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De Serena a Teliana

Alexandre Cossenza

12/01/2014 08h01

Dia de sorteio de chave é dia de expectativa. Quem cai na chave de quem? Quais são os possíveis confrontos de semifinais? Qual dos favoritos será beneficiado? Essas e outras perguntas costumam ser respondidas quando as fichas, bolinhas ou papeizinhos são retirados de um saquinho, uma cesta ou um troféu (fichas e troféu, respectivamente, no caso do Australian Open).

O cenário, contudo, é um pouco diferente quando o nome de Serena Williams está envolvido. Em um mundo onde aparentemente apenas Victoria Azarenka é capaz de incomodar a número 1 e o consenso diz que só uma lesão ou um dia desastroso tira o título da americana, o sorteio da chave já não parece ser tão importante.

O que, então, dizer da chave feminina do Australian Open? Primeiro, o cruzamento das semifinais tem Serena e Na Li na parte de cima, enquanto Azarenka e Sharapova estão na metade de baixo. E ao mesmo tempo em há nomes interessantes no quadrante de Serena (Hantuchova, Stosur, Ivanovic, Zvonareva, Pironkova, Robson e Errani), eles não parecem reduzir seu favoritismo.

Ao mesmo tempo, Vika deve ter um caminho relativamente tranquilo até as oitavas, quando só então pode encarar Stephens ou Kuznetsova – a ainda assim, seria favoritíssima. Radwanska e Wozniacki são, em tese, os maiores obstáculos até a semifinal. Difícil imaginar a bielorrussa perdendo antes disso. E vale lembrar que a número 2 do mundo fez seu primeiro torneio do ano em Brisbane, onde alcançou a final e só perdeu para – adivinhem – Serena.

E Teliana Pereira? A brasileira, número 95 do mundo, estreia contra Anastasia Pavlyuchenkova, 30ª na lista da WTA. Todos gostaríamos de dizer que a pernambucana tem boas chances de avançar, mas a dura verdade é que Pavlyuchenkova é muito favorita. Sejamos sinceros: fosse a adversária da russa uma colombiana quase sem experiência em torneios de nível WTA, cravaríamos triunfo de Pavs em qualquer palpitão sem pestanejar.

Ah, a russa já perdeu jogos teoricamente fáceis? Claro que já. E ninguém vai dizer que é impossível uma vitória de Teliana. Não impossível, apenas improvável. As casas de apostas refletem bem isso. Na australiana Sportsbet, uma vitória da brasileira paga 5,80 para cada dólar apostado, enquanto um triunfo de Pavlyuchenkova rende apenas 1,14.

Jogos de primeira rodada que eu quero ver:

Serena x Barty. A número 1 contra uma tenista da casa com um belo potencial. Sendo otimista, pode até não ser um massacre. De qualquer modo, vale observar como a jovem Barty vai lidar com a situação.
Stosur x Zakopalova. A relação de Stosur com o Australian Open é curiosa. A pressão é enorme para a tenista da casa, que venceu apenas uma partida nas duas últimas edições do evento.
Robson x Flipkens. A inglesa tem mais talento que seu ranking e estreia contra uma cabeça de chave. Caso as dores no punho (que forçaram sua desistência na estreia em Hobart) tenham desaparecido, este pode ser um belo jogo.
Goerges x Errani. Porque a italiana, cabeça de chave 7, pode encontrar problemas no piso rápido de Melbourne.
Kerber x Gajdosova. Porque motivos profissionais, claro.
Petkovic x Rybarikova. A alemã é uma das personagens mais agradáveis do circuito, mas parece ter desagradado aos deuses das chaves. Encarou Serena na segunda fase em Brisbane e agora estreia contra uma cabeça de chave.
Schiavone x Cibulkova. A italiana sempre é capaz de dias brilhantes, ainda que sua forma atual e sua idade sejam grandes obstáculos.
Sharapova x Mattek-Sands. Há um pequeno, mas intrigante potencial para zebra aqui. Não é difícil imaginar a russa perdendo o primeiro set e passando um aperto até se encontrar e atropelar no terceiro set.
Teliana x Pavlyuchenkova. Porque eu nunca vi pela TV uma brasileira jogando uma chave principal de Grand Slam.

Jogos que vão dar sono, mas pode ser que a ESPN mostre assim mesmo:

Azarenka x Larsson. Passeio. E esse jogo pode ser bastante ruim de ver com a bielorrusa vencendo ou perdendo.
Kvitova x Kumkhum. Porque vai ser duro aguentar as piadinhas com o nome da tailandesa – mesmo que o jogo não dure muito.
Makarova x Venus. Ultimamente, ver jogos de Venus me dá mais nervoso (uma mistura de agonia com pena, na verdade) do que prazer. Ainda que seja notável sua bravura, é duro acompanhar o momento atual da americana.

Quem pode surpreender

Eugenie Bouchard, 19 anos e número 31 do mundo, já não é mais só uma adolescente com potencial. Ela é também uma adolescente com potencial. E agora é cabeça de chave em um Slam. Em um setor da chave cujos principais nomes são Errani, Vinci e Flipkens, quem sabe a canadense não consegue chegar às quartas?

Tsvetana Pironkova, 104 do mundo, furou o quali e foi campeã em Sydney, derrotando Errani, Kvitova e Kerber em sequência. As quadras mais velozes em Melbourne favorecem seu jogo, e sua seção da chave tem a imprevisível Stosur-versão-Austrália e a inconstante Ivanovic.

Garbine Muguruza vive momento parecido. Passou pelo quali em Hobart e foi campeã, ainda que em uma chave bem mais modesta (passou por Wickmayer, Flipkens e Zakopalova). Seu caminho em Melbourne, contudo, é complicado. A estreia é contra Kanepi, uma cabeça de chave, e Wozniacki (em potencial na terceira rodada) e Radwanska (oitavas) estão na mesma parte da chave.

Coisas que eu acho que acho:

– Se você leu o post sobre a chave masculina, deve ter notado que há um número considerável maior de "jogos que eu quero ver" na primeira rodada do torneio feminino. E acho mesmo que o sorteio das chaves criou duelos mais interessantes (ainda que não ótimos tecnicamente) entre as mulheres.

– Vendo o cenário pelo "copo meio cheio", são tantas as possibilidades de jogos interessantes que é bem provável que a ESPN consiga fugir daquelas surras que todos acham que são obrigados a mostrar só porque envolvem famosos.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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