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Pablo Albano, de volta e campeão aos 46

Alexandre Cossenza

26/11/2013 06h00

Pablo Albano deixou o circuito mundial em outubro de 2001, no ATP da Basileia. Na época, tinha 34 anos e era o número 50 do mundo no ranking de duplas. Seu nome apareceu na lista da ATP até 22 de dezembro de 2002. Pois agora, quase 11 anos depois, o argentino radicado no Brasil está de volta ao ranking mundial. Desde 4 de novembro, o veterano de 46 anos está lá outra vez.

E não é um daqueles retornos em que um tenista joga como convidado, ganha uma partida e desiste em seguida. Sim, Albano ganhou um wild card para um Future em Belém, mas entrou em quadra e foi logo campeão ao lado de seu pupilo, Fernando Romboli – que, não faz muito tempo, voltou aos torneios após uma suspensão de oito meses. Aproveitei o clima bastante convidativo do Itaú Masters Tour, em Angra dos Reis, e bati um interessante papo com Albano, que não tem interesse algum em fazer um retorno full-time ao circuito.

Entre uma e outra pergunta descontraída, perguntei se não era preocupante que, em um evento normalmente disputado por jovens em ascensão, um tenista de 46 anos seja campeão. Leia como foi a conversa.

Antes de Belém, você jogou um torneio ano passado com o Eduardo Russi. Durante esses anos todos, não bateu vontade de entrar em quadra?
Para mim, para jogar no nível desses meninos… Eu não consigo carregar ninguém. Meu parceiro tem que jogar bem. Eu não tenho mais físico. Preciso jogar solto. E, respondendo a sua pergunta, eu considero que saí muito bem do tênis. No meu último ano de tenista, ficou muito claro. Cada lugar que eu ia jogar, eu sabia que era a última vez. Fui fazendo uma despedida de cada lugar. Austrália, Roland Garros, US Open, Wimbledon… Nunca me deu vontade de voltar. Não queria, não quero. Já passou. Foi uma época fantástica, podendo tirar conclusões de coisas.

O que fez você entrar na chave em Belém?
Estava indo o Eduardo Russi para jogar com o Romboli, mas o Eduardo, um dia antes de viajar, passou mal e cancelou a viagem. Aí o Romboli começou a insistir para a gente jogar junto e falei "vamos lá, vamos jogar". E eu fui para jogar um jogo, sei lá. Aí a primeira partida foi dura, mas ganhamos. U, dois, três, quatro jogos…

Não é preocupante para quem observa o tênis brasileiro quando um tenista de 46 entra em um Future e ganha? Ainda que seja uma chave de duplas e você tivesse um bom parceiro?
Eu acompanho os meus atletas, vejo como se joga, e eles talvez tenham grande vigor, mas não se joga legal, não se joga bem.

Você está falando de leitura de jogo?
Sim, sim, sim. Quando você consegue ter essa grande energia e aprender a jogar, saber jogar o jogo, utilizando as forças, a cabeça, o momento do jogo, aí que um jogador está apto a fazer bons resultados.

Muita coisa que é automática para você ainda não é para eles…
Sim. Eu fui aprendendo também. Na verdade, é de muito jogar, de jogar alto nível, que você vai sabendo por onde a situação vai. Para mim, ter jogado com o Romboli foi muito rico no sentido além do resultado. Eu obriguei ele a fazer coisas que ele não fazia. Por exemplo: sacar e volear. Eu falei: "Comigo, você vai sacar e volear. Se vira. Faz! Eu te ajudo na rede, mas se vira." Aí o cara descobre que ele tem a capacidade de fazer isso.

E ele fez o torneio inteiro?
Fez. Quando ele ficava no fundo, eu dizia "você está fazendo o que aqui? Não estou entendendo." Compartilhamos momentos que conversamos sobre pressão dentro da quadra. Para ele, deu uma clareada em algumas coisas. De como pensar, como agir. E eu aprendi também. Aprendi muito estando do lado de jogadores bons. Isso me surpreendia. Eu joguei um ano e meio com o (Alex) Corretja, quando ele estava 7 do mundo em simples. Ele queria melhorar seu jogo ofensivo. Eu era mais velho que ele sete, oito anos. Fora da quadra, ele era meio crianção, mas dentro da quadra a criança era eu. A cabeça dele funcionava de uma forma… Os caras como ele, internamente, sempre queriam mais, sempre iam para cima, atropelavam. O Guga me mostrou isso também. Quando ganhou seu primeiro Roland Garros, jogamos uma série de torneios indoor no fim do ano. O cara era isso: fazia 2/1, 3/1, 4/1… Atropelava. Então essas coisas a gente passa. É positivo.

E vai acontecer de novo?
Não sei (risos). Não programo, não sei. Sou sincero, muito claro. Jogar, posso jogar qualquer dia. Para eu poder competir, tenho que estar bem fisicamente. Meu objetivo é não me machucar. Conheço meus limites. Não me motiva entrar em um quali de um torneio. Fiz isso muitos anos. não é "vou lá, tentar…". Passou. Eu sei da idade que tenho, sei até onde posso dar.

Você teve a curiosidade de ver o ranking?
Não vi, não vi (risos). Um dos meninos falou que eu estava 900, mil, coisa assim.

Novecentos e setenta e seis.
Isso, isso, isso. Para mim, foi engraçado, foi divertido.

E como você está vendo a volta do Romboli (Fernando Romboli foi flagrado em um antidoping e ficou fora do circuito por oito meses)?
Está boa. Ele sofreu, passou por momentos difíceis e está se fortalecendo interiormente. É o que ele mais precisa.

Ele me disse que amadureceu cinco anos naqueles oito meses…
Sim, porque é a minha grande luta com eles. Eu preciso que eles sintam, vivam isso de outra maneira. Eles têm que viver para isso.

Na minha conversa com o Julio Silva, ele disse que tem esse problema de fazer o garoto perceber que não é fácil. É a grande dificuldade de ser treinador?
Isso é uma coisa que, em primeiro lugar, os meninos têm que se espelhar em outras pessoas que estão nessa sintonia que estamos falando aqui. As pessoas que fazem a parte de formação têm que ir falando sobre isso. Não é pegar um menino de 16, 17 anos, e você explicar tudo isso em pouco tempo. Por isso, há muitos que você aperta, e o cara (gesticula demonstrando uma refugada)… É um ponto que é a luta do profissionalismo. Quando joguei com Romboli, foi muito bom. Puxamos para o mesmo lugar. É mostrar para eles, levando para treinar com gente melhor. Já levei eles para a Argentina, coloquei para treinar com gente boa. É mostrar o ritmo, e eles se entregarem. É por aí. Eu vejo muito que o que você está passando para ele bater na bolinha, para fazê-los jogar, é um aprendizado que vão levar para a vida toda. Em outras áreas. Todos os valores de responsabilidade, disciplina, força de vontade, tolerância, lidar com frustrações… Fora da quadra, lidamos com isso quase todo dia. A gente tem o intuito de fazer bons jogadores, mas formar pessoas. Vamos crescendo juntos.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.


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