Um recomeço para Ivanovic, o começo do fim para Serena?
Alexandre Cossenza
19/01/2014 09h12
Antes que qualquer análise tática ou técnica seja feita, é preciso que se diga: desde os primeiros games, Serena Williams adotou uma postura estranha. Vibrou pouco, movimentou-se mal e errou mais do que de costume em bolas nada difíceis. Após a partida, seu técnico, Patrick Mouratoglou, esclareceu a questão e revelou que a número 1 do mundo sofreu uma lesão nas costas enquanto treinava alguns dias atrás – antes mesmo do confronto com Daniela Hantuchova, na terceira rodada.
Enquanto isso, Ana Ivanovic, que não tinha nada a ver com a história e nem sabia da lesão da adversária, deu sequência a seu belo torneio. Atacou os saques de Serena como se a americana fosse uma top 50 qualquer, comandou os pontos com os forehands e sustentou-se até em trocas de backhand, golpe que Serena vinha tendo bastante dificuldade para executar.
E talvez seja até injusto dizer, como fiz, que Ivanovic "deu sequência a um belo torneio". A sérvia fez mais do que isso. Além de dominar o jogo do fundo de quadra, a ex-líder do ranking segurou a onda lindamente com seu serviço. Não houve duplas faltas em break points, saques empurrados na hora de sacar para o jogo, nada! Ivanovic foi senhora da partida durante a maior parte do tempo – até mesmo no primeiro set, quando chegou a possuir uma quebra de vantagem.
Além de vencer e conquistar uma vaga nas quartas de final do Australian Open, Ivanovic tem à disposição uma chave, como dizem no meio do tênis, "aberta". A sérvia será favorita contra sua próxima oponente, a canadense Eugenie Bouchard, cabeça 30. Se avançar mais uma vez, fará a semifinal contra a chinesa Na Li ou a italiana Flavia Pennetta.
E, hoje, tudo parece possível para Ana Ivanovic.
Coisas que eu acho que acho:
– Como muito bem colocado pelo colega Mário Sérgio Cruz, "a mulher foi número 1 do mundo, campeã de Slam, mas essa foi a maior vitória da carreira". Somando as atuações em Melbourne com o título em Auckland, o momento de Ivanovic tem cara de um recomeço na carreira – na posição de candidata a títulos importantes, claro. Desde que deixou a ponta do ranking, em 2008, a sérvia terminou todas temporadas no top 30, mas não levantava um troféu relevante desde 2010. Trocou de técnicos inúmeras vezes, perdeu muitos quilos e, ainda assim, faltava algo. Hoje, parece finalmente à vontade com um estilo de jogo que funciona, sem falar na renovada devolução de saque que vem fazendo estrago.
– Na coletiva, Serena tentou evitar falar da lesão, mas Mouratoglou já havia aberto o jogo com a imprensa. Ainda assim, a americana admitiu que sentia dores, mas deu todo crédito possível para a adversária. Postura de número 1, legal de ver.
Sobre o autor
Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org
Sobre o blog
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