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Saque e Voleio

Querido Papai Noel…

Alexandre Cossenza

16/12/2019 04h00

O ano que chega ao fim foi mais do que interessante. Foi intrigante. Se os veteranos seguem dominando o circuito masculino, o feminino viu quatro campeãs de slam diferentes, com direito a mais duas derrotas de Serena em decisões. No meio disso tudo, Andy Murray parou e voltou, Federer chegou ao 100º título, Auger-Aliassime despontou, Andreescu brilhou, Nick Kyrgios atirou uma cadeira na quadra (entre tantas outras coisas), Djokovic liderou a derrubada do presidente da ATP, Gimelstob foi condenado, Djokovic ficou em silêncio, Del Potro se lesionou (sim, outra vez), Nadal conquistou Roland Garros (zzz), Cori Gauff apareceu, Ferrer, Cibulkova e Berdych se aposentaram, os Bryans e Wozniacki anunciaram que vão parar, e a Espanha foi campeã da Copa Davis outra vez. Ah, sim: também teve AQUELE 40/15.

O Brasil ganhou um ouro no Pan, mas perdeu seu ATP de São Paulo, perdeu em casa para o time C da Bélgica na Copa Davis, perdeu para a Eslováquia na Fed Cup, se deu mal nos sorteios da Fed e da Davis de 2020, perdeu o apoio para Meligeni e Orlandinho, perdeu Bia Haddad em um caso de doping e perdeu Feijão em um caso de corrupção. Se serve de consolo, ganhou Jaime Oncins e Roberta Burzagli como como belos capitães e Marcos Daniel como um auxiliar que tem muito a passar adiante. Relatei isso tudo do meu jeito de sempre, com minhas convicções, meu senso crítico e respeitando meu princípio de que não preciso nem posso escrever textos apenas para agradar a pessoas ou interesses específicos (e isso quase me custou uma incrível viagem). Por isso, querido Papai Noel, acredito que fui bonzinho o bastante e escrevo pedindo ao senhor um (ou mais, quem sabe?) dos presentes abaixo – para mim e pessoas que admiro.

Um Andy Murray saudável

Se tem alguém neste mundo tenístico que já passou por um bocado na vida… Do atentado na sua escola na Escócia até a pressão para encerrar um jejum de mais de 70 anos, incluindo uma operação nas costas no melhor momento da carreira e uma lesão seríssima no quadril quando era número 1 do mundo (e nem precisa contar o drama que é jogar tênis na mesma época que Nadal, Djokovic e Federer!), Andy Murray está mais do que escolado em lidar com adversidades. Se alguém merece terminar a carreira sem sentir dor e se divertir competindo, é ele. Que 2020 seja um ano de paz mental – pelo menos fora da quadra, já que dentro parece ser impossível – para o britânico.

Replay confiável no saibro

"Por que não tem Hawk-Eye no saibro?" é uma pergunta recorrente (e que, sejamos sinceros, enche o saco) durante a temporada de terra batida. Obviamente, é muito mais confiável ter o árbitro de cadeira olhando a marca exata da bola em vez de confiar num sistema que usa câmeras para rastrear a bola e calcular o local onde a bola supostamente quicou. Além disso, o Hawk-Eye precisaria ser calibrado a cada jogo no saibro, o que, somado à margem de erro do sistema, torna a coisa inviável. Ano passado, o ATP 500 de Barcelona usou o sistema Foxtenn, que analisa o local exato do quique da bola e mostra o replay do lance real no telão. Por mais disso em 2020. Quem sabe o Rio Open não surfa essa onda, hein?

Mais tênis para mim

Ok, momento de seu um pouco egoísta e pedir algo só para mim. Entre mudanças de casa (três em seis anos), cidade (duas) e trabalhos em horários diferentes, sobrou pouco tempo para entrar, de fato, em quadra. Que o período em São Paulo seja melhor neste sentido. E se alguém tiver uma academia ou quadra para indicar na capital paulista, mande, por favor, um email (endereço no box "sobre o autor").

Mais beach tennis no blog

A viagem para Aruba foi uma experiência deliciosa, não só pela ilha, mas pelo beach tennis, uma modalidade interessante, em crescimento e com pouca cobertura sobre os profissionais. Que em 2020 eu consiga tempo, entrevistas e histórias interessantes para incluir a modalidade regularmente no Saque e Voleio. E que CBT e ITF também deem mais atenção ao beach tennis.

Ano mais feliz para o tênis brasileiro

Brasil Open, Feijão, Bia Haddad, Bellucci (você leu o primeiro parágrafo, né?)… A temporada de 2019 não foi lá muito simpática com o tênis brasileiro. Que o Papai Noel tenístico, que eu trato quase como um gênio da lâmpada, deixe alguns presentinhos ao longo do ano que vem. Quem sabe não será mais um ano de crescimento para João Menezes e Thiago Wild? Quem sabe Thomaz Bellucci não encontra finalmente o caminho para voltar aos torneios grandes? Quem sabe Bia Haddad não é liberada para voltar a competir ainda em 2020?

Mais tênis e mais qualidade na TV

A WTA migrou do cabo para os streams do DAZN, mas a ATP segue firme, seja com os 250 e 500 na Band ou com os Masters 1000 no SporTV. Os slams, a Fed Cup e a Copa Davis continuam com suas transmissões, o que faz parecer que é possível ver tênis o tempo inteiro na TV brasileira. De fato, o cenário aqui não é dos piores, mas sempre tem aquele jogo que fica fora da TV por causa de videogame, ciclismo, futebol americano ou aquele VT gostoso da Série B. Não tenho muita esperança em um milagre natalino (ou, no caso, pós-natalino), mas seria muito legal se os canais tratassem seus produtos com mais carinho, seja exibindo mais partidas e formando público, seja escalando narradores que realmente se importam com a modalidade. Infelizmente, não é assim hoje em dia…

Menos mentira deles, menos ignorância nossa

Não dá para não mostrar os jogos de um brasileiro relevante em um dos torneios mais importantes do ano e, alguns dias depois, ter um narrador dizendo que seu canal está sempre apoiando o tênis brasileiro. Mentira. Não dá para fingir que um canal – qualquer canal – estaria mostrando um atleta brasileiro se não houvesse aqueles anúncios exaustivamente repetitivos de bancos e montadoras. Nenhum canal de TV – aberto, a cabo ou on-demand – faz favor ao mostrar uma competição qualquer. O telespectador que adota o discurso "não reclamo do canal porque eles já estão mostrando" o faz por ignorância sobre o lado comercial da coisa. Que eles mintam menos, que nós entendamos mais o cenário.

Real mais forte

Nada indica, pelo menos por enquanto, que haverá uma mudança considerável nesse sentido, mas uma quedinha do dólar (e do euro) seria bem-vinda para quem gosta de ver tênis de qualidade e assina serviços como o TennisTV (US$ 199,99 por ano), a WTA TV (US$ 74,99) e as transmissões ao vivo no site da ITF (€ 39,99). Esse pacotão custa cerca de R$ 1.300 por ano.

Frilas pagos

Não é qualquer jornalista que pode ser contratado hoje e começar a escrever decentemente sobre tênis amanhã. O esporte tem suas especificidades e um público peculiar. Logo, se alguém cria um site, revista ou podcast e contrata pessoas para trabalhar nele (seja em regime formal ou informal), que cumpra seu compromisso e pague a pessoa. Especialmente se o contratante vai usar sua conta de Instagram para registrar seus passeios nada baratos por aí. Dever dinheiro é feio. Revela (falta de) caráter. Que em 2020 haja mais gente trabalhando na área e que todos recebam o que foi acordado.

Relógios para todos

Que Papai Noel possa distribuir relógios para quem escreve sobre a modalidade. Será bom para todos. É importante registrar o horário certo de publicação de cada texto. Pega mal quando alguém publica, por exemplo, o relato de uma partida quatro minutos antes de ela acabar…

Neuralizadores

Por fim, para meus amigos que sofreram com AQUELE 40/15 (depois do 15/40 de 2010 e do 40/15 de 2011) só posso pedir de presente uma visitinha de Will Smith e Tommy Lee Jones vestindo ternos pretos…

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.