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Saque e Voleio

Derrota para Eslováquia na Fed Cup reflete grande distância do Brasil para a elite

Alexandre Cossenza

21/04/2019 10h10

No primeiro dia, foram quatro sets jogados e quatro sets perdidos. Nenhuma drama, nenhuma surpresa. Primeiro, Carol Meligeni, #354 do mundo, foi dominada por Dominika Cibulkova, uma ex-top 10, finalista de slam e atual #33: 6/1 e 6/1. A diferença era enorme, e a tenista da casa poderia muito bem ter saído de quadra sem perder nenhum game.

Depois, Beatriz Haddad Maia, #124, mal incomodou Viktoria Kuzmova, #45, que fez 6/3 e 6/3 em 1h29min de jogo. Outro resultado que não espanta, considerando que Kuzmova atuou em casa, em quadra indoor, e que a brasileira não teve a preparação ideal para o confronto, chegando apenas na quarta-feira em Bratislava.

A grande disparidade notou-se mesmo na postura das tenistas. Carol, contra uma rival alguns níveis acima do seu, passou a maior pate do tempo correndo de um lado para o outro, levantando a bola e tentando alongar os pontos, esperando, quem sabe, um erro da veterana. Terminou somando apenas dois winners, contra 18 de Cilbukova.

Bia tem peso de bola para jogar de igual para igual com Kuzmova, mas também passou a maior parte do tempo reagindo. A jovem de 20 anos – dois a menos que a paulista – agrediu o tempo inteiro, enquanto a brasileira adotava uma postura conservadora, algo até fora de sua característica. Não deu certo. Kuzmova terminou a partida com 25 winners, contra dois de Bia.

Neste domingo, um jogo com duas metades distintas – ambas vencidas por Cilbulkova 7/6(3) e 6/0. Um primeiro set parelho, com Bia Haddad Maia atuando muito bem, mas novamente perdendo o serviço quando sacava para um set (aconteceu seguidas vezes em Bogotá, na semana passada), e uma segunda parcial com a brasileira caindo de nível, enquanto a veterana se manteve fortíssima e disparou no placar. A brasileira terminou o encontro somando 15 winners e 41 erros não forçados.

Decepção? Nem um pouco. Vexame? Muito menos. Embora o Brasil tivesse uma chance, seria necessário um pequeno milagre para triunfar em Bratislava. No cenário menos improvável, seriam necessárias duas vitórias de Bia nas simples e uma zebra nas duplas, na quinta partida. Com a paulista chegando na quarta-feira e menos adaptada às condições do que as tenistas da casa, ficou ainda mais difícil. O resultado foi mesmo o mais provável.

Se há algo a ser constatado deste par de jornadas em Bratislava, é a grande distância do Brasil – e da América do Sul – para a elite do tênis feminino. Diante de um time com duas top 50 em quadra (e mais uma top 100 no banco) e que poderia muito bem estar na primeira divisão, pouco deu para fazer.

Bia tem potencial para evoluir (e talvez já estivesse um nível acima não fossem as lesões) e pode levar o time nas costas, mas só até certo ponto. Precisará jogar melhor e com mais consistência, especialmente sob pressão. Carol, por sua vez, foi excelente no zonal, mas não é, hoje, a número 2 que o Brasil precisaria para entrar na segunda divisão.

Coisas que eu acho que acho:

– Para deixar claro: não cabe culpar Carol Meligeni por não ser a número 2 que o Brasil precisaria. A grande questão é "por que o Brasil não consegue produzir mais tenistas mulheres que joguem num nível perto da elite?" Para a maioria, hoje, o top 100 ainda é um sonho distante.

– Infelizmente, o Brasil nunca contou com Teliana Pereira e Bia Haddad Maia juntas e jogando bem na Fed Cup. Com as duas jogando seu melhor, seria possível pensar seriamente em subir para a segunda divisão.

– É uma pena ver uma delegação jogar um playoff de Grupo Mundial sem conseguir vestir todos iguais. Em mais de uma foto, integrantes do time usavam uniformes diferentes. Fica feio, CBT.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.