Murray decidir o que quer da vida. É vencer Wimbledon mais uma(s) vez(es)? Ele quer ser número 1? O que falta? E os primeiros torneios de 2014 não foram lá muito animadores – ainda que o britânico tenha passado por uma cirurgia nas costas no segundo semestre do ano passado. Em muitos momentos, o Murray que esteve em quadra lembrou muito mais aquele tenista pré-Lendl, incomodado demais com seus erros e facilitando para que tudo levasse a derrotas. E elas vieram.
No anúncio oficial, Lendl diz que é hora de concentrar em seus projetos pessoais, incluindo aí exibições pelo mundo. Murray, por sua vez, diz que vai tirar algum tempo com sua equipe para pensar nos próximos passos. E é bom mesmo que ele pense bem. Caso contrário, vai continuar se demitindo…
Sobre o autor
Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org
Sobre o blog
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