Topo

Saque e Voleio

Dominic Thiem: campeão de Indian Wells e (desta vez) enorme nos pontos grandes

Alexandre Cossenza

18/03/2019 07h00

Se houve um momento em Dominic Thiem sentiu algum tipo de peso na final deste domingo contra Roger Federer, foi na hora de levantar o troféu de Indian Wells (vejam no vídeo abaixo). O austríaco, que entrou no torneio como #8 do mundo e agora é o quarto colocado na lista da ATP – a melhor posição de sua carreira – foi enorme ao anotar uma vitória de virada sobre o suíço com parciais de 3/6, 6/3 e 7/5. E brilhou especialmente quando mais precisou: nos momentos delicados do terceiro set.

Duas situações em especial foram decisivas. A primeira delas aconteceu quando o austríaco teve o serviço em 3/4 na parcial decisiva. Precisou sacar em 0/30 e viu-se com o ponto quase perdido. Federer tinha o controle e uma bola em sua direita para definir a disputa. Atacou o backhand de Thiem, que se defendeu como pôde. O suíço teve outra direita nada complicada – com o rival desequilibrado – para encerrar o ponto. Buscou ângulo e mandou para fora. Não foi só isso. Thiem ainda mandou uma direita vencedora na linha no ponto seguinte e subiu à rede com coragem para salvar um break point quando o placar mostrava 30/40.

Com Federer sacando antes (e bem) no set, a pressão era toda sobre o jovem de 25 anos. O que Thiem podia fazer era se segurar e esperar uma chance, um escorregão do oponente. A chance veio no 11º game, e Thiem a agarrou com força. Primeiro, com Federer sacando em 30/15, o austríaco chegou numa curta e fez um lindo (e difícil) winner angulado. O ex-número 1 apostou em nova curta no ponto seguinte (esta não tão bem executada), e Thiem chegou de novo para ganhar o ponto.

Break point. Seu primeiro no terceiro set. Uma chance rara no serviço de um dos melhores sacadores do circuito. A quebra significaria sacar em 6/5 para fechar o jogo e conquistar seu primeiro título em um Masters 1.000. Vencer lhe daria o melhor ranking da carreira. Havia muito em jogo. Pois Thiem mal piscou. Encaixou uma devolução de backhand no pé do suíço e aproveitou a bola curta na sequência para acionar o forehand-canhão. Duas bolas, ponto ganho, chance aproveitada. Alguns minutos depois, o árbitro Mohamed Lahyani dizia "Game, set, match, Thiem".

Situações diferentes, adversários diferentes, mas um fim de jogo que contrasta fortemente com o Thiem que fez uma partidaça, mas falhou em momentos decisivos contra Rafael Nadal no US Open do ano passado. Naquele jogo, o austríaco sacou para fechar o terceiro set e abrir 2 a 1, mas não aproveitou. Mais tarde, no quinto set, errou aquele inesquecível smash no 5/6 do tie-break. Neste domingo, em Indian Wells, Thiem teve menos chances e, numa melhor de três, menos margem para erro. Não bobeou. Foi superior justamente quando mais precisou.

Dominic Thiem pode não ter sido precoce como Alexander Zverev ou outros adolescentes da chamada #NextGen, mas seu tênis vem amadurecendo e evoluindo constantemente. Em 2016, conquistou seu primeiro ATP 500 (Acapulco, quadra dura). Em 2017, fez sua primeira final de Masters 1000 (Madri). Em 2018, decidiu um slam (Roland Garros). Agora venceu seu primeiro Masters e subiu para o quarto posto do ranking. É sempre duro prever até onde alguém vai chegar, mas um jovem de 25 anos que tem um preparo físico invejável, uma ética de trabalho rara e um jogo que só faz encorpar só pode ter um futuro mais e mais vencedor.

Coisas que eu acho que acho:

– As estatísticas registraram que Federer converteu apenas dois de 11 break points no jogo. Quem lê isso acha que o suíço perdeu muitas e muitas chances. Nem tanto. Dos nove break points perdidos, seis foram ainda no primeiro set, que ele venceu. Depois disso, suas chances nem foram tantas nem tão óbvias. Roger teve dois break points no segundo set (errou uma devolução de backhand em um primeiro serviço de Thiem e mandou uma esquerda paralela na rede em um rali) e só um no terceiro (jogou um backhand na rede com Thiem subindo).

– Entre outras tantas coisas que Thiem fez muito bem no domingo, vale destaque para as devoluções. Às vezes mais perto da rede, às vezes lá do fundão (mais no segundo saque), não deixou Federer sacar com a confiança de sempre. O suíço terminou o jogo com apenas três aces. Além disso, Thiem ganhou dois pontos cruciais devolvendo de lá do fundo precisamente no game em que quebrou o veterano no segundo set.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.