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Por que Thiem pode finalmente destronar Nadal em Roland Garros

Alexandre Cossenza

08/06/2019 14h29

Não há como fugir do óbvio. Rafael Nadal é favorito para conquistar, neste domingo, seu 12º título de Roland Garros. Hipérboles pleonásticas sobre tenista e torneio à parte, o espanhol terá um desafiante de peso pela segunda vez seguida: Dominic Thiem, atual número 4 do mundo, derrotou o líder do ranking, Novak Djokovic e vive possivelmente o melhor momento da carreira.

Não é por acaso, afinal, que o jovem de 25 anos foi campeão do Masters 1.000 de Indian Wells e, em março, quando bateu Roger Federer na final; levantou o troféu do ATP 500 de Barcelona, em abril, após eliminar Nadal na semi; e, agora, está de volta à decisão em Roland Garros, em uma bela campanha.

Obviamente, superar Nadal em Paris é para poucos. O espanhol venceu 92 das 94 partidas que fez em Roland Garros, soma 117 vitórias em 119 duelos em melhor de cinco sets no saibro, nunca perdeu uma final no slam da terra batida… E daria para incluir mais uma meia dúzia de parágrafos sobre seus números no piso, só que o ponto aqui é mostrar os motivos pelos quais Dominic Thiem não é um azarão tão grande assim. Vejamos os porquês:

1) Armas pesadas

Contra um Nadal que se defende e contra-ataca tão bem, é preciso potência. Thiem tem isso dos dois lados. Seu forehand e seu backhand são canhões que podem fazer do rival um mero espectador a qualquer momento. Quando está com os dois golpes calibrados, o austríaco pode exigir um bocado do espanhol, que precisará de bolas fundas e pesadas para equilibrar as ações.

Parte integrante – e importante – desse arsenal é o saque de Thiem. Potente e variado, ele cria a possibilidade de colocar Nadal na defensiva imediatamente, seja com uma ótima combinação de saque aberto + forehand, o que Thiem faz muito bem, seja "apenas" com a potência extra que pode lhe dar aces e pontos de graça com serviços chapados. Como sempre, o fundamento será essencial para Thiem triunfar sobre Nadal.

2) Defesa

Dá para dizer que a velocidade de Thiem não é sua qualidade mais reconhecida, mas o garoto é rápido e se mexe como poucos no saibro. Além disso (e também por causa disso, claro), sua capacidade defensiva é enorme. O austríaco não só alcança muitas bolas, mas sabe o que fazer com elas, seja disparando um contragolpe fulminante, aplicando um lob ou simplesmente usando spin e fazendo o adversário jogar uma(s) bolas(s) a mais.

Thiem também chega bem em curtinhas e sabe o que fazer junto à rede. Djokovic que o diga. Neste sábado, o sérvio sofreu por um bom tempo nas disputas de "quadradinho" com o número 4 do mundo. E atenção: dizer que Thiem se defende muito bem é muito diferente de rotulá-lo como tenista defensivo. Pelo contrário. O austríaco sempre busca o ataque primeiro. Ser bom na defesa enquanto tenista ofensivo é justamente o que o separa da maioria no saibro.

3) Histórico recente

Se é verdade que Thiem nunca tirou um set de Nadal em Roland Garros (derrotas em 2014, 2017 e 2018), também é inegável que o austríaco vem incomodando Rafa cada vez mais. Nos últimos seis jogos no saibro, são três vitórias para cada. O encontro mais recente, no ATP 500 de Barcelona, terminou com um duplo 6/4 para Thiem que não refletiu o que aconteceu em quadra. O austríaco poderia ter vencido com mais facilidade.

O Nadal de Roland Garros, é bom ressaltar, vem jogando em um nível acima do que mostrou no torneio catalão, mas se existe alguém no circuito com a confiança de que pode, finalmente, destronar o espanhol em Roland Garros, esta pessoa vai estar em quadra neste domingo.

4) Experiência

Ano passado, em Roland Garros, Dominic Thiem fez sua primeira final de slam. Na ocasião, ele também chegava com uma vitória recente e convincente sobre Nadal (semifinais de Madri), mas era uma experiência nova, e a falta de "cancha" pesou. Nadal fez 6/4, 6/3 e 6/2 sem muito drama.

Este ano, a final não é mais novidade. Com 25 anos, Thiem é mais maduro, mais completo e mais consistente ainda. E ele, mais do que ninguém, deve acreditar que pode dar esse passo a mais. Que ninguém se espante se, finalmente, acontecer.

5) Físico

Não são muitos que conseguem jogar tantos ralis e manter o nível de Rafael Nadal por tanto tempo. No US Open do ano passado, naquele partidaço de cinco sets, Thiem mostrou que tem essa capacidade. E se há alguém preocupado com o fato de o austríaco chegar à final sem um adia de folga por causa do mau tempo, a verdade é que nem ele anda tão preocupado assim.

Como o próprio Thiem disse na coletiva pós-semifinal, seria ruim mesmo se ele tivesse ficado 4h em quadra contra Djokovic em um dia só. Como a partida foi dividida entre sexta e sábado, o estrago não foi tão grande assim. Na prática, é como se o #4 tivesse feito dois jogos (um de dois sets, outro de três) como em um torneio normal.

Coisas que eu acho que acho:

– Dito tudo isso, ainda é possível que Thiem consiga fazer uma bela apresentação e saia derrotado – como aconteceu no US Open do ano passado. Não é por acaso que Nadal venceu 11 finais em Roland Garros. Em várias dessa campanhas, ele jogou seu melhor justamente na decisão.

– Admito que eu tinha o texto acima pensado (não escrito) já antes da semifinal entre Thiem e Djokovic. Ao ver o fim de jogo, com o austríaco hesitante e quase pedindo para o sérvio virar a partida, perdi um pouco da fé. Maaaaas cada jogo é um jogo. Pode ser que o nervosismo tenha todo ido embora nessa semi.

Onde ver

O Bandsports exibe a partida a partir das 10h (de Brasília), mas também é possível ver todas as partidas do slam parisiense pelo pacote oferecido pelo site oficial de Roland Garros, disponível para desktops e plataformas móveis.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.