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Três chaves para a vitória de Bia Haddad sobre Garbiñe Muguruza em Wimbledon

Alexandre Cossenza

02/07/2019 17h12

O triunfo por duplo 6/4 sobre Garbiñe Muguruza foi, sem dúvida, a vitória mais relevante da carreira de Beatriz Haddad Maia. Sim, Bia já havia derrotado Sloane Stephens, #4 do mundo, em fevereiro deste ano, no WTA de Acapulco, mas superar em Wimbledon uma ex-número 1 e campeã do torneio… Foi a primeira vez que Bia cortou uma cabeça desse porte em um slam.

É bem verdade que Muguruza, atual 27ª colocada no ranking, não faz uma temporada espetacular e não vivia um grande dia, mas a brasileira teve um pouco a ver com isso e foi especialmente competente em alguns aspectos (e momentos!) importantíssimos do jogo. Para mim, três elementos fizeram uma grande diferença:

1. Recuperação rápida

Desde abril, depois que conquistou o título do WTA de Monterrey, Muguruza não mostra um tênis convicto. Perdeu duas partidas na Fed Cup, caiu na estreia em Madri e parou nas oitavas em Roma e Roland Garros. Muito pouco para uma tenista de seu potencial. Abrir 2/0 contra Bia poderia dar a Muguruza uma confiança que ela não vinha mostrando.

Por isso foi fundamental que a brasileira devolvesse a quebra logo, o que aconteceu no quarto game. A partir dali, com o placar igualado e brasileira já mais à vontade em quadra, foi possível estabelecer um jogo parelho, exigindo bastante de uma Muguruza que não tinha tanto assim para mostrar hoje.

2. Solidez

A Bia que muitas vezes entra em quadra com um tênis matar-ou-morrer foi, nesta terça-feira, mais paciente, tentando construir pontos em ralis. Sinal de amadurecimento, de uma atleta que entende que não precisa entrar e vencer apenas com winners todos os dias. Às vezes, é tão eficiente quanto fazer o adversário conquistar cada ponto.

Além disso, se Muguruza não foi a tenista agressiva e precisa de 2017 (problema dela!), a brasileira alongou as trocas de bola e atacou "na boa", quando as oportunidades se apresentaram. A escolha de golpes foi melhor. Os números – 20 winners e 26 erros não forçados contra 20 e 28 de Muguruza, respectivamente – refletem o equilíbrio dessa batalha do fundo.

3. Pontos importantes

Se houve equilíbrio do fundo de quadra, onde Bia fez a diferença? Nos pontos mais importantes. Além dos três break points convertidos em oito oportunidades (Muguruza converteu um de cinco), a paulista também foi superior nos pontos que levam a esses break points – algo que o técnico e comentarista Brad Gilbert costuma chamar de set-up points, ou seja, os pontos que preparam os pontos maiores.

Onde estavam esses pontos? No primeiro set, por exemplo, o terceiro game ficou em 30/30, e Bia venceu o ponto seguinte; o sétimo game teve quatro igualdades, com Bia cedendo (e salvando!) apenas um break point; e o nono game também esteve em "iguais", e Bia confirmou o serviço. No décimo, depois do 30/30, Muguruza cometeu uma dupla falta e um erro de direita. Foi a quebra que deu o set à brasileira.

No segundo set, Bia novamente foi pressionada no quinto (30/30) e no sétimo games (três igualdades). Muguruza até conquistou dois break points, mas não converteu. Errou, inclusive, um swing volley com a quadra aberta em uma dessas chances de quebra. Bia, repito, não deu nada de graça nesses momentos. Muguruza cometeu uma dupla falta no match point.

Coisas que eu acho que acho:

– Bia tem uma partida um tanto ganhável na segunda rodada contra a britânica Harriet Dart, #182 do mundo, convidada da organização que estreou eliminando a americana Christina McHale. Caso alcance a terceira rodada, a brasileira deve encontrar a atual número 1 do mundo e campeã de Roland Garros, Ashleigh Barty. Vale lembrar que Bia caiu no chamado "Grupo da Morte", um quadrante que tem Barty, Bencic, Serena, Goerges, Suárez Navarro e Kerber. Só uma delas vai chegar às semifinais.

– A vitória sobre Muguruza praticamente garante a volta de Bia Haddad Maia ao top 100. Se chegar à terceira rodada, ficará até perto do 80º posto.

– Sobre a decisão do SporTV de não mostrar a partida entre Bia e Muguruza (o canal mostrou flashes), publicarei outro post. Confiram amanhã cedo no blog.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.