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Saque e Voleio

Como é jogar tênis de graça no Centro Olímpico

Alexandre Cossenza

25/06/2019 04h00

Há tempos sem encontrar um horário e um lugar para bater uma bolinha, o colega João Victor Araripe, do Globoesporte.com, e eu decidimos tentar usar o Centro Olímpico de Tênis. Era unir o útil ao agradável. Jogar tênis sem pagar e ver de perto como está o local, assim como testar o serviço de reserva gratuita de quadra para a população, disponível no site rio.atleta.com.

A reserva é bem fácil de fazer. Basta acessar o site, escolher dia e horário (dá pra escolher à vontade porque o serviço é muito pouco utilizado, ainda que gratuito (já, já chegaremos aos motivos para isso). O formulário pede email, nome e documentos dos acompanhantes e as placas dos carros. A confirmação da reserva chega rapidinho no email. Pouco depois, um segundo email traz a chamada "credencial olímpica", um documento para imprimir e mostrar para possibilitar o acesso às instalações.

Aqui, um primeiro problema. O email com nossa reserva indicava que a entrada de veículos era pelo portão 7, cujo acesso é por trás do Centro Olímpico. Chegando lá, vi que não havia como chegar por lá às quadras de tênis – há uma série de grades e portões controlando o acesso às diferentes arenas. Na porta do velódromo, um segurança nos explicou que nossa entrada deveria ter sido feita pelo portão 10, justamente onde eu pedi informações para chegar ao "portão 7, para as quadras de tênis", e um primeiro segurança havia me dito que a entrada era por trás do centro olímpico.

Mas tudo bem, o segurança do velódromo foi educado e nos mostrou que poderíamos ir andando até o Centro Olímpico de Tênis. Caminhar, àquela altura, seria mais prático que contornar de carro a Abelardo Bueno. E assim chegamos à Quadra 1, reservada pelo João. Outro problema foi que a "credencial olímpica" veio com o horário errado. Em vez de mostrar 11h do dia 21 de maio, horário que reservamos, exibia 12h – o que poderia ter causado confusão. Fiz uma segunda reserva antes de escrever este texto e aconteceu o mesmo (embora, da segunda vez, a confirmação tenha acertado ao indicar o portão 10 como acesso para veículos).

A Quadra 1 era a quadra mais perto da Quadra Central, que ainda estava coberta por um tapete de grama artificial deixado por outro evento. No caminho, também passamos por uma grande caixa de areia com restos da estrutura da última competição realizada lá (segundo o calendário no site da AGLO, a segunda etapa do Beach Wrestling World Series – BWWS 2019). Sobre a quadra em que jogamos, só elogios. O piso está bem cuidado, a pintura já foi refeita depois dos Jogos (ainda há no Centro Olímpico quadras desbotadas com a marca das Paralimpíadas), e a rede estava perfeita, com aparência de nova.

João e eu éramos os únicos jogando no complexo. Imagino que o serviço não seja muito conhecido, mas é preciso apontar alguns incômodos que devem contribuir para isso. As quadras não têm bancos nem cadeiras. Também não há sombra. Se há bebedouro, não vimos. Os banheiros ficavam longe. Imaginando o cenário, fomos prevenidos: levamos água e bonés. Depois do bate-bola, fomos até a Quadra Central. Pedimos permissão para entrar e tirar fotos. Aproveitamos e usamos um dos vestiários para tomar banho. Não havia banco, cadeira, tapete de borracha, papel higiênico ou água quente.

O estado da Quadra Central não foi novidade pra nós. Reportagens recentes mostravam um certo descaso com a estrutura. De qualquer modo, é triste ver cadeiras desbotadas e corredores com o teto caindo aos pedaços – literalmente! – em um lugar que menos de três anos atrás viu Andy Murray conquistar sua segunda medalha de ouro em simples e Rafael Nadal ouvir o hino espanhol nas duplas.

Nada contra eventos de showbol, vôlei de praia ou bolinha de gude. Se não há torneios de tênis, que aproveitem a estrutura para o que for. Paciência. Mas dá um gosto amargo na boca saber que o único evento recente da modalidade no Centro Olímpico de Tênis foi a "Primeira Etapa do Torneio Master Cup de Tênis do Condomínio Cidade Jardim"…

Coisas que eu acho que acho:

– A experiência completa, da reserva até o vestiário, vale uma nota 6,5. O principal atrativo é mesmo a gratuidade (o aluguel de quadra por 1h na Lob, uma conhecida academia de Laranjeiras, custa R$ 105). Ir até a Barra, jogar e ver de perto dá a impressão de que o serviço poderia ser melhor com um pouco mais de carinho dos gestores do local.

– Entrei em contato com a assessoria de imprensa da Autoridade de Governança do Legado Olímpico (AGLO), que me passou o contato de seu presidente, Paulo Márcio Dias Mello. Liguei várias vezes ao longo dos dias 22 e 23 de maio (dias seguintes ao de nosso bate-bola), mas não consegui falar.

– Recentemente, o blog Olhar Olímpico lembrou que a AGLO tem que ser extinta no dia 30 deste mês em reportagem na qual Dias Mello indaga sobre o Centro Olímpico de Tênis, que não recebeu nenhuma competição de alto rendimento desde as Paralimpíadas: "Cabe à Secretaria Especial do Esporte resolver essa situação. Não dá dinheiro para a confederação? Porque não obriga a usar o centro de tênis? Eu abri minhas portas, mas eles não se interessam. Vira e fala: 'Opa, quem te dá dinheiro sou eu, você tem que fazer lá."' Leia na íntegra aqui.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.