Topo

Saque e Voleio

Kyrgios solta o verbo: Verdasco arrogante, Nadal esquentado e Djokovic obcecado por ser amado

Alexandre Cossenza

15/05/2019 18h38

Dia de chuva em Roma, muita gente esperando sem nada pra fazer, era óbvio que surgiria alguma declaração interessante. No caso desta quarta-feira, o autor das frases foi Nick Kyrgios, que participou do podcast No Challenges Remaining, produzido por Ben Rothenberg e Courtney Nguyen. O australiano, que já alfinetou Rothenberg um punhado de vezes no Twitter, sentou-se com ele no torneio italiano para falar sobre um monte de coisas.

No programa, com quase uma hora de duração, o atual #36 do mundo soltou o verbo. Entre outras coisas, falou sobre seu comportamento, seu potencial e os polêmicos saques por baixo que ele fez virarem moda recentemente. Kyrgios também deu sua opinião sobre alguns dos nomes mais conhecidos do circuito masculino. Disse que Verdasco é arrogante e que Djokovic tem a necessidade de ser amado. E não foi só isso que ele falou sobre o sérvio… Ouçam o podcast no player abaixo, em inglês (ou leiam a transcrição da parte em que ele fala sobre os tenistas, em tradução livre, logo em seguida). Para quem quer conhecer o australiano, é um papo imperdível.

Sobre Thanasi Kokkinakis:

"É meu irmão. Eu acho que como a carreira dele se desenrolou… É muito triste para mim. Eu cresci jogando com ele desde os 12 anos, 14, 16 tipo… Estávamos meio que subindo juntos, e o que aconteceu com o corpo dele foi muito azar. É insano. Ele está em Belgrado agora, eu acho, se recuperando. Ele rompeu o músculo do peitoral três ou quatro vezes. É difícil dizer porque ele é muito bom. Ele tem um bom forehand, um grande saque… Ele mostrou isso quando bateu Federer um ano em Miami. Isso foi só uma amostra. Imagine se ele estivesse saudável…"

Sobre Fernando Verdasco:

"Ah, Verdasco me deixa maluco. Nem quero falar. Ele me irrita. Já estou com raiva agora só de ouvir esse nome. Ele é a pessoa mais arrogante de todos os tempos. Ele não diz 'oi', se acha tão bom, acha que é uma dádiva dos deuses. Cara, seu backhand é muito mediano e, sejamos honesto, você sabe bater na bola e tal, mas tipo… Caras assim me deixam louco. Não há humildade. Não há perspectiva. É tipo 'estou aqui, sou tão cool, sou incrível porque sei bater na bola, faz isso pra mim, não vou dizer oi pra você como se eu fosse muito importante'. Caras assim… Você entende onde quero chegar? Isso me mata!"

Sobre Andy Murray:

"Estou triste. Para mim, acho que sua carreira foi tipo… Eu sempre digo para ele que seu histórico contra Djokovic é embaraçoso. Eu disse na cara dele. Eu acho que ele é tão melhor que Novak. Já joguei contra os dois, acho que Andy devolve melhor, acho ele que é mais difícil de jogar contra, acho que seu saque é melhor… Eu já falei para ele 'Você deveria ter ganhado muito mais slams'. Mas, de novo, isso traz perguntas sobre os outros três caras. Murray esteve no topo do esporte por quatro-cinco anos, e seu corpo ficou totalmente arruinado. Não sei como os caras no topo estão conseguindo. Mas Murray preenchia todos requisitos. É só triste. É uma pena não vê-lo por aqui. No vestiário, ele era o melhor. Todo mundo era super amigável com ele, mas ele também tinha opiniões sobre algumas pessoas, e ele não tinha medo de dizer, o que eu gosto. Mas ele era muito divertido. O esporte perdeu um cara bom. Quando ele voltar, não vão importar os resultados. Você sabe que as pessoas vão dizer 'ah, ele não é o mesmo', mas não é questão disso. Só vê-lo de volta será importante, só vê-lo feliz." … "Se eu fosse técnico dele, ele teria vencido mais slams, com certeza."

Sobre Roger Federer:

"A primeira coisa que vem à mente é que ele é o maior de todos os tempos para mim. Acho que seu nível de talento é fora de série. Eu comentei um pouco no Australian Open este ano, estava vendo ele jogar contra o Fritz. Seu movimento, sua preparação, sua leitura de jogo… É imbatível. Sério, ele é tão talentoso… Eu meio que acho que muitos caras modelam seu jogo baseados nele. Acho que Tsitsipas com certeza se modelou assim, Dimitrov é uma versão espelhada, e acho que qualquer um que queira fazer um esporte quer ser como Federer. Até eu. Eu não poderia ser mais diferente, mas a maneira que eu faço o slice, e eu imito o saque dele. Todo mundo quer um pouco de Roger em seu jogo. Ele é tão talentoso, é com certeza o melhor."

Sobre Rafael Nadal:

"É perigoso, mas ele é o meu pólo oposto. E ele é super esquentado. Quando ele ganha, tudo bem. Ele não fala nada de ruim, dá crédito ao adversário, diz que o cara competiu bem, mas assim que eu ganhei dele, foi 'ele não tem respeito por mim e meus fãs, não respeita o jogo', e eu fico… Do que ele está falando? Eu literalmente joguei desse jeito quando ganhei dele as outras vezes, nada mudou. Nada mudou quando ele me ganhou aqui em Roma. Eu era a mesma pessoa." … "Aí o tio Toni aparece e diz 'ele não tem educação.' Eu fiz 12 anos de escola, idiota! Tenho muita educação. Entendo que ele esteja chateado que eu ganhei da família dele, mas tipo… Não vou ser o mesmo que Nadal. Eu sou muito diferente. Por que não podemos aceitar isso? Você sabe o que vai enfrentar quando entra na quadra. Não espere até perder um jogo para dizer o que acha… Quando eu digo algo quando perco para ele, não vai ter muita atenção, mas quando ele diz algo, é a única coisa que importa. E todo mundo diz 'ele deve estar certo, esse cara não deve ter educação, ele deve faltar com o respeito.' E você me pergunta por que eu faço as coisas, por que provoco fãs e o público, é por isso. Esses caras não me respeitam. Nenhum respeito. Então por que eu vou vou te mostrar respeito? Quando estou entregando um jogo, não ligo se pagaram pelo ingresso. Esses caras me tratam como lixo, entende? Enfim, Rafa me irrita também."

Sobre Novak Djokovic:

"Só acho que ele tem uma obsessão doentia por ser amado. Ele só quer ser amado como o Roger. Para mim, ele quer ser tão amado que eu não consigo suportar. Como a comemoração que ele faz no fim dos jogos, é vergonhosa. É muito vergonhosa. Ele é um campeão, um dos maiores que a gente vai ver. Honestamente, acho que ele vai bater o recorde de slams e ultrapassar o Federer." … "Estamos falando de um cara que desistiu do Australian Open uma vez porque estava quente demais. Não importa quando slams ele vença, ele nunca será o maior para mim. Simplesmente porque eu joguei contra ele duas vezes e, desculpa, se você não consegue ganhar de mim, não pode ser o maior da história. Se você olhar minha rotina do dia a dia e o quanto eu treino, isso é zero comparado a ele. Para mim, Federer sempre será o maior da história. O que ele fez em todas as superfícies… O que Rafa fez também é assustador. Ele ganhou não-sei-quantos Roland Garros, 11 ou sei lá quantos, mas adaptou seu jogo para a grama, o que é louco. Mas Djokovic me incomoda. Ele sempre diz o que ele acha que precisa dizer, nunca dá sua opinião. Não sei." … "A comemoração me mata. Honestamente, vou fazer isso da próxima vez. Se eu jogar contra ele e vencê-lo, vou fazer a comemoração na frente dele. Vai ser hilário, certo?"

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.