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RG 2019: o guia da chave masculina

Alexandre Cossenza

24/05/2019 14h36

Faltam menos de 48h para o início de Roland Garros 2019, as chaves já foram sorteadas, e o cenário vai se completando, deixando cada vez mais claro quem tem as melhores chances de conquistar o slam do saibro. Rafael Nadal, campeão do torneio 11 vezes, é novamente o favorito, mas Novak Djokovic, número 1 do mundo e ganhador dos últimos três slams, é um forte candidato para fechar pela segunda vez na carreira o chamado "Djokoslam" e possuir, pela segunda vez na carreira, os quatro títulos de slam ao mesmo tempo (ele venceu os quatro de forma consecutiva em 2015-16)

Se já existe uma grande expectativa por mais uma final entre Nadal e Djokovic – eles decidiram o Australian Open e, mais recentemente, o Masters 1000 de Roma – é preciso lembrar que há outros nomes muito fortes nessa briga, como Dominic Thiem, Roger Federer e Stefanos Tsitsipas. Quais as chances de cada um? Quem pode pintar como grande zebra? O que pode afetar as previsões nas próximas duas semanas? É para isto que serve este "guiazão" do torneio. Aqui, analiso as chaves, os favoritos e quem pode surpreender. Também cito o dinheiro envolvido, as cotações das casas de apostas e dou as melhores opções para acompanhar o torneio. Role a página e fique por dentro!

O "campeão" do sorteio

Entre os quatro principais cabeças de chave, Rafael Nadal é o óbvio campeão do sorteio porque escapou de um duelo com Dominic Thiem antes da decisão. O austríaco, lembremos, venceu dois dos últimos quatro jogos com o espanhol e três dos últimos seis, se contarmos apenas o saibro. Tendo em conta o último encontro, uma vitória maiúscula de Thiem em Barcelona, fãs de Nadal têm muito a comemorar com o sorteio. Confirmados os favoritismos, o garotão vai encontrar Djokovic em uma semifinal enquanto Nadal teria pela frente Roger Federer ou Stefanos Tsitsipas. Na terra batida, o histórico sugere um favoritismo muito maior do espanhol contra ambos do que contra Thiem. Logo, o hendecacampeão leva vantagem aqui.

E nem foi só por isso que Nadal se deu bem. Ele pega Hanfmann na estreia, Maden ou Coppejans na segunda rodada e pode encarar Goffin nas terceira fase, Basilashvili ou Pella nas oitavas e o vencedor da seção com Nishikori, Djere, De Minaur e Medvedev nas quartas. É um caminho bem acessível para Nadal, que escapou até de nomes fortes e perigosos que não são cabeças de chave, como Philipp Kohlschreiber, Pablo Cuevas, Nicolas Jarry, Cristian Garín, Grigor Dimitrov, Jo-Wilfried Tsonga, Richard Gasquet, Benoit Paire. Não que eu acredite que o #2 do mundo perderia para algum desses na primeira semana de torneio, mas seria um tipo de jogo diferente, com alguns perigos a mais. Diante de rivais de menor expressão, Nadal poderá calibrar melhor seus golpes, fazer testes e encontrar aquela sintonia fina na primeira semana de Roland Garros. O objetivo, afinal, é chegar voando na segunda semana.

Não dá para afirmar, porém, que o caminho de Novak Djokovic será tão mais difícil assim do que o de Nadal. Além da semi com Thiem, existe, no papel, a possibilidade de outros encontros duros. Um punhado deles. Só que entre o papel e a prática também existe uma distância considerável por enquanto. Nole pega Hurkacz na estreia. O polonês, lembremos, fez uma promissora sequência IW-Miami, onde bateu Nishikori, Shapovalov e Thiem, mas não foi tão bem no saibro. Na segunda rodada, o #1 pode encontrar Querrey, outro belo tenista sem campanhas boas no saibro este ano – jogou apenas em Houston, onde fez semi, perdendo para Garín. Na terceira fase, Simon e Munar estão no radar de Djokovic. O francês venceu um de cinco jogos desde Monte Carlo, e o espanhol, uma clara promessa, também teve resultados modestos no saibro europeu (R32 em Monte Carlo, R16 em Barcelona, estreia em Madri).

A coisa pode começar a esquentar para Nole nas oitavas, com um possível duelo com Borna Coric ou Denis Shapovalov. Nomes fortes. O croata, porém, já enfrentou Nole três vezes (duas no saibro) e nunca venceu um set. O canadense, por sua vez, só venceu dois de sete jogos no saibro. Seu momento de maior destaque veio nesta semana, em Lyon, quando teve uma crise de raiva, discutiu com o árbitro Carlos Ramos (logo quem!), sentou-se e disse que não jogaria mais até o supervisor (Lars Graf, logo quem x2!) chegar. Graf chegou com sua cara de oficial de operações especiais da Marinha sueca (sim, ele foi um oficial de operações especiais da Marinha sueca!), explicou a situação, e Shapovalov colocou o rabinho entre as pernas.

Por fim, nas quartas de final, os principais cabeças no caminho de Djokovic são Alexander Zverev e Fabio Fognini. O alemão, com problemas pessoais fora de quadra e um tênis decepcionante dentro dela, empilhou decepções na temporada de saibro e tenta resgatar um pouco de seu orgulho esta semana, onde está classificado para a final do ATP 250 de Genebra. Fognini é um poço inquestionável de talento, mas sua irregularidade o torna menos confiável em melhor de cinco sets. Numa seção com Seppi, Delbonis e Bautista Agut (o perigo silencioso da chave), não é nada improvável que Fabio fique pelo caminho antes de encontrar Nole.

O quadrante mais difícil

A posição de Dominic Thiem já não seria confortável porque como cabeça 4 ele encontraria Nadal ou Djokovic na semi de qualquer maneira. O sorteio, contudo, colocou mais dois obstáculos chatíssimos no quadrante do austríaco. O primeiro deles é Fernando Verdasco, que pode encontrar Thiem nas quartas. Vindo de oitavas em Madri (Tsitsipas) e quartas em Roma (Nadal), o ex-top 10 tem a seu favor um histórico favorável contra Thiem: quatro vitórias em quatro jogos. Nos últimos encontros, Verdasco aplicou 6/4 e 6/0 no Rio Open de 2018 e venceu por 4/6, 64 e 7/5 no recente Masters de Roma. Em um novo encontro, eu colocaria minhas fichas em Thiem, mas é sabido que o primeiro triunfo contra alguém que já lhe derrotou quatro vezes não vem tão fácil assim.

A outra possível pedra no caminho de Thiem é Juan Martín del Potro, que se recuperou de uma lesão no joelho e que estava meio esquecido até a semana de Roma, onde passou fisicamente bem por uma rodada dupla e teve até dois match points para eliminar Djokovic. O saibro não é lá o piso preferido do argentino, mas Delpo é outro com um histórico de 4 a 0 sobre Thiem – e isso inclui um jogo no saibro, em Madri/2016. Em uma seção acessível, onde os maiores nomes são Khachanov (3v e 5d no saibro), Pouille e Auger-Aliassime (3v e 4d até Roma), não é nada impossível que Del Potro chegue até esse duelo com Thiem nas quartas. E para passar o austríaco vai ter que quebrar outro tabu.

O que esperar de Roger Federer

Roger Federer adotou o discurso de que chega a Paris sem expectativa, sem pressão. Se ele acreditar nisso – como acreditou naquele Australian Open mágico de 2017 – perfeito, mas que ninguém se engane: não será nenhuma zebra se o suíço chegar às semifinais e encontrar Rafael Nadal. A chave coloca algumas cascas de banana, mas nenhum adversário que – pelo menos no papel – parece uma ameaça séria até pelo menos as quartas para o suíço.

A lista inclui Sonego na estreia, Jaziri ou Otte na segunda rodada e Berrettini/Andújar/Ruud/Gulbis na terceira. Para encarar Federer nas oitavas, os principais cabeças são Cecchinato e Schwartzman numa seção que têm ainda Kohlschreiber, Leo Mayer e Fucsovics. É claro que num dia ruim Federer pode ter problemas aí, mas o cenário mais provável é vê-lo passando por esse grupo até as quartas. Aí, sim, pode pintar Stefanos Tsitsipas, que vem em boa fase. Mas, mesmo assim, o grego pode ter que passar por Tiafoe na terceira rodada e um duelo de oitavas contra quem avançar da seção que tem Wawrinka, Cilic, Garín, Tipsarevic e Dimitrov.

Moral da história? Federer falar o quanto quiser que não é favorito, que entra sem expectativas e tudo mais, mas deve estar um tanto animado depois do sorteio. A chave dá boas chances a ele.

Quem corre por fora

Depois de três Masters 1.000 (Monte Carlo, Madri e Roma) e um forte ATP 500 (Barcelona), todo mundo já deu as caras, e os grandes favoritos estão bem claros. Há, no entanto, alguns nomes que podem ganhar confiança na primeira semana e, quem sabe, ir longe em Roland Garros. Stan Wawrinka, por exemplo, entra nessa lista. Mais pelo currículo do que pela forma recente, é verdade, mas o suíço, campeão do torneio em 2015, é o tipo de atleta que pode "pegar fogo" de um dia para o outro. Se isso acontecer, Tsitsipas e Federer que se cuidem.

Dá para incluir aqui também gente como Daniil Medvedev, que não terminou tão bem a sequência do saibro (R64 em Madri e Roma), mas somou triunfos sobre Tsitsipas e Djokovic em Monte Carlo e foi finalista em Barcelona. Com sua consistência, tudo é possível. Outros nomes interessantes – embora pareça muito 2009 dizer isso – são Fernando Verdasco e Gael Monfils, que podem se enfrentar já na terceira rodada. O espanhol, como citei anteriormente, tem a vantagem no histórico contra Thiem e se superar o austríaco novamente, a chave fica aberta, e as possibilidades são muitas. Monfils pode ter nesse encontro de terceira rodada um divisor de águas. Se passar, embalado pela torcida francesa, mudam completamente as expectativas. Tudo depende também de seu físico – e o mesmo vale para Kei Nishikori, que estaria mais cotado não fosse a fragilidade de seu corpo.

O perigo que ninguém está(va) vendo

Até Madri, ninguém dava nada por Juan Martín del Potro. O argentino, que sofreu uma fratura em Xangai, em outubro do ano passado, tentou um retorno às quadras em fevereiro, em Delray Beach, que não deu certo. Voltou a testar o joelho em Madri, onde perdeu na primeira rodada para Djere. E ninguém dava muito por ele até Roma. Na capital italiana, Delpo venceu Goffin, Ruud e quase eliminou Djokovic. Se sua direita não tivesse falhado no tie-break do segundo set, o panorama poderia ser outro agora. De qualquer modo, mesmo no saibro, piso que o argentino não gosta tanto, Del Potro precisa ser observado com atenção. Sua chave não é tão difícil assim e existe a chance de um encontro com Thiem nas quartas de final. E eu já escrevi que Delpo venceu todos seus quatro jogos contra o austríaco, certo?

Outro nome que vale colocar aqui, apesar de sua campanha nada empolgante no saibro europeu, é Roberto Bautista Agut, #21 do mundo e que soma duas vitórias sobre Djokovic este ano. Tudo bem, foram duas partidas em quadra dura, mas vale lembrar que RBA fez um jogo duríssimo com Djokovic em Roland Garros no ano passado (também com a ressalva de que aquele Nole não era "o" Nole). Apesar disso e de uma chave traiçoeira, difícil dizer até onde Bautista Agut pode chegar se passar pela terceira rodada, quando terá um possível encontro com Fabio Fognini. Depois disso, numa chave em que todos esperam um buraco deixado por Zverev, quem sabe não temos um terceiro jogo contra Djokovic este ano?

E por que não lembrar de Pablo Cuevas? O uruguaio despencou no ranking por causa de lesão e passou meio fora do radar do saibro europeu, já que não teve ranking para entrar nos Masters 1000, mas foi campeão de dois Challengers (Túnis e Aix En Provence), fez quartas no ATP de Budapeste e foi vice no ATP de Estoril. Já voltou ao top 50 e, no saibro, é sempre alguém a ser observado. Vejamos se ele chega à terceira rodada e encara Thiem.

O brasileiro

O Brasil correu o risco de ficar sem um tenista na chave principal pela primeira vez desde 1973, mas Thiago Monteiro furou o qualifying e manteve a sequência viva. Depois das três vitórias, o cearense foi recompensado com um sorteio bom. Ela vai estrear na chave principal contra Dusan Lajovic, um cabeça de chave que empolgou ao ser vice-campeão em Monte Carlo, mas só somou derrotas desde então (Leo Mayer, Djere e Tsonga). Ou seja, dentro das possibilidades para os qualifiers, Monteiro se deu bem.

E mais: se derrotar Lajovic, o brasileiro vai enfrentar o vencedor do jogo entre Norrie e Benchetrit. De repente, não ficou tão difícil assim imaginar Monteiro alcançando a terceira rodada de um slam. E se considerarmos que essa terceira rodada pode ser contra o cambaleante Zverev… Mas eu divago!

Fica aqui o registro de que Rogerinho, outro brasileiro no quali, perdeu na primeira rodada para o belga Kimmer Coppejans, o mesmo que liderou seu país na vitória em Uberlândia pela Copa Davis. Coppejans acabou furando o quali e vai estrear contra Maden, outro quali. Quem vencer deve enfrentar Rafael Nadal dois dias depois.

Os melhores jogos nos primeiros dias

Esta chave de Roland Garros não trouxe duelos bombásticos na primeira rodada, mas acredito que vale ficar de olho em Del Potro x Jarry (dois caras altos, talentosos e que batem forte na bola), Tipsarevic x Dimitrov (nem que seja pelos currículos), Shapovalov x Struff (chance de cabeça rolar), Zverev x Millman (na fase atual, vale olhar Zverev sempre) e Monfils x Daniel (até pelas fanfarronices, embora acho que pode mesmo ser um duelo interessante).

Onde ver

Os direitos de transmissão de TV para o Brasil são do Band Sports. Recomendo o pacote oferecido por Roland Garros exclusivamente para o Brasil. Por R$ 29,99, você tem acesso a todos os jogos ao vivo (juvenis, veteranos, cadeira de rodas, tudo mesmo!), além de vídeos de bastidores, reprise dos jogos, partidas históricas e muito mais. Expliquei como acessar o conteúdo no link do tweet abaixo.

O dinheiro

Roland Garros distribui um total de € 46.661.000 em prêmios – um aumento de 8% em relação ao dinheiro repartido em 2018. Os campeões de simples recebem € 2,3 milhões cada. Nas duplas, cada parceria campeã embolsa € 580 mil. Nas mistas, o prêmio é de € 122 mil para o time campeão.

Se você acha isso muito dinheiro, saiba que, segundo levantamento da Betway, Roland Garros arrecadou o equivalente a cerca de R$ 389 milhões só em bilheteria no ano passado. Leia mais no blog deles sobre as cifras que circulam pelo slam do saibro.

Curiosidade: embora o prêmio em dinheiro seja o mesmo para homens e mulheres, os preços dos ingressos para as finais masculina e feminina são bem diferentes. Enquanto o bilhete mais barato para a decisão delas custa € 100, o mesmo tíquete para o domingo da final masculina custa € 180.

Nas casas de apostas

As cotações refletem a maioria das previsões. Nadal, Djokovic e Thiem muito à frente do resto, com Tsitsipas e Federer atrás. Zverev talvez esteja com mais moral do que resultados, mas trata-se de um tenista com potencial enorme que pode, sim, ter aquele "estalo" e passar a jogar em nível mais alto. É o tipo de coisa que pode acontecer em um evento de duas semanas.

Só não me perguntem como o Chung apareceu nessa lista…

Aviso: como sempre, o guia da chave feminina vem no dia seguinte. Aguardem!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.