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O peso da "fama"

Alexandre Cossenza

09/03/2014 11h04

Todo mundo sabe como funciona – em qualquer esporte. No futebol, zagueiro com fama de violento leva cartão até quando não fez falta grave. No basquete, os encrenqueiros famosos são punidos com falta técnica por muito menos do que aqueles com reputação de bom moço. A tolerância, de modo geral, é menor com quem tem precedente. E isso vale também para o tênis, claro.

No post anterior do blog, publiquei o vídeo da trapalhada do árbitro de cadeira Mohamed El Jennati, que "garfou" absurdamente o uzbeque Denis Istomin no Masters 1.000 de Indian Wells. Pois dois dias depois o oficial marroquino esteve envolvido em outra polêmica. O pivô da vez foi o italiano Fabio Fognini, que se sentiu prejudicado no jogo contra o americano Ryan Harrison e disparou meia dúzia (talvez um pouco mais) de palavrões.

No meio das ofensas, Fognini ainda lembrou do episódio de Istomin, dizendo coisas do tipo "Você fez a mesma m… ontem com o Istomin. Quem estava na cadeira? Você estava!" e "É a segunda vez em dois dias." "Vejam o vídeo!

Desta vez, contudo, a situação não é tão clara quanto o caso envolvendo Istomin. Aqui, Fognini faz um slice e, quando Harrison está indo atrás da bola para tentar rebater, um juiz de linha marca bola fora. O italiano pede o replay, que mostra bola boa. A decisão, então, requer o julgamento do árbitro de cadeira: o erro de Harrison aconteceu porque a bola foi chamada fora pelo juiz de linha?

El Jennati considera que sim e argumenta, com seu inglês macarrônico, repetindo "same time" (ao mesmo tempo). Ou seja, o árbitro acredita que a chamada do juiz de linha aconteceu ao mesmo tempo em que Harrison estava indo na direção e que, por isso, o americano errou na hora de devolver a amarelinha.

É uma interpretação contestável, já que Harrison estava em uma posição desconfortável em quadra e provavelmente perderia o ponto. Além disso, ele levanta a mão esquerda (indicando bola fora) assim que rebate. Será que o fez porque ouviu o juiz de linha ou porque pediria o uso do replay caso nenhum juiz marcasse bola fora? Impossível saber.

De qualquer modo, é injusto comparar com o caso Istomin. Aqui, El Jennati faz um julgamento em um lance nada fácil. Até olhando o replay é difícil saber a ordem das coisas. Para Fognini, no entanto, a reputação do árbitro pesou. Foi o pretexto para uma discussão, meia dúzia de palavrões e uma paralisação de quase cinco minutos. E o italiano, que havia perdido o primeiro set por 7/5, fez 6/1 e 6/4 e avançou no Masters de Indian Wells.

Coisas que eu acho que acho:

– Sobre o que aconteceu no torneio até agora, vale destacar o retorno frustrante/frustrado de Victoria Azarenka. A ex-número 1 claramente não estava recuperada de uma lesão no pé, e o resultado foi a decepcionante atuação diante da americana Lauren Davis, que venceu por 6/0 e 7/6(2). Após a partida, Vika não se mostrou arrependida e disse que precisava testar o pé para saber se conseguiria jogar. Resta saber se a lesão foi agravada durante os dois sets jogados.

– Rafael Nadal e Andy Murray escaparam de derrotas em suas estreias. O britânico esteve um set e uma quebra atrás de Lukas Rosol, mas avançou por 4/6, 6/3 e 6/2. O número 1, por sua vez, perdeu o set inicial para Radek Stepanek, mas virou: 2/6, 6/4 e 7/5. E Nadal teve de sacar em 2/3 e 0/40 na parcial decisiva.

– Em uma chave fortíssima, cheia de simplistas talentosos, os duplistas brasileiros conseguiram vitórias nada fáceis na primeira rodada. Bruno Soares e Alexander Peya derrotaram Eric Butorac e Raven Klaasen no match tie-break (2/6, 7/6 e 10/6), enquanto Marcelo Melo e Ivan Dodig superaram Marx Mirnyi e Mikhail Youzhny por 6/3 e 6/2. Soares e Peya agora vão encarar Andy Murray e Jonathan Marray. Melo e Dodig ainda não conhecem seus próximos oponentes.

– Sobre a polêmica (e anual) questão de muitos simplistas jogando duplas, recomendo o post da Aliny Calejon, do Match Tie-Break. Está ótimo. Leitura obrigatória!

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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