Federer assinou obra-prima para dar a Nadal o título de campeão da temporada
Fazia quatro anos que Roger Federer não computava uma vitória sobre Djokovic. Desde o ATP Finals de 2015, suíço e sérvio duelaram na quadra dura e na grama, em quadras indoor e outdoor, e Nole sempre encontrou uma maneira de sair vencedor – até mesmo quando encarou dois match points no saque do rival, como aconteceu na final de Wimbledon desde ano.
A história foi diferente nesta quinta-feira, em Londres. Foi um raro jogo de eliminação direta ainda na primeira fase do torneio. Federer corria o risco de não alcançar as semis do Finals apenas pela segunda vez em suas 17 participações no evento, enquanto Djokovic precisava triunfar para manter-se vivo na briga para terminar a temporada como número 1 do mundo.
Desde o primeiro game, ficou claro que Federer estava afiado e focadíssimo. Djokovic salvou um break point já de cara, mas não conseguiu o mesmo no terceiro game. A pressão do suíço, colado na linha de base, era sufocante. Mais ainda porque Roger dominou com seu serviço. No primeiro set, registrou oito aces e 83% de aproveitamento de primeiro saque. Só precisou do segundo serviço quatro vezes e, ainda assim, ganhou todos pontos com ele.
Resumir a atuação de Federer ao saque, contudo, é não entender as ligações nervosas entre seu primeiro golpe e o resto de seu tênis. O serviço é, sim, a ignição, mas não é o combustível que mantém a máquina suíça funcionando 100% do tempo. Devoluções vencedoras, subidas à rede no 30/30, forehands precisos, disparados sempre a centímetros da linha de base. O Federer de hoje estava com todas engrenagens azeitadas e trabalhando gloriosamente. Djokovic cometeu míseros seis erros não forçados no set inicial e sequer equilibrou o jogo. Federer deu apenas um ponto em falha não forçada.
O segundo set foi menos sufocante, mas igualmente brilhante. Durante a maior parte do tempo, Federer anulou a temida devolução de Djokovic. Quando precisou encarar um break point, respondeu com uma combinação mortal que mandou Nole correndo loucamente de um lado ao outro da quadra. Aproveitou o embalo quebrando o oponente imediatamente depois. O sérvio não encontrou uma solução a tempo.
No fim, o triunfo por 6/4 e 6/3, o 23º de Federer em 49 duelos com Djokovic valeu, acima de tudo, pela obra-prima que o suíço assinou para eliminar o poderoso e determinado sérvio. E se havia alguma dúvida sobre seu nível de confiança após os match points não convertidos de Wimbledon, a declaração após o triunfo diz tudo: "Uma vitória como a de hoje, contra Novak, na minha idade, quase conta como duas porque se ainda estou no circuito é porque acredito que posso derrotar os melhores" (veja abaixo).
Fedal à vista?
No outro resultado do dia, Dominic Thiem, já classificado em primeiro do grupo, foi derrotado por Matteo Berrettini por 7/6(3) e 6/3. Parece que vale pouco para o italiano, que já não tinha chances de avançar às semifinais, mas ele leva 200 pontos na conta – o que, num torneio normal, ele precisaria vencer pelo menos quatro partidas para conseguir.
A dúvida agora é para saber se Rafael Nadal vai se classificar para as semifinais. Se isso acontecer (ele precisa vencer Tsitsipas e torcer para que Medvedev derrote Zverev nesta sexta-feira), o espanhol vai avançar em primeiro no grupo e encontrar – olha só! – Roger Federer nas semifinais. Será?
Coisas que eu acho que acho:
– O resultado garantiu Rafael Nadal como grande campeão da temporada. Vencedor de Roland Garros e do US Open, vice na Austrália e semifinalista em Wimbledon, o espanhol fecha pela quinta vez na vida (2008, 2010, 2013, 2017 e 2019) um ano como número 1 do mundo. Federer (2004, 2005, 2006, 2007 e 2009) e Djokovic (2011, 2012, 2014, 2015 e 2018) também fizeram isso por cinco vezes.
– Com 33 anos, Nadal é o tenista mais velho a fechar uma temporada como número 1 do mundo. A estatística existe desde 1973, quando o ranking da ATP foi implementado. Nada mau para quem foi foco de tantas "previsões" que imaginavam Rafa aposentado e fisicamente destruído aos 25… Federer, por exemplo, terminou um ano como número 1 pela última vez aos 28 anos.
– Eu poderia escrever mais e mais linhas sobre a longevidade extraordinária de Rafa Nadal, mas já deixei alguns textos sobre isso no blog ao longo do tempo. Não é de hoje que o espanhol, que evoluiu tecnicamente de forma assustadora desde que conquistou seu primeiro slam, dá amostras de sua eficiência mesmo sem a velocidade de outros tempos. Isso também é genialidade.
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