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Saque e Voleio

O maior equilíbrio da terra

Alexandre Cossenza

13/05/2019 04h00

Fazia algum tempo que o tênis masculino não via um cenário tão equilibrado e com tantos postulantes ao título de Roland Garros quanto nesta temporada de 2019. Talvez 2004, quando Federer era número 1 e campeão de Hamburgo; Coria foi campeão em Monte Carlo; Moyá era #5 e campeão de Roma; Nalbandian era uma ameaça constante; Juan Carlos Ferrero defendia o título, embora em má fase; e Gustavo Kuerten ainda representava alguma ameaça – embora muito mais pelo currículo do que pelos resultados naquele ano.

Desde então, vivemos períodos com dois – no máximo, três – reais postulantes ao título e um punhado de azarões. A temporada 2019, contudo, vem diferente – bem diferente. A começar pelo atípico momento de Rafael Nadal. Seja por questões físicas, por falta de confiança ou por um simples momento ruim (isso será tema de debate em outro post), o espanhol chega a Roma sem um título na terra batida. Somou derrotas em Monte Carlo (Fognini), Barcelona (Thiem) e Madri (Tsitsipas). Ótimos adversários, mas uma sequência incomum para quem venceu tanto por tanto tempo no piso.

Fabio Fognini mostrou força não só para superar Nadal, mas para também conquistar o título do torneio monegasco. Dominic Thiem, por sua vez, foi impecável em Barcelona, levantando o troféu sem perder um set. Depois, bateu Federer em Madri. No torneio espanhol, quem também apareceu bem foi Stefanos Tsitsipas. Vindo de um título em Estoril, onde bateu Goffin e Cuevas, o grego somou triunfos sobre Verdasco, Alexander Zverev e Rafa Nadal.

Tsitsipas só foi freado por… Novak Djokovic. Sim, o número 1 do mundo e campeão do Australian Open pouco fez em Indian Wells (R32, Kohlschreiber), Miami (oitavas, Bautista Agut) e Monte Carlo (quartas, Medvedev), mas apareceu em grande forma na Caja Mágica, onde derrubou Thiem numa excelente semifinal e bateu Tsitsipas por 6/3 e 6/4 na decisão. É justo imaginar que o líder do ranking será candidatíssimo em Roland Garros.

Se considerarmos que Roger Federer nunca pode ser excluído da lista de candidatos a um slam; que Alexander Zverev, apesar dos resultados recentes, tem um potencial enorme; que Stan Wawrinka, aquém de seu melhor tênis, é perigosíssimo; e que há um punhado de tenistas perigosos no saibro (Medvedev, Garín, Munar, Schwartzman, Cecchinato, Cuevas, etc.), o cenário para as próximas quatro semanas é interessantíssimo.

Por enquanto, as casas de apostas ainda colocam Rafael Nadal como mais cotado ao título. É compreensível. O espanhol vem melhorando desde Monte Carlo e ainda terá um par de semanas para calibrar seus golpes. Não havendo uma lesão, é bem provável que Rafa chegue a Roland Garros em melhor forma. Além disso, ele deve ter a primeira semana do slam francês para deixar seu tênis ainda mais afiado antes dos "jogos grandes".

É também justo que Djokovic e Thiem estejam com cotações parecidas. Os dois duelaram uma vez no saibro, e o sérvio venceu em dois tie-breaks em condições mais rápidas e mais propícias para seu tênis – em comparação com o do austríaco. Madri tem altitude de cerca de 700m e quadras temporárias, onde o quique da bola é menos regular. Logo, boas devoluções e swings mais curtos levam vantagem.

O circuito agora ruma para Roma, onde as condições de jogo são mais parecidas com as de Roland Garros. Mais uma semana para Rafael Nadal buscar sua melhor versão saibrista, para Roger Federer ganhar mais tempo de jogo na terra antes de Paris, pra todo mundo mostrar o que tem a oferecer e, enfim, para o cenário ficar o mais claro possível.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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