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DNA esportivo, carisma e solidão: 24 curiosidades do grego que bateu Federer e é surpresa na Austrália

Alexandre Cossenza

23/01/2019 12h00

A sensação da chave masculina do Australian Open tem nome e sobrenome: Stefanos Tsitsipas. O jovem de 20 anos, atual #15 do mundo, já começou o torneio com o apoio da enorme e barulhenta comunidade grega de Melbourne e, ao longo da primeira semana, ganhou fãs. Mostrou um tênis agressivo, saboroso de ver, mas também levou para a quadra carisma, alegria, charme e simpatia. Também teve seus momentos de nervosismo, mas chamou a atenção do mundo ao fazer uma partida espetacular e eliminar Roger Federer na maior zebra do torneio e agora vai encarar Rafael Nadal nas semifinais.

Mas quem é Stefanos Tsitsipas? Este post traz um pouquinho de sua personalidade e de sua trajetória no tênis. Role a página e conheça mais o garotão que vai voltar à quadra nesta quinta-feira (não antes das 6h30min de Brasília – ESPN mostra ao vivo) em busca de uma vaga na final do primeiro slam de 2019.

1. DNA de atleta: a mãe de Tsitsipas, Julia, nasceu em Moscou e foi tenista profissional pela União Soviética. O pai, Apostolos, é técnico de tênis. Os dois trabalhavam como técnicos de tênis em um resort perto de onde moravam, e foi assim que o pequeno Stefanos começou a se interessar pelo esporte.

2. Medalha na família: o avô de Stefanos por parte de mãe, Sergei Salnikov, foi jogador e técnico de futebol profissional. Sergei fez parte da seleção da União Soviética que conquistou a medalha de ouro no futebol nos Jogos Olímpicos de 1956 – realizados justamente em Melbourne, onde o neto brilha atualmente.

3. Família presente: até hoje, pai e mãe de Stefanos acompanham o filho em grandes torneios. Os dois, claro, estão em Melbourne.

4. Sucesso como juvenil: Tsitsipas alcançou o posto de número 1 do mundo no ranking juvenil em 23 de maio de 2016, quando tinha 17 anos.

5. Nenhum slam em simples: apesar do ranking e de se colocar como juvenil de destaque, Tsitsipas não conseguiu vencer nenhum dos quatro maiores torneios naquela faixa etária. Suas melhores campanhas aconteceram no US Open e em Wimbledon, ambos em 2016, chegando às semifinais. Ele também fez quartas de final em Roland Garros/2016, Australian Open/2016 e Australian Open/2015. Em duplas, sim, Tsitsipas foi campeão de Wimbledon.

6. Ultrapassando os rivais: as cinco campanhas acima terminaram, respectivamente, com derrotas para Felix Auger-Aliassime, Denis Shapovalov, Denis Shapovalov (de novo), Alex De Minaur e Jurabek Karimov. Hoje, entre os profissionais, Tsitsipas está mais bem ranqueado que todos eles. Shapo é o #27 do mundo, De Minaur é o #29, Auger-Aliassime é o #106.

7. Perto da morte: durante um torneio da série Future em Heraklion, na ilha de Creta, Grécia, Tsitsipas e una amigos aproveitaram um dia de folga para nadar no Mediterrâneo. Ele e um amigo não perceberam que o mar estava tão agitado e, de repente, estavam loge da praia e sendo cobertos por ondas a cada dois segundos. Tsitsipas conta que estava lentamente se afogando e que estava perto de morrer. Seu pai entrou no mar e nadou junto com o filho e o amigo até uma pedra, onde eles conseguiram ficar de pé e recuperar o fôlego. Algum tempo depois, conseguiram voltar à praia. O relato está no vídeo abaixo, produzido pela ATP.

8. Mudança de mentalidade: Tsitsipas conta que a sensação de estar perto da morte fez mudar sua visão sobre as coisas. "Senti absolutamente zero medo dentro de quadra. Aquele dia me mudou."

9. A primeira chave: Tsitsipas fez sua estreia em uma chave principal de slam em 2017, em Roland Garros. Depois de passar pelo qualifying, ele acabou derrotado pelo croata Ivo Karlovic por 7/6(5), 7/5 e 6/4. O grego tinha 18 anos na época.

10. Aula grátis com Nadal: Tsitsipas vai enfrentar o #2 do mundo em uma das semifinais do Australian Open e ninguém duvida que o grego terá suas chances de sair com a vitória. Entretanto, quando os dois se encontraram pela primeira vez, no ATP 500 de Barcelona/2018, Tsitsipas disse que seria "uma aula grátis de Rafa no saibro". O espanhol soube da declaração e riu: "Se ele me deixar dar [a aula], darei feliz." O placar final mostrou 6/1 e 6/2 para o 11 vezes campeão de Roland Garros.

11. Ascensão rápida: Tsitsipas pode não ter sido aquele tenista que saiu direto do juvenil para brigar com os grandes no profissional, mas seu salto em 2018 foi considerável. Em seu primeiro torneio na última temporada, o grego ocupava o 91º posto. No último, o ATP Next Gen Finals, já era o 15º. Em 2018, Tsitsipas venceu seu primeiro ATP 250 (Estocolmo), fez uma final de ATP 500 (Barcelona) e decidiu um Masters 1000 (Canadá).

12. Comparado a Guga: cabelão, carisma e backhand de uma só mão são características em comum entre o jovem grego e Gustavo Kuerten. O catarinense afirma que o jogo agressivo de Tsitsipas lembra o seu: "Vi que ele tem um estilo agressivo, pega bola na frente, atacando e encurtando os espaços da quadra. Lembra o meu jeito de jogar", disse em reportagem de Thiago Quintella.

13. Vitórias sobre Djokovic e Federer: em sua curta carreira, Tsitsipas já pode se orgulhar de somar vitórias sobre Novak Djokovic e Roger Federer. O triunfo sobre o sérvio aconteceu no Masters 1000 do Canadá, no ano passado, por 6/3, 6/7(5) e 6/3. Foi o único jogo entre eles.

14. "Visionário": aos 13 anos, o adolescente Tsitsipas deu a entrevista abaixo e, quando indagado sobre onde estaria em dez anos, respondeu: "Não sei, mas farei meu melhor para estar no topo". Ele ainda tem três anos para chegar a #1 e confirmar sua "previsão".

15. "Visionário", parte II: após derrotar Roberto Bautista Agut e conquistar uma vaga nas semifinais do Australian Open, Tsitsipas contou que sua meta para 2019 era jogar uma semifinal de slam. "Parece quase um conto de fadas. Estou vivendo o sonho. Eu estou emocionado, mas não emocionado demais porque trabalhei muito para chegar até aqui. Quando comecei o ano, perguntaram qual era o meu objetivo, e eu disse que era chegar à semi de um slam. Quando eu respondi, parecia que eu era louco, mas é real. Acaba de acontecer." Veja no vídeo do tweet abaixo.

16. Levaria Federer para uma ilha deserta: em uma entrevista no Challenger de Portoroz (Eslovênia), em 2017, perguntaram a Tsitsipas que três coisas ele levaria para uma ilha deserta. O grego respondeu "Roger Federer, minha raquete e algumas bolas de tênis." O grego, aliás, nunca escondeu que o tenista suíço sempre foi seu grande ídolo no tênis.

17. Paixão pelo tênis agressivo: depois de derrotar o ídolo em Melbourne, Tsitsipas falou sobre seu estilo de jogo e adotou um tom até romântico ao comentar as subidas à rede e o jogo de saque-e-voleio: "Acredito que ir à rede e ser agressivo… Pegar a bola na subida e, como você disse, ir à rede… Temos que manter isso vivo. A maioria dos jogadores nesta era do esporte são jogadores de linha de base. Eu gosto muito desse jogo agressivo, de ir à rede, de fazer saque-e-voleio de tempos em tempos. Isso mantém o esporte vivo e torna o tênis muito mais interessante", disse, em entrevista a John McEnroe.

18. Carisma: sorrisos, comemorações e, especialmente, uma maneira única de agradecer ao público após as vitórias. Tsitsipas costuma apontar para si mesmo, fazer um gesto negativo e apontar para o público. É seu jeito de dizer que é a torcida que merece aplausos. O rapaz sabe cativar uma plateia…

19. Nunca foi santo: queridinho do público nas vitórias, Tsitsipas não esconde sua raiva nos momentos ruins. No fim do ano passado, duas cenas ficaram marcadas. Em uma, foi pouco simpático com uma boleira que lhe ajudava a tirar o plástico de sua raquete.

20. Nunca foi santo, parte II: a outra cena aconteceu no ATP Next Gen Finals, quando Tsitsipas destruiu o fone de ouvido que o torneio disponibilizava para comunicação entre jogadores e seus técnicos.

21. Talento na tela: Tsitsipas gosta de criar. Pode ser na busca por uma foto perfeita ou na produção de um vídeo para seu canal no YouTube. Ele mesmo faz os roteiros, dirige, atua, filma e edita. Em entrevista ao New York Times, disse que "é como um plano B para mim. Se as coisas não derem certo no começo do torneio, eu talvez filme ou faça um vídeo na cidade. Mas se eu continuar vencendo, vou tentar esquecer isso." Não por acaso, o canal do grego não tem vídeos novos desde o começo do Australian Open.

22. Solidão: Tsitsipas gosta de passar tempo sozinho. Na mesma entrevista ao NY Times linkada acima, o técnico Patrick Mouratoglou, que também treina Serena Williams, revelou que nunca viu alguém passar tanto tempo sozinho. "Ele também tem relacionamentos normais, mas vive bastante consigo mesmo, com suas coisas, em seu mundo. Esse canal é muito sobre isso. Ele ama fazer isso e passa tanto tempo filmando e editando, que vejo como algo legal porque é criativo."

23. Obrigado a apagar vídeo: recentemente, Tsitsipas foi obrigado a apagar um vídeo feito com drone durante o ATP de Sydney. Em Melbourne, ele explicou o que aconteceu: "Eu tive que apagá-lo por alguns motivos. Eu soube [depois] que as imagens de Sydney não eram permitidas. Não é permitido usar drones lá. Para não ter problemas, preferi não deixar esse vídeo no ar. Mas era um vídeo muito legal. Levei horas para fazê-lo. Na verdade, ficou espetacular. Era legal de ver."

24. Instagram "secreto": além de sua conta "normal" no Instagram, onde tem 630 mil seguidores, Tsitsipas mantém uma conta com o pseudônimo de Steve The Hawk, onde publica fotos, digamos, diferentes.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.